CARACTERIZAÇÃO ESPELEOLÓGICA DO CONJUNTO DE GRUTAS DE ARENITO ALBINO INOCENTE - TAMARANA - PR

Autores

Spoladore, A. (UNIVERSIDADE ESTADUAL DE LONDRINA) ; Bueno Vargas, K. (UNIVERSIDADE ESTADUAL DE LONDRINA)

Resumo

As grutas Albino e Inocente localizam-se na área rural do município de Tamarana, no Centro Norte do Paraná. As grutas foram formadas sobre arenitos das Formações Pirambóia e Botucatu, desenvolvendo uma morfologia cárstica muito significativa, destacando-se ornamentos como: círculos, estalactites, caixa de ovos, galeria de dissolução, cortina e estalactites. Para realizar a caracterização espeleológica da área foi utilizado técnicas de prospecção em campo e instrumentação especifica.

Palavras chaves

ESPELEOLOGIA; GRUTAS DE ARENITO; TAMARANA

Introdução

As grutas são caracterizadas como cavidades subterrâneas naturais profundas, as quais incluem um ecossistema especifico, sendo muito comuns em terrenos calcários. No entanto, em litologias areníticas também podemos encontrar tais feições, as quais possuem características muito similares a destes ambientes, também formadas por processos de dissolução, corrosão e abatimento. O estudo da forma, gênese e dinâmica dos relevos elaborados sobre rochas solúveis em água, sejam elas de origem biogênica ou silicatos como arenitos, quartzitos, granitos e basalto, compõe o objeto de estudo da geomorfologia cárstica (KOHLER, 1995). De acordo com Piló (2000), o conjunto espacial compreendido por uma paisagem cárstica, para efeito de definição, pode ser compartimentado em um domínio superficial (exocarste), um domínio subsuperficial (epicarste) e um outro subterrâneo (endocarste), cada um deles apresentando estruturas e mecanismos responsáveis pela operação de processos geomorfológicos atuais e, ao mesmo tempo, funcionando como registro de processos ocorridos no passado. Ao longo de toda a área de afloramento das formações Piramboia e Botucatu, diversas cavernas areníticas são conhecidas e algumas são objetos de estudos de alguns pesquisadores (SPOLADORE, 2006; SPOLADORE, 2005; SPOLADORE et al. 2005; VERÍSSIMO & SPOLADORE, 1991; DELAVI, 1996; WERNICK et al,1976; MARTINS, 1985; BENITEZ et al. 1999). As grutas em questão encontram-se na bacia hidrográfica do rio da Prata, nas coordenadas 22k0486011 UTM 736303, no município de Tamarana-PR, onde se desenvolveu uma série de elementos cársticos em superfície. Todavia, tais cavidades ainda são pouco conhecidas e entendidas, existindo diversas dúvidas sobre sua gênese e desenvolvimento. Com relação às cavernas areniticas, as mesmas possuem dimensões variadas, apresentando ornamentos característicos e peculiares. Sendo assim, o objetivo deste trabalho é caracterizar a espeleologia e os controles estruturais das grutas.

Material e métodos

A metodologia do estudo contou com revisão bibliográfica especializada pré e pós campo. Seguidamente a prospecção em campo ocorreu para reconhecimento da área, mapeamento e coleta de dados, o qual contou com instrumentação especifica. Para o mapeamento interno das grutas foi utilizado Bússola Brunton, GPS, trenas métricas e clinômetro, contando ainda com a participação de alunos do curso de Geografia da Universidade Estadual de Londrina. O instrumentista, ficou responsável pela leitura dos equipamentos, outra pessoa ficou responsável para segurar a ponta da trena auxiliando o instrumentista, já que a trena determina o comprimento, em metros e centímetros, de cada visada. Ainda é necessário outra pessoa para anotar os dados “croquista”, e o explorador para coordenadar a orientação do mapeamento, iluminando o ambiente com a lanterna e identificando e caracterizando os elementos cársticos a serem registrados. Com relação ao uso da bússola, ela foi usada para medir os ângulos horizontais, representado pelo azimute (ângulo formado em relação ao norte), sendo possível medir os ângulos verticais mudando a posição da bússola. E o clinômetro foi utilizado para medir os desníveis da caverna, fornecendo a inclinação, em graus positivos ou negativos, entre a visada e o plano horizontal. Já com o GPS foi possível demarcar todo o percurso percorrido, relacionando com a parte externa, de acordo com as coordenadas geográficas em utm. Pós campo os dados foram análisados em gabinete, sendo construído um croqui base do desenho interno das grutas, sendo posteriormente digitalizado e mapeado no software Corel Draw X5. E as informações anotadas juntamente com os registros fotográficos, foram transcritos, contribuindo na finalização da caracterização espeleológica.

