Anais: Geotecnologias e mapeamento geomorfológico

COMPARTIMENTAÇÃO DO RELEVO DA REGIÃO COSTA DO DESCOBRIMENTO (BAHIA)

AUTORES
Amorim, R.R. (UFF)

RESUMO
O objetivo deste trabalho é a elaboração do mapa de Compartimentação do Relevo da Região Costa do Descobrimento, adotando os três primeiros níveis taxionômicos: Domínios Morfoestruturais, Domínios Morfoesculturais e Formas Semelhantes Predominantes, nos quais destacam-se: formas de acumulação fluvial, fluviomarinha e marinha nos Depósitos Sedimentares Quaternários; os tabuleiros costeiros nos Depósitos Sedimentares Terciários e as colinas e morros nos Maciços Cristalinos Proterozóicos.

PALAVRAS CHAVES
Geomorfologia; Mapeamento Geomorfológico; Geotecnologias

ABSTRACT
The aim of this work is to elaborate a map of Relief Fragmentation of Discovery Coast (Costa do Descobrimento) Region, which uses the first three taxonomic levels: Morphostructural Domains, Morphosculptural Domains and Similar Prevailing Features, in which the fluvial, fluvial-marine and marine accumulation features are highlighted in Quaternary Sedimentary Deposits; coastal board at Tertiary Sedimentary Deposits, and mount and hill areas at the Proterozoic Crystalline Massif.

KEYWORDS
Geomorphology; Geomorphological Mapping; Geotechnologies

INTRODUÇÃO
As paisagens costeiras exibem grande complexidade, pois derivam da influência mútua de processos continentais e oceânicos. Tendo tal complexidade, é necessário analisar os processos morfogenéticos atuantes nas paisagens costeiras numa visão geossistêmica (AMORIM e OLIVEIRA, 2009). As diferentes feições morfológicas encontradas no litoral brasileiro apresentam influências dos aspectos geológicos, climáticos, hidrológicos, oceanográficos, biogeográficos e pedológicos, o que não possibilita um estudo dos Compartimentos de Relevo sem estabelecer uma relação sistêmica. Para Ross e Moroz (1997), as formas diferenciadas de relevo decorrem da atuação simultânea e desigual das atividades climáticas e da estrutura da litosfera, que apresentam modificações na sua dinâmica ao longo das diferentes Eras Geológicas. Estes elementos nos permite considerar que o relevo, como os demais componentes naturais são dinâmicos e, portanto em constante estado de evolução. As forças que agem sobre o relevo possuem duas naturezas distintas, podendo ser endógenas ou exógenas. Tendo o exposto, o objetivo deste trabalho é apresentar o Mapa de Compartimentos do Relevo da Região Costa do Descobrimento (Bahia), na escala 1:100.000 onde observa-se a relação entre os aspectos estruturais e a dinâmica climática na configuração do modelado.

MATERIAL E MÉTODOS
Para atender aos objetivos propostos, o trabalho foi dividido em três etapas: (a) inventário dos atributos naturais; (b) interpretação de imagens de satélite ASTER 1B do ano de 2008; (c) realização de trabalhos de campo para calibrar tais informações. Na primeira etapa realizou-se um inventário de dados topográficos que foram interpolados para gerar as Cartas Hipsométrica e de Classes de Declividade (SUDENE, 1977), além da organização das Cartas Geológica (CPRM, 2000 e CBPM, 2000), Pedológica (SEI, 2004), Rede de Drenagem e Linha de Costa (CBPM, 2000) e Cobertura vegetal natural (SEI, 2008). Tais documentos cartográficos foram organizados com uso do Software ArcGIS 9.3. Na segunda etapa, imagens ASTER 1B adquiridas pelo Núcleo de Estudos Ambientais e Litorâneos da Unicamp foram tratadas, processadas no software Envi 4.5. Articulando a interpretação de tais imagens e somando aos dados inventariados dos atributos físicos naturais, possibilitou-se a Compartimentação do Relevo. Na ultima etapa, foram realizados trabalhos de campo com objetivo de calibrar o Mapa e realizar o registro fotográfico de cada uma das formas de relevo predominantes em cada compartimento mapeado.

