Anais: Ensino de Geomorfologia, formação e profissionalização do Geomorfólogo

Importância dos conteúdos de Geomorfologia para o Ensino Básico e para a Formação do Professor de Geografia

AUTORES
da Silva Santos de Araujo, J. (UERJ/FFP)

RESUMO
Conhecer a dinâmica da natureza é uma ferramenta poderosa nos planos de prevenção de desastres naturais. Os conteúdos relacionados a esse tema podem ser incluídos no ensino básico seguindo os objetivos propostos pelos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN). Cabe avaliar como os cursos de licenciatura em Geografia vêm adequando o ensino da dinâmica da Natureza, para que o professor em formação possa contribuir para a redução de prejuízos provocados por catástrofes naturais.

PALAVRAS CHAVES
Prevenção de Desastres Na; Geografia; Parâmetros Curriculares N

ABSTRACT
The knowledge about nature dynamics is a powerful tool for natural disaster prevention. The contents related to this theme can be included in primary and secondary education by following the objectives proposed by the brazilian National Curriculum Parameters (PCN). It is necessary to investigate how the Geography graduation courses are adapting teaching the dynamics of nature, so that the future teachers can help reduce losses caused by natural disasters.

KEYWORDS
Natural Hazards Preventio; Geography; National Curricular Param

INTRODUÇÃO
O professor de Geografia acumula funções docentes diversas no Ensino Básico. Além de ministrar aulas sobre conteúdos acadêmicos, deve também, estimular a conscientização para a cidadania, crítica social, econômica e política, estímulo a práticas ambientais mais seguras, conhecer mecanismos de prevenção de riscos (à saúde, sociais, à segurança ...) etc. Os conteúdos curriculares relacionados à dinâmica geomorfológica possuem forte relação com o desenvolvimento de procedimentos que resguardam a sociedade de se submeter a situações de risco ambiental. Dinâmica de enchentes, desabamentos, vendavais, enxurradas, ressacas, etc são freqüentes na Região Metropolitana do Rio de Janeiro (RMRJ), provocando prejuízos materiais e, até mesmo perdas humanas. Deste modo, conhecer os mecanismos que regem a dinâmica geomorfológica de rios, encostas e litorais devem estar inseridas nos planos de cursos estabelecidos para o Ensino Básico. Sendo assim, cabe analisar a formação do professor de Geografia: como as disciplinas referentes à dinâmica geomorfológica vêm sendo incluídas nos cursos de licenciatura em Geografia na RMRJ? Nos últimos anos, houve reformulação das estruturas curriculares das Instituições de Ensino Superior (IES), tendo havido em alguns casos, uma alteração da presença das disciplinas da área de Geografia Física (Geociências) em relação às da área de Geografia Humana (Ciências Humanas) nos cursos de licenciatura em Geografia. A estruturação de grande parte dos currículos nos cursos de licenciatura não apresenta equivalência entre o número de disciplinas desses blocos, podendo levar a um distanciamento dos futuros professores de um ou outro aspecto da Geografia no geral. Nesse sentido, buscou-se avaliar como estão organizados os currículos vigentes atualmente nos cursos de licenciatura em Geografia, a fim de verificar a proporcionalidade das disciplinas relacionadas a um e a outro campo.

MATERIAL E MÉTODOS
Neste trabalho, foram analisados os Parâmetros Curriculares Nacionais ( PCN’s), elaborado na década de 1990; o documento estabelece objetivos e bases do ensino fundamental e médio para todo o território nacional, devendo, portanto ser levados em consideração ao longo da formação profissional dos futuros professores de Geografia. O método de trabalho inclui a análise dos conteúdos relacionados às dinâmicas geomorfológicas e sua adequação ao ensino básico, seja nas aulas teóricas de Geografia, seja em projetos interdisciplinares (temas transversais). Também foram levantados dados acerca da participação relativa das disciplinas referentes à Geografia Física em alguns dos principais cursos de licenciatura em Geografia da RMRJ, considerando a carga horária destinada a essas disciplinas, a partir da análise dos fluxogramas obtidos nos sites das próprias instituições.

