ESTUDO MORFOESTRUTURAL E GEOMORFOLÓGICO DA SERRA DO TEPEQUÉM - RR, ATRAVÉS DE GEOTECNOLOGIAS

Autores

Almeida Nascimento, F. (PPGGEO/UFRR) ; Soares Tavares Júnior, S. (DEP. GEOLOGIA/UFRR) ; Câmara Beserra Neta, L. (DEP. GEOGRAFIA/UFRR)

Resumo

Este pesquisa tem como finalidade o estudo dos compartimentos geomorfológicos ocorrentes no topo da Serra do Tepequém – RR, através de técnicas fotointerpretativas em imagens de sensores remotos, a fim de caracterizar as feições geomorfológicas desta paisagem. A metodologia baseia-se na análise morfoestrutural e geomorfológica. A compreensão dos processos morfoestruturais, é importante para o entendimento da evolução da paisagem local na serra do Tepequém.

Palavras chaves

mapeamento geomorfológico; análise morfoestrutural; serra do Tepequém

Introdução

A porção setentrional da região Amazônica apresenta em especial, uma riqueza de paisagens singulares. Neste contexto, o estado de Roraima é marcado por uma diversificação de paisagens que se destaca em relação a outras regiões da Amazônia brasileira. Áreas planas, serras, florestas e savanas, se destacam formando um panorama característico da região. Dentre estas elevações destacam-se os relevos tabulares, conhecidos regionalmente por tepuis (Briceño & Schubert, 1990; Piccini, 1995), como o Monte Roraima, serra do Tepequém e serra Uafaranda. Neste cenário se destaca a paisagem da porção norte do estado, constituída por unidades de relevo que podem atingir cerca de 2.700 metros de altitude. Estes relevos, que segundo Franco et al. (1975); IBGE (2005) estão inseridos na unidade morfoestrutural Planalto Sedimentar Roraima, e segundo Costa (2008), estão estruturados em rochas sedimentares do Supergrupo Roraima, sendo compostos essencialmente, por arenitos e conglomerados de idade Paleoproterozóica (Santos et al. 2000). No caso específico da serra do Tepequém, estudos de caráter geológico e geomorfológico, evidenciam a origem e evolução do modelado de seu relevo, cuja a literatura atual, a serra é considerada como um relevo tabular, cujas altitudes máximas alcançam 1.100 metros. Porém em seu topo, a paisagem predominante é constituída por áreas aplainadas, formato alongado e limitadas por morros residuais e encostas íngremes, o que diferencia seu modelado em relação aos demais relevos regionais (Beserra Neta et al. 2007; Beserra Neta et al. 2012). Portanto, este estudo tem como finalidade a interpretação e o mapeamento de feições morfoestruturais na serra do Tepequém, por meio da aplicação de geotecnologias, através de técnicas fotointerpretativas em imagens de sensores remotos e produtos integrados multifontes, a fim de caracterizar as feições geomorfológicas, que formam esta paisagem.

Material e métodos

Os principais materiais utilizados para a execução desta pesquisa consistiram na carta topográfica planialtimétrica na escala 1:100.000, referente a folha NA 20 X-A-III, MI-25, Vila de Tepequém, elaborada pelo IBGE, mapa geológico da serra do Tepequém adaptado de Fernandes Filho (2010). Além das imagens do satélite Resourcesat-1/LISS-III (2010) e imagens SAR/SIPAM, adquiridas em 2004. Em conjunto com as imagens de sensoriamento remoto, foi utilizado como suporte nesta pesquisa o MDE-SRTM/TOPODATA-INPE (Valeriano, 2008). Todos estes procedimentos de processamento e fotointerpretação em imagens foram ralizados nos aplicativos PCI Geomatics, versão 10.2 e ArcGis, versão 10, no laboratório de Geotecnologias do Núcleo Hydros/UFRR. A análise e mapeamento morfoestrutural esta baseada na aplicação do método lógico e sistemático de análise textural dos elementos da paisagem (drenagem e relevo) adaptada por Veneziani & Anjos (1982), para imagens ópticas e Santos et al. (2000), para imagens SAR. A drenagem interpretada foi extraída de forma automática, por meio do método proposto por Fan & Collischonn (2009), que em conjunto com a imagem sombreada (textura do relevo) obtida através do MDE. Em conjunto com estes dados, adaptou-se o método elaborado por Madrucci et al. (2002); Araújo et al. (2003), onde o mapeamento morfoestrutural procura, através de padrões de drenagem (assimetria e tropia) e dos lineamentos estruturais, traçar as flexuras do terreno derivadas de processos geológicos – linhas isomorfoestruturais. O Mapeamento Geomorfológico baseou-se na proposta de IBGE (2009), porém adaptada de acordo com as características geomorfológicas da serra do Tepequém, tais como Domínios Morfoestruturais e Modelado já evidenciados em literaturas anteriores, bem como a escala de trabalho, levando em consideração o arranjo morfoestrutural, através da análise da rede de drenagem e interpretação dos lineamentos estruturais.

