CARACTERIZAÇÃO MORFOMÉTRICA E ALTERAÇÃO NOS PADRÕES DE USO E OCUPAÇÃO DA TERRA NA MICROBACIA DO ARROIO INDUSTRIAL, NO MUNICÍPIO DE FRANCISCO BELTRÃO-PR, BR.

Autores

Pereira, J.S. (UNIVERSIDADE ESTADUAL DO OESTE DO PARANÁ) ; Hendges, E.R. (UNIVERSIDADE ESTADUAL DO OESTE DO PARANÁ) ; Marion, F. (UNIVERSIDADE ESTADUAL DO OESTE DO PARANÁ)

Resumo

O mapeamento dos parâmetros morfométricos e do padrão de uso da terra através das geotecnologias auxiliam na caracterização da dinâmica hídrica de uma bacia hidrográfica. A microbacia do arroio Industrial encontra-se em acelerado processo de urbanização. Apresentou uma forma semelhante a um círculo, com muitas áreas declivosas e em plena expansão urbana, fatores estes que contribuem para um elevado e acelerado escoamento superficial, colaborando para que a área seja susceptível a inundações.

Palavras chaves

Mapeamento; Geotecnologia; Inundações

Introdução

Conhecidas como uma unidade natural de estudo, onde a entrada é o volume de água precipitado e a saída é o volume de água escoado pelo exutório, considerando-se como perdas intermediárias os volumes evaporados e transpirados e também os infiltrados profundamente (TUCCI, 2001), as bacias hidrográficas são compostas por um conjunto de canais de escoamento de água (CHRISTOFOLETTI, 1980). As bacias hidrográficas tem o seu comportamento hidrológico definido em função de suas características geomorfológicas como, por exemplo, a forma, o relevo, a área e a rede de drenagem, sendo que algumas destas características podem ser mensuradas através do cálculo dos parâmetros morfométricos (LIMA, 1986). Outro fator que afeta diretamente o comportamento hidrológico é o tipo de cobertura vegetal e/ou padrão de uso e ocupação a qual a bacia hidrográfica esta submetida (TONELLO, 2005). Lima e Zakia (2000), acrescentam uma abordagem sistêmica ao conceito geomorfológico de bacias hidrográficas descrevendo que as mesmas são sistemas abertos. Segundo Antonelli e Thomaz (2007), a combinação dos diversos dados morfométricos e do uso da terra permite a diferenciação de áreas homogêneas, podendo revelar indicadores físicos e humanos específicos para um determinado local, de forma a qualificar as alterações e processos ambientais. Os Sistemas de Informações Geográficas (SIG), por sua vez permitem descrever a complexidade dos processos ambientais em diversos níveis de relação, simplificação, generalização e abstração. Além disso, o SIG permite estabelecer relações dos fatores geomorfológicos com os fatores antrópicos contribuindo para o planejamento ambiental e de uso do solo (CASSETI, 1981). Desta forma, o objetivo deste estudo compreendeu mapear e diagnosticar através das Geotecnologias diferentes aspectos morfométricos da microbacia do arroio Industrial, bem como mapear e caracterizar os seus padrões de uso e ocupação da terra.

Material e métodos

O arroio Industrial é um afluente direto do rio Lonqueador (denominado rio Água Branca na carta topográfica FOLHA SG-22-Y-A-II-2-NE), que por sua vez, forma umas das sub-bacias do rio Marrecas que possui 85.800ha. Alguns autores firmam que a bacia hidrográfica do rio Marrecas se caracteriza pela sua assimetria, com maior desenvolvimento de tributários na margem esquerda o que sugere influência tectônica (CANALI; FERRETTI, 1999; PAISANI et al., 2005). No aspecto climático a região se insere na zona climática subtropical mesotérmica úmida (MARTINS, 2003). A bacia promove a denudação de rochas efusivas do Grupo Serra Geral que, de acordo com a nova classificação da MINEROPAR (2013), foram denominadas como pertencentes à Formação Barracão, caracterizada por derrames lobados, associados a abundantes intercalações de brechas vulcanoclásticas e sedimentos terrígenos. A sub-bacia do rio Lonqueador com uma área estimada em 1.754ha, dos quais 296 ha se encontram urbanizados, especialmente próximo a foz do canal principal na cidade de Francisco Beltrão e uma pequena porção no médio vale, local limítrofe entre os municípios de Francisco Beltrão e Marmeleiro onde está instalado o Hospital Regional do Sudoeste Paranaense. Estudos apontam que o processo de conturbação urbana entre os referidos municípios fará com que as áreas das nascentes do rio Lonqueador também sofram o processo de urbanização em um curto espaço de tempo(ANDRES et al., 2013). Para a obtenção dos parâmetros morfométricos foram digitalizadas as informações altimétricas e planimétricas oriundas da carta topográfica na escala 1:25.000, criando-se um banco de dados georreferenciado no aplicativo SPRING. Já para o mapeamento das informações do padrão de ocupação foram digitalizadas classes de uso em duas datas distintas, sobre a imagem do satélite QuickBird com um resolução espacial de 1m e datada de 09 de junho de 2008 e do satélite GeoEye I com uma resolução espacial de 0,50m e datada de 05 de setembro de 2013.