RESULTADOS E DISCUSSÃO
Segundo Afonso & Armond (2009), os professores de Geografia do ensino básico tendem a priorizar a lógica socioeconômica em detrimento da lógica da natureza na análise do Espaço Geográfico. Verificando os objetivos apresentados nos PCNs, percebe-se que, em muitos casos, a introdução da temática da Natureza (geomorfológica , climática, geológica...) se adequa completamente aos objetivos propostos para o ensino básico. No ensino fundamental, por exemplo, deve-se aprofundar conhecimentos atitudinais, procedimentais e conceituais, conhecimentos estes que podem ser abordados a partir do estudo das características locais do educando. Há de se ressaltar, por exemplo, as possibilidades de trabalhar os conteúdos da Geografia Física de forma mais direta a partir dessas propostas para o ensino médio. A análise geográfica dos aspectos socioeconômicos e culturais, da evolução das técnicas, da construção de identidades em um dado território, e os diversos modos de produção não podem e não devem ser isolados da Geografia Física. Tal fato aumenta a importância de um enfoque maior por parte dos professores de nível médio, considerando as fortes relações entre os padrões de organização social e econômica com os meios bióticos (Porto-Gonçalves, 2004), e as próprias relações políticas e econômicas implicadas no território têm profunda relação com os elementos da natureza. Assim, o estudo das bases geomorfológicas – tais como condições da drenagem urbana, da ocupação das vertentes - e os conhecimentos relacionados a prevenção de catástrofes naturais pode e deve ser incluída na Geografia escolar. Ao nível do ensino médio, os PCN visam estimular certas habilidades e competências (conhecer, compreender, analisar, descrever, comparar, etc) o que também pode ser feito a partir dos conteúdos relacionados à Geografia Física. Cabe, desta forma, partir para a investigação de como os cursos de licenciatura têm colocado essas informações para os professores em formação. Daí a busca por dados – a princípio quantitativos – sobre a participação relativa das disciplinas relacionadas à Geografia Física nos cursos da RMRJ. Foram avaliados os fluxogramas dos cursos de licenciatura em Geografia da UERJ (FFP, Campus Maracanã e FEBF), UFRJ, UFF, Estácio, PUC, UFRRJ e Universo. Tais análises permitem concluir que na maioria dos casos não há disparidade muito grande entre a distribuição de carga horária entre as disciplinas ditas físicas e as humanas. Tal evidência lança bases para novas indagações: a) será que os conteúdos relativos à Geografia Física são discutidos e aprofundados nas disciplinas teórico-metodológicas (Teorias, Métodos e História do Pensamento Geográfico) e nas regionais (Mundo, Brasil, estado)? b) Tem preocupação em desenvolver procedimentos pedagógicos que facilitem a inclusão de conhecimentos ligados à área de Geografia Física? c) Qual tem sido a contribuição dos pesquisadores ligados à Geociências e à Geografia Física em fornecer subsídios ao ensino da Geografia escolar?

CONSIDERAÇÕES FINAIS
O trabalho apresenta questões que envolvem a adequação do ensino de Geomorfologia aos PCN’s e possíveis formas de abordagem por parte dos professores no ensino básico, especialmente ao considerar que a sociedade necessita conhecer processos ambientais a fim de se prevenir contra riscos e desastres naturais. O outro objetivo foi refletir sobre a estruturação dos cursos de licenciatura em Geografia na RMRJ a partir da análise de fluxogramas e carga horária destinada às disciplinas referentes à dinâmica da natureza em relação aos demais componentes da grade curricular. As análises quantitativas demonstraram-se insuficientes para demonstrar/justificar a “queda do prestígio” da Geografia Física no ensino básico, e, por conseguinte, instigaram a continuação da investigação a partir de um viés qualitativo, onde se faça levantamentos e reflexões sobre a contribuição de pesquisadores para o ensino da dinâmica da natureza nos cursos de licenciatura em Geografia.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICA
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