Resultado e discussão

O mapa morfoestrutral da serra do Tepequém (Figura 01) apresenta as feições positivas (altos morfoestruturais) e negativas (baixos morfoestruturais), que são delimitados pelos lineamentos estruturais. As feições tectono-estruturais positivas, correspondentes aos altos morfoestruturais, são as condicionantes para o arranjo estrutural das encostas e dos morros residuais que se estende por toda área do topo. Estas feições são resultantes do basculamentos dos blocos decorrentes de regimes distensivos adaptados aos planos de cisalhamento. As feições tectono-estruturais negativas, correspondente aos baixos morfoestruturais, representam blocos rebaixados. Alguns destes baixos morfoestruturais estão diretamente correlacionados aos planos de falhas normais, onde a drenagem se instala, causando processos de denudação. O mapa morfoestrutural, combinado com a interpretação das imagens digitais contribuíram para a identificação da compartimentação geomorfológica evidenciada no topo da serra (Figura 02), apresentando variadas formas de relevo, entre estas destacam-se: a) Escarpas de Recuo de Falha, resultante do trabalho de erosão das encostas, composta por sedimentos que formam o talude da serra; b) Encosta Íngemes: morfologia configurada pelas bordas da serra, bordejada pelas escarpas. Estes paredões podem atingir os 1.120 metros de altitude a exemplo da encosta SE; c) Morros Residuais Alinhados, apresentando altitudes que variam entre 680 a 900 metros, estruturalmente orientados nas direções NE-SW e E-W; d) Vales encaixados, apresentando oriundas da incisão dos talvegues das drenagens, e posteriormente, da acumulação dos pedimentos e colúvios oriundos das encostas e morros residuais, estruturados em falhas normais de direção NE-SW, em forma “U” aberto. d) Planícies Intermontanas que correspondem por grandes áreas aplainadas encontradas no interior da serra e são resultantes da acumulação de material erodido das áreas mais elevadas. A orientação estrutural da rede de drenagem instalada nesta porção do relevo segue preferencialmente a direção E-W (Beserra Neta et al. 2007; Beserra Neta et al. 2012).

Figura 01

Mapa morfoestrutural da serra do Tepequém que evidencia o arranjo de altos morfoestruturais (positivos) e baixos morfoestrututaris (negativos)

Figura 02

Mapa geomorfológico da serra do Tepequém apresentando os modelados que constituem as forma de relevo na serra.

Conclusões

A paisagem que compõe a Serra do Tepequém tem características singulares e bastante relevantes para os estudos da interpretação das formas de relevo e dos constituintes fisiográficos presentes. A interpretação das feições morfoestruturais, a partir da correlação com as unidades litológicas que compõe o Tepequém, fornece um produto diferenciado, importante na interpretação do modelado da paisagem local. As análises dos produtos digitais associado ao estudos dos lineamentos estruturais foram importantes para o mapeamento das áreas de alto e baixo morfoestrutural, apresentadas no mapa morfoestrutural. Todos estes dados foram importantes para a interpretação geomorfológica, por meio do mapeamento geomorfológico que identificou uma diferenciação nas morfologias de relevo que compõe a paisagem do Tepequém. Portanto, os estudos que integram técnicas fotointerpretativas em imagens de sensores remotos e produtos integrados multifontes,são importante para o entendimento da evolução da paisagem

Agradecimentos

Os autores agradecem a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior/CAPES, via Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação da UFRR, pela concessão de bolsa REUNI de docência assistida, durante o período de desenvolvimento do Curso de Mestrado. Além de um agradecimento ao Núcleo Integrado de Pesquisa e Educação Ambiental/Projeto Hydros, pelo apoio logístico e laboratorial

Referências

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