Resultado e discussão

As grutas do Inocente e do Albino estão localizadas na área rural do município de Tamarana-PR, no fundo de um vale, onde sua morfologia externa assemelha-se a uma furna. As cavidades em questão encontram-se na bacia hidrográfica do rio da Prata, onde no interior da gruta Inocente nasce um córrego sem denominação formal, o qual é afluente direto deste rio. (Figura 1). As grutas se desenvolveram em meio os arenitos das Formações Pirambóia e Botucatu, os quais possuem intercalações centimétricas de argilitos, siltitos e arenitos conglomeráticos e nucleos de argilas. Estas litologias apresentam-se altamente friáveis favorecendo assim, a remoção mecânica dos grãos minerais. Nas proximidades das cavernas também foram observados afloramentos de rochas básicas a intermediárias pertencentes à Formação Serra Geral. As grutas do Inocente e do Albino estão inseridas no contexto da unidade geomorfológica do Terceiro Planalto Paranaense nas proximidades com o Segundo Planalto. As altitudes oscilam entre 800 a 1000 metros. Nas proximidades das cavidades predominam um relevo com formas mais suaves, com morros arredondados e de perfil convexo. A primeira gruta a se chegar é a do Inocente. Apesar da entrada da caverna ser ampla, seu interior apresenta o teto rebaixado, com altura média de um metro e a largura de dois metros. O chão da caverna é recoberto por sedimento arenoso e argiloso, originando alguns depósitos sedimentares. Os arenitos apresentam níveis conglomeráticos, e podem ser identificados no interior da cavidade seus depósitos, onde a predominância é de nucleos com dimensões centimétricas, com boa esfericidade e arredondamento, e blocos abatidos. Tanto o teto como as paredes da cavidade apresentam predominância de formas arredondadas o que indica que na atual fase de desenvolvimento, a água é fator fundamental. No pequeno salão localizado no final da caverna estão localizadas cavidades de possíveis dissoluções, onde a caverna está efetivamente se expandindo. Trata-se de passagens e galerias estreitas onde o fluxo de água é maior. A partir do encontro das águas que saem das cavidades de dissolução, origina um pequeno curso d’água o qual percorre toda a extensão da cavidade, desaguando no rio da Prata. A gruta do Albino possui uma abertura grande e arredondada, sendo possível observar uma série de blocos abatidos. Tal fato leva a crer que está cavidade é mais antiga do que a primeira caverna. Seu chão é coberto por blocos abatidos, onde uma segunda parte da cavidade é cheia de areia. Após esse salão, um novo corredor se forma, dessa vez sem blocos abatidos. Da mesma forma que a gruta do Inocente, essa caverna aparenta estar se expandido. O aspecto mais interessante das grutas Albino e do Inocente são suas ornamentações, onde no interior podem ser observados espeleotemas diversos (caixas de ovos, couve-flor e outras formas coralóides, cortinas, estalactites, estalagmites, cortinas, cascatas, colunas, círculos dentre outros), como podem ser observados na figura 2. Com relação à composição mineralógica dos ornamentos, podemos distinguir aqueles compostos por variedades de quartzo, aqueles compostos de óxidos e hidróxidos de ferro (goetita e limonita). A gênese dos ornamentos a base de óxidos e hidróxidos de ferro é bastante interessante e peculiar. Pelo observado em campo, a água começa a trabalhar as rochas parcialmente decompostas do teto da gruta originando ornamentos do tipo caixa de ovos. A evolução deste espeleotema origina estalactites de argila as quais são recobertas por uma camada de óxido de ferro o que confere uma maior resistência à parte externa da estalactite. Com a contínua ação da água, dá-se a retirada e o transportar da argila deixando o óxido de ferro, originando uma estalactite oca, mas após o seu preenchimento por óxido de ferro num segundo momento torna-se maciça. Um outro ornamento interessante são os chamados círculos, localizados no chão da caverna.

Figura 1: Mapeamento da Gruta do Albino e Gruta do Inocente.

Figura 1: Mapeamento da Gruta do Albino e Gruta do Inocente.

Figura 2: Ornamentos observados nas grutas do Inocente e do Albino: A

Figura 2: Ornamentos observados nas grutas do Inocente e do Albino: A) círculos; B) aspecto geral da gruta Inocente; C) Caixa de ovos; D) aspecto geral da gruta do Inocente; E) segundo salão da gruta do Inocente; F) estalactite;

Conclusões

Estudos em cavernas/grutas de arenitos ainda são escassos na literatura, onde até décadas atrás eram contestados por alguns membros do meio cientifico por não serem formadas sobre rochas carbonáticas. No entanto com o desenvolvimento de pesquisas nesta área, e descobertas de inúmeras cavernas de arenito com ornamentos similares aos carbonatados houve uma melhor aceitação, no entanto, muito se tem a pesquisar nesta área, para um melhor entendimento de sua morfogênese, sem contar que estas são abundantes no Brasil e no mundo. Dentre as cavidades areníticas conhecidas e estudadas até o momento, as chamadas grutas do Inocente e gruta do Albino podem ser consideradas especiais devido à quantidade de ornamentos existentes em seu interior bem como, pela peculiar composição, gênese e evolução de alguns desses ornamentos. Outro fato interessante é que essas cavidades encontram-se ativas, possuindo diversas cavidades de possíveis dissoluções.

Agradecimentos

Referências

BENITEZ, L.; SILVA, S. M. da; SPOLADORE, A. Condicionamento Estrutural de Drenagem e Cavernas na Região do Vale do Tigre em São Jerônimo da Serra - PR. VII Simpósio Brasileiro de Geomorfologia Física Aplicada. Anais... Belo Horizonte, MG, 1999, pp: 47 – 49.
DELAVI, E. J. Grutas e Cavernas de Arenito do Município de São Jerônimo da Serra, PR. Monografia de conclusão de curso. UEL, Londrina, PR. 95:pp, 1996.
KOHLER, H. C. Geomorfologia Cárstica. In: GUERRA, A. J. T. & CUNHA, S. B. Geomorfologia e Meio Ambiente. Rio de Janeiro: Bertrand do Brasil, 1995.

MARTINS, S. B. M. P. Levantamento dos Recursos Naturais do Distrito Espeleológico Arenítico de Altinópolis, SP. Relatório Final, FAPESP, 121 p., protocolo 83/2552-3, São Paulo, 1985.
PILÓ, L. B. Geomorfologia Cárstica. Revista Brasileira de Geomorfologia. v.1, n. 1., 2000.

SPOLADORE, A. Novas Cavernas em Arenito no Estado do Paraná. XXIV Congresso Brasileiro de Espeleologia. Campinas, SP, 2005.
SPOLADORE, A; MONTEIRO, J. P; Alessandra Ap. M. R de SOUZA, A.A. M.R.; BISOGNI, F. M; SILVA, M. N. A Caverna da Homenagem / PR 265. XXIV Congresso Brasileiro de Espeleologia. Campinas, SP, 2005.
SPOLADORE, A. A Geologia e a Geoespeleologia como instrumentos de planejamento para o desenvolvimento do turismo - o caso de São Jerônimo da Serra / PR. Tese de Doutorado. UNESP / Campus de Rio Claro, SP. 2006.
VERÍSSIMO, C. U.; SPOLADORE, A. Gruta do Fazendão, Considerações Geológicas e Genéticas. XXI Congresso Brasileiro de Espeleologia. Curitiba, Pr, 1991.
WERNICK, E.; PASTORE, E. R. B.; PIRES NETO, A. Cavernas em Arenitos. Notícias Geomorfológica,13 (26): 55 – 67, 1976.


APOIO
CAPES UEA UA UFRR GFA UGB