IDENTIFICAÇÃO DE ANOMALIAS DE DRENAGEM NO ALTO/MÉDIO TIBAGI, PR, POR MEIO DO ÍNDICE RELAÇÃO DECLIVIDADE-EXTENSÃO - RDE

Autores

Firmino, I.G. (UEM) ; Souza Filho, E.E. (UEM) ; Bueno, R.H. (UEM)

Resumo

O presente artigo faz uma análise do perfil longitudinal de um segmento de 108km do alto/médio Tibagi, situado entre os municípios de Tibagi (PR) e Telêmaco Borba (PR) e da aplicação do Índice RDE, com o objetivo de identificar áreas anômalas. O segmento geral foi dividido em 27 trechos, dos quais foram obtidas 12 anomalias de 2º ordem, sendo 8 moderadas, 2 altas e 2 altíssimas. Das 2 altíssimas, 1 ainda não possui um motivo anômalo aparente, o que pode indicar a existência de neotectônica.

Palavras chaves

Índice RDE; Neotectônica; Rio Tibagi

Introdução

Os estudos relativos à neotectônica do Brasil têm sido trabalhados por diversos autores (Freitas, 1951; Hasui, 1990; Iriondo & Suguio, 1981; Riccomini et al, 1989; Saadi, 1993), e uma das abordagens utilizadas para este tipo de estudo é o Índice de Gradiente, proposto por Hack (1973) e denominado de Índice de Relação Declividade-Extensão (RDE) por Etchebehere et al (2004). Este índice abrange a análise do perfil longitudinal de um ou mais rios para a identificação de anomalias que podem estar relacionadas à movimentação crustal recente. As referidas anomalias ocorrem nos locais em que o gradiente do canal é diferente da declividade esperada caso ele se ajustasse ao perfil de equilíbrio. Elas podem ser causadas pelo aumento de descarga de afluentes, por mudanças litológicas ou de forma de jazimento do substrato, pela presença de diques e de falhas inativas ou ativas. No caso da neotectônica, o interesse é voltado para as anomalias relacionadas a estruturas tectônicas ativas. A parte média e superior da bacia fluvial do rio Tibagi está situada no flanco norte do Alto de Ponta Grossa e inclui a principal região sismogênica do Paraná, localizada na área de Telêmaco Borba (Mioto, 1993). Tal situação indica a possível existência de neotectônica. Este trabalho representa a abordagem inicial de um conjunto de estudos para verificar a existência de estruturas tectônicas ativas na região e de sua influência sobre o modelado, com o objetivo de analisar o perfil longitudinal deste trecho do rio por meio do Índice RDE, a fim de localizar anomalias que possam estar relacionadas às estruturas tectônicas ativas. A área de estudo está situada entre as coordenadas do quadrante 24º45’ S; 50º20’ W e 24º15’ S; 50º41’ W. Nesta área, o rio possui uma extensão de 108 km e flui da altitude de 759 m para 623m, cortando arenitos da Fm Furnas (D), pelitos da Fm Ponta Grossa (D), psamitos e pelitos do Gr Itararé (PC) e rochas básicas do Gr São Bento, além de sedimentos aluvionares.

Material e métodos

O comprimento do segmento fluvial foi medido a partir da ferramenta “régua” do software Google Earth©. Os valores altimétricos foram obtidos a partir das folhas de 1:50.000 do IBGE (Telêmaco Borba - SG.22-X-A-I-4, Rincão da Ponte - SG.22-X-A-II-3, Caetano Mendes - SG.22-X-A-IV-2 e Tibagi - SG.22-X-A-V-1). Os dados foram transportados para o software Excel 2010, onde foram elaborados os perfis longitudinal (com a linha de melhor ajuste) e de relação RDE trecho/RDE total. Os dados geológicos foram obtidos a partir da Folha de Telêmaco Borba da MINEROPAR (2006). Para o cálculo do índice RDE foram utilizadas as seguintes fórmulas para os segmentos fluviais (RDEtre) e para o segmento total (RDEtot): RDEtre=(Dh/Dl).L RDEtot=(Dh/Ln(L)) Onde Dh é a diferença altimétrica entre os extremos do segmento fluvial; Dl é a extensão da projeção horizontal do segmento; L corresponde ao comprimento total do curso d’água a montante do ponto para o qual o índice RDE está sendo calculado; e Ln(L) é o logaritmo natural da extensão total do rio. Para o cálculo do RDEtre foram utilizados segmentos fluviais de quatro quilômetros de comprimento e os setores anômalos foram definidos a partir de limiares, onde se considera: índice de gradiente RDE=RDEtre/RDEtot. Os valores compreendidos entre os limiares 2 e 10, correspondem a anomalias de 2ª ordem, já os valores superiores a 10, anomalias de 1ª ordem (Seeber e Gornitz, 1983), contudo, para Andrades Filho (2010) as anomalias entre 2 e 4 são consideradas moderadas, as entre 4 e 6 são altas e as maiores que 6 são altíssimas. De acordo com Etchebehere (2000) e Fujita et al (2011), as anomalias de 2ª ordem estão associadas às mudanças litológicas, lineamentos estruturais (falhas e/ou diques) e confluência de rios, enquanto as de 1ª ordem relacionam-se às diferenças na resistência litológica, controle estrutural e possível atividade tectônica. Por sua vez, Andrades Filho (2010), associa as anomalias altíssimas a possíveis movimentos tectônicos.