Resultado e discussão

Uma vez criado o banco de dados georreferenciado, e devidamente importadas a carta topográfica e a imagem de satélite, foram calculados os seguintes parâmetros morfométricos: segundo as características geométricas (área, perímetro, fator de forma, coeficiente de compacidade e índice de circularidade), as características do relevo (declividade e amplitude altimétrica), (TONELLO, 2005). Após ser delimitada identificando-se o divisor de águas pautado nas curvas de nível equidistantes de 10m, a microbacia em estudo totalizou a área de 131ha, com um perímetro de 4.787m. Estas somatórias corroboram com a definição de microbacia, uma vez que Cecílio e Reis (2006), definem a microbacia como uma sub-bacia hidrográfica de área reduzida, não havendo consenso de qual seria a área máxima variando entre 10 a 20.000ha. O fator de forma, que relaciona a forma da bacia com a de um retângulo, medindo a razão entre a largura média e o comprimento axial da bacia e pode vir a atuar sobre alguns o comportamento hidrológico da bacia, apresentou o valor de 0,34. Já o coeficiente de compacidade, que associa a forma da bacia com um círculo, constituindo a relação entre o perímetro e uma circunferência de um círculo de área igual ao da bacia (CARDOSO et al., 2006), apresentou um valor igual a 1,17. O índice de circularidade por sua vez, também relaciona a forma na bacia a um círculo e indicou um valor de 0,72. Desta forma, tanto o fator de forma (pelo baixo valor apresentado), como o coeficiente de compacidade e o índice de circularidade que apresentaram resultados próximos a unidade, indicaram que a microbacia do arroio Industrial apresenta forte concentração de águas da chuva, uma vez que o seu formato se assemelha mais a um círculo e é pouco alongada. Quanto à declividade, respeitando-se a Lei Federal n° 6.766, de 19 de dezembro de 1979, “que dispõe sobre o parcelamento do solo urbano e dá outras providências”, e que em seu art. 3°, ítem III, recomenda que áreas acima de 30% de declividade não sejam urbanizadas, a microbacia apresentou um total de 32ha de áreas com declividade acima de 30%. A amplitude altimérica, criado um perfil longitudinal da microbacia, constatou-se que para uma distância de 1900m, a altitude variou 140m, e para o perfil transversal médio para uma distância de 1200m a altitude inicial era de 681m, reduzindo para 570m ao centro e elevando-se para 611m no limite da vertente oposta. Desta forma, tanto os mais de 25% de áreas com declividade superior a 30%, como a elevada variação altimétrica, acarretam em uma elevada velocidade de escoamento superficial, podendo provocar picos de enchente e susceptibilidade para erosão dos solos (VILLELA; MATTOS, 1975). Após uma análise prévia dos principais padrões espectrais encontrados em ambas as imagens, os padrões de uso e ocupação identificados foram digitalizadas cinco classes de uso, conforme Tabela 1. Analisando-se a evolução das classes de uso da terra, pode-se inferir que a microbacia do arroio Industrial está em avançado processo de urbanização, uma vez que em cinco anos, período mapeado, as áreas urbanas e os novos loteamentos se somados, aumentaram 56%. Um importante fator que impulsionou tal expansão urbana foi o prolongamento de uma avenida (Av. Júlio Assis Cavalheiro), do qual pode-se notar inúmeros novos loteamento surgindo em suas margens, (Figura 1). Outra transformação identificada na imagem do ano de 2013, é a construção de um lago artificial (espelho d’água com 1ha de área), em um ponto estratégico, alguns metros a montante do local onde o canal principal do arroio Industrial, passa a respeitar uma canalização subterrânea.

Tabela 1

Classes de uso da terra digitalizados sobre as imagens mapeadas.

Figura 1

Comparação temporal da expansão urbana na microbacia do arroio Industrial.

Conclusões

De posse das informações referente aos aspectos morfométricos e do padrão de uso da terra da microbacia do arroio Industrial, pode-se afirmar que a mesma está sujeita a sofrer inundações repentinas. Tal afirmativa é baseada no aspecto circular da mesma podendo assim, apresentar picos de enchentes, pois a precipitação atinge sua área quase que simultaneamente. A elevada declividade, bem como a acentuada diferença altimétrica, maximizam o grau de escoamento superficial, fazendo com que possa ocorrer o rápido acumulo de água das chuvas na região mais plana da microbacia. Tal potencial é influenciado também diretamente pelo continuo processo de impermeabilização do solo com o avanço da urbanização que nos últimos anos vem ocorrendo. O grave risco de inundações se faz perceber na ação do poder público municipal, que num ponto estratégico construiu um lago artificial, buscando diminuir a velocidade de escoamento e aumentando assim o potencial de infiltração da água oriunda das chuvas.

Agradecimentos

Referências

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CANALLI, N.E.; FERRETTI, E.G. Bases fisiográficas para a caracterização da bacia do rio Marrecas – sudoeste do Paraná. SIMPÓSIO DE GEOGRAFIA FÍSICA APLICADA, 8, Belo Horizonte, Anais. 1999.
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