RESULTADOS E DISCUSSÃO
Nos Compartimentos de Relevo possibilitou individualizar três Domínios Morfoestruturais: Depósitos Sedimentares Quartenários (DSQ), Depósitos Sedimentares Terciários (DST) e Maciços Cristalinos Proterozóicos (MCP). Nos DSQ encontra-se a Planícies Costeira, constituídas por depósitos marinhos transicionais, origem continental e recifes de coral e ocupa as áreas mais baixas da zona costeira, bordejando a linha de costa e adentrando os grandes vales escavados nos Tabuleiros Costeiros. Essa é subdividida em três áreas com formas derivadas de processos deposicionais, decorrentes da ação fluvial, marinha e de processos conjuntos da ação fluvial e marinha. As Planícies Fluviais correspondem a áreas planas ou levemente inclinadas contendo sedimentos de textura, permeabilidade e coesão variáveis. Essas abrangem uma área de 1.092,387 km² (15% da área). Os Terraços Marinhos apresentam área de 240,00 km², (3,5% da área) divididos em Holocênicos e Pleistocênicos. Os primeiros estão situados entre 4,5 e 5 m. Tais Terraços podem fazer limite com os TM Pleistocênicos ou acham-se separados destes por zonas deprimidas, antigamente lagunares. Os TM Pleistocênicos, situados entre 6 e 8 metros, tem sua origem marinha assegurada pela presença de tubos fossilizados de Callichirus, cuja zona de vida, no caso da espécie encontrada (Callichirus major), corresponde à zona da maré baixa. Esta origem é também confirmada por estruturas sedimentares singenéticas, tais como as estratificações cruzadas de baixo ângulo e espinha- de-peixe. Não foram encontradas conchas de moluscos preservadas nesses sedimentos, em consequência da dissolução dessas pelos ácidos húmicos (SUGUIO e MARTIN, 1976). As Planícies Fluviomarinhas (Afm) correspondem às acumulações de origem Fluviomarinha que compõem as feições morfológicas características da faixa litorânea e que englobam os Complexos Deltaicos e Estuarinos, em algumas áreas mantendo contato direto com falésias. A ação das ondas, correntes e marés provocam uma intensa abrasão e inundações nas áreas deltaicas (BRASIL, 1987). As Afm correspondem a 64,751 km². (cerca de 1% da área). Nos DST, a feição geomorfológica predominante são os Tabuleiros Costeiros. Estes são as áreas emissoras de matéria e energia, pois a maior parte dos canais de primeira ordem nasce nos topos planos dos Tabuleiros, e também nas áreas transmissoras de matéria e energia, pois os sedimentos do Grupo Barreiras (Tb) depositam-se nos fundo de vale, na porção interior, e na linha de costa, nas áreas de falésias ativas. Corresponde a 5.029,339 km² (quase 67% da área). Os Tabuleiros Costeiros coincidem com os sedimentos do Tb, constituídos de areias e argilas variadas com eventuais linhas de pedra, dispostas em camadas com espessura variável de conformidade com as ondulações do substrato rochoso, que ocasionalmente afloram influenciando nas formas do modelado (TRICART e SILVA, 1968). Nos MCP as formas predominantes neste complexo litológico são as colinas e os morrotes, que fazem limite com áreas serranas e com vales escavados pela ação da drenagem, onde, por consequência da dissecação do modelado, ocorrem afloramentos nas escarpas e nos fundos de vale. As encostas mostram-se geralmente convexas, apresentando declividades em torno de 2 a 11%, acusando índices mais fortes em torno de 24% e até áreas mais elevadas, onde os entalhes são mais profundos. Entremeando-se a estas feições, ocorrem formas aguçadas, resultantes de dissecação diferencial, relacionadas às rochas do embasamento, que ocasionalmente afloram em alguns trechos próximos das drenagens e nos pontões, linhas de cumeadas e cristas, que se destacam das elevações residuais. Sua origem deve-se provavelmente à remobilização do material de alteração das rochas do embasamento, cuja deposição é supostamente anterior ao escavamento dos vales, constituindo ainda colúvios de cor avermelhada sobre a rocha alterada, apresentando geralmente linhas de seixos na base. (BRASIL, 1987).