Resultado e discussão

O comprimento do segmento fluvial permitiu a distinção de 27 segmentos menores (trechos), cujos dados de altitude, de variação altimétrica, de distância e de RDEs encontram-se na Tabela 1, assim como as informações relativas ao substrato. O valor do RDEtotal foi de 29,0466. A observação dos valores de RDEtre/tot demonstram que puderam ser observadas 12 anomalias de 2º ordem, entre as quais 8 moderadas, 2 altas e 2 altíssimas. A porção fluvial situada mais à montante corta a Fm Furnas e em seus 48 km apresenta apenas duas anomalias, uma moderada (trecho 8) e uma alta (trecho 11), ambas em áreas de ocorrência de depósitos aluvionares (Tabela 1). O intervalo situado sobre a Fm Ponta Grossa apresentou uma anomalia moderada (trecho 15) enquanto que a parte em que o rio corta o Grupo Itararé foi o que apresentou a maioria das anomalias. Os valores de RDEtre/tot do segmento superior e do segmento médio em geral são muito baixos e nem mesmo a área de passagem dos arenitos da Fm Furnas para os folhelhos da Fm Ponta Grossa (trechos 12 e 13) apresentam anomalias (Figura 1). As exceções estão associadas a um dique (trecho 8), a falhas (trecho 11) e ao contato com o Grupo Itararé (trecho 15). Neste caso, não há nenhuma indicação segura de movimentação tectônica recente. No caso do segmento fluvial que corta o Grupo Itararé, a maior parte dos trechos possuem anomalias, das quais 7 são moderadas, uma é alta e duas são altíssimas (Tabela 1 e Figura 1). As duas anomalias altíssimas (trechos 18 e 23) são aquelas que possuem maior chance de estarem relacionadas à movimentação recente, ainda que não tenham sido configuradas como anomalias de primeira ordem. A observação do perfil longitudinal (Figura 1) mostra a existência de dois diques que cortam o canal nas proximidades do trecho 18, o que pode indicar que a respectiva anomalia possa ter sido provocada por tais formas e permite lançar dúvidas a respeito da influência de neotectonismo na origem da anomalia do trecho 23, uma vez que o mapa geológico pode ter omitido a presença de diques no local. De qualquer forma, ambas as áreas merecem investigação mais detalhada uma vez que os diques ocupam linhas de falha e tais estruturas podem ter movimentação ativa.

Tabela 1

Altitude máxima (Hmax) e mínima (Hmin) diferença de altitude (Δh), comprimento (L), RDE trecho (RDEtre), relação RDE trecho e RDE total (RDEtre/tot).

Figura 1

Perfil de relação RDEtre/RDEtot (acima) e perfil longitudinal do Rio Tibagi com linha de melhor ajuste e informações da geologia do substrato (abaixo)

Conclusões

Os resultados obtidos por meio da aplicação de Índice de RDE ao canal do rio Tibagi não encontrou anomalias de primeira ordem, mas sim duas anomalias que mesmo sendo de segunda ordem podem ser consideradas como altíssimas. Contudo uma delas apresenta clara associação com a ocorrência de diques de diabásio enquanto que a outra merece investigação mais detalhada. Tais resultados, embora preliminares, indicam que mesmo em uma área que é considerada a mais ativa em termos sismológicos no Estado do Paraná, os efeitos de movimentações crustais recentes não deixa evidências destacadas no modelado.

Agradecimentos

À CAPES e ao CNPq pelas bolsas de mestrado e de produtividade em Pesquisa.

Referências

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