USO E OCUPAÇÃO DO SOLO NO RIO PARAGUAI SUPERIOR

Autores

Grizio-orita, E.V. (UNIVERSIDADE ESTADUAL DE PONTA GROSSA) ; Souza Filho, E.E. (UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MARINGÁ)

Resumo

A análise da evolução do uso e ocupação do solo foi realizada a partir de referências bibliográficas e análise multitemporal de imagens de satélite. A abordagem efetuada permitiu analisar os anos de 1977 e 2007 evidenciando os valores de todas as classes. Foi observado que a área de vegetação diminuiu para menos de um terço em 2007. As áreas de pastagem ocupavam um quarto da área e passaram a um décimo dela ao longo dos trinta anos estudados, enquanto as áreas de agricultura aumentaram de um décimo para quase um terço.

Palavras chaves

uso e ocupação do solo; rio Paraguai; análise multitemporal

Introdução

A importância de entender o sistema fluvial faz com que pesquisadores desenvolvam estudos sobre os rios para compreender seus complexos sistemas morfológicos e dinâmicos. Por essa razão, esta pesquisa aborda o sistema fluvial do rio Paraguai Superior. A disposição da bacia do rio Paraguai Superior é condicionada pelo substrato geológico. E a bacia de drenagem tem forma assimétrica, sendo a planície fluvial marcada por um conjunto de lagoas alongadas e canais ativos e sub-ativos que permitem caracterizar o segmento como multicanal, cujo aspecto em imagem orbital assemelha-se ao exibido por canais anastomosados, conforme Silva et al. (2007). A bacia de drenagem do rio Paraguai no seu segmento Superior sofreu forte ação antrópica, a partir da década de 1970, graças à ocupação de áreas de vegetação natural para a implantação de pastagens e de agricultura. A retirada da vegetação natural aparentemente resultou em uma sensível modificação das características do rio, em especial no que diz respeito ao regime de débitos e ao transporte de sedimentos (SILVA, 2006; GRIZIO, 2008). São vários os efeitos que a retirada da vegetação pode causar dentro de uma bacia hidrográfica, dentre eles a diminuição da rugosidade superficial, que leva ao aumento da velocidade de fluxo na vertente, da competência das águas, da intensidade dos processos erosivos e da magnitude das vazões máximas. A remoção da vegetação, ao mesmo tempo em pode reduzir a capacidade de infiltração e retenção de água, pode aumentar o escoamento superficial, o que pode aumentar a erosão dos solos. Por esses motivos, esta pesquisa tem como objetivo geral verificar as modificações que o sistema fluvial do rio Paraguai Superior vem sofrendo a partir de 1970, em decorrência da retirada da vegetação.

Material e métodos

As análises tiveram como referência inicial a década de 1970, porque o imageamento por satélite teve início em 1972. A análise da evolução do uso e ocupação do solo foi efetuada a partir de dois tipos de abordagens: a bibliográfica e a análise multitemporal de imagens de satélite. A metodologia proposta nesse trabalho integrou produtos de sensoriamento remoto e técnicas de análise e processamento de imagens digitais na produção de imagem digital classificada da área de estudo proporcionando análise, classificação e quantificação da cobertura vegetal. Para isso, foram utilizadas imagens orbitais do sensor MSS (LANDSAT 2) e do sensor TM (LANDSAT 5), tendo como referência os anos de 1977 e 2007. Todas disponíveis gratuitamente no site do INPE - Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais - http://www.inpe.br/. Essas datas foram definidas pela disponibilidade das imagens estarem em boas condições em relação à cobertura de nuvens tanto na região de Barra do Bugres quanto em Cáceres, pois foi necessário elaborar um mosaico com as imagens para cobrir a área em toda sua extensão. Outro motivo da escolha dessas datas foi à distribuição temporal para verificação da evolução do uso do solo. As cenas MSS (LANDSAT 2) das décadas de 1970 e início de 1980 têm resolução espacial de 80m e foram obtidas em 09/07/1977. As imagens TM (LANDSAT 5) possuem resolução espacial de 30m e foram obtidas em 21/06/2007. Os dados obtidos a partir das imagens mais recentes foram verificados em campo. As etapas para atingir o objetivo proposto no trabalho foram: baixar imagens; montar o Banco de Dados; fazer o mosaico da área estudada; aplicar Componentes Principais; georreferenciar as imagens; delimitar a área de estudo; segmentar; classificar e gerar os mapas (produto final). Tal tratamento permitiu avaliar a área de vegetação natural e as áreas de cada tipo de uso do solo. A comparação entre as imagens de datas diferentes possibilitou a caracterização da evolução do uso do solo.

Resultado e discussão

As análises das imagens orbitais permitiram avaliar a evolução do uso do solo na bacia de drenagem do rio