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Na área, predominam as feições de relevo vinculadas aos DST, que nos topos apresentam feições aplainadas com declividades inferiores a 2%, intercalados por vales encaixados. A presença de paleofalésias diretamente associadas aos Terraços Marinhos apresentam em suas escarpas ravinas e voçorocas. Em Prado e Porto Seguro, as falésias evidenciam os processos de solapamento de base associados a ação marinha. Nas planícies é possível identificar a ação antropogênica na morfologia dos canais, como no caso do baixo curso do Rio Jequitinhonha. A retificação do canal deu-se em 1989, ocasionando alterações na sua morfologia à jusante, que foi constatada com a interpretação das fotografias aéreas de 1974 e das imagens de satélite de 2008. Outra evidencia é a presença de bancos de areia decorrentes do assoreamento dos canais. Nas áreas de morros e colinas, a cobertura vegetal natural foi substituída por culturas e pastagens, o que desencadeou processos erosivos laminares.

AGRADECIMENTOS
Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP)

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICA
AMORIM, R. R.; OLIVEIRA, R. C. Análise Geoambiental dos setores de encosta da área urbana de São Vicente-SP. Sociedade e Natureza. Ano 19, n. 37. 19-40p. 2007.

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ROSS, J. L. S. O Registro Cartográfico dos Fatos Geomórficos e a Questão da Taxonomia do Relevo. In: Revista do Departamento de Geografia. n° 06, FFLCH/USP. São Paulo, 1992

ROSS, J.L.S. ; MOROZ I. C.. Mapas geomorfológicos do estado de São Paulo. 1997.

SEI. Superintendência de Estudos Econômicos e Sociais da Bahia. Mapas digitalizados do Estado da Bahia: base de dados. Salvador: SEI, 2004. (CD-ROM).

SEI. Superintendência de Estudos Econômicos e Sociais da Bahia. Uso e ocupação das Terras das bacias do Jequitinhonha e Extremo Sul da Bahia. Salvador: SEI, 2008. (CD-ROM).

SUDENE. Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste. Folha Santo André (SG 23-V-A-III-2). Bahia, SUDENE, 1977. Escala 1:100.000.

SUDENE. Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste. Folha Canavieiras (SD-24-Z-C-IV). Bahia, SUDENE, 1977. Escala 1:100.000.

SUDENE. Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste. Folha Guaratinga (SE-24-VB-V). Bahia, SUDENE, 1977. Escala 1:100.000.

SUDENE. Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste. Folha Itamaraju (SE-24-VD-II). Bahia, SUDENE, 1977. Escala 1:100.000.

SUDENE. Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste. Folha Mascote (SD-24-Y-DVI). Bahia, SUDENE, 1977. Escala 1:100.000.

SUDENE. Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste. Folha Monte Pascoal (SE-24-V-B-VI). Bahia, SUDENE, 1977. Escala 1:100.000.

SUDENE. Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste. Folha Porto Seguro (SE-24-V-B-III). Bahia, SUDENE, 1977. Escala 1:100.000.

SUDENE. Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste. Folha Potiraguá (SD-24-YD-V2). Bahia, SUDENE, 1977. Escala 1:100.000.

SUDENE. Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste. Folha Prado (SE-24-V-DIII). Bahia, SUDENE, 1977. Escala 1:100.000.

SUDENE. Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste. Folha Salto da Divisa (SE-24-V-B-II). Bahia, SUDENE, 1977. Escala 1:100.000.

SUDENE. Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste. Folha Santo André (SE-24-X-A-I). Bahia, SUDENE, 1977. Escala 1:100.000.

SUGUIO, K., MARTIN, L. Brazilian Coastline Quaternary formations – the states of São Paulo and Bahia littoral zone evolutive schemes. Anais da Academia Brasileira de Ciências. Rio de Janeiro, v.48, p. 325-334, 1976. Suplemento.

TRICART, J.; SILVA, T. C. Estudos de Geomorfologia da Bahia e Sergipe. Salvador: Fundação para o Desenvolvimento da Ciência da Bahia, 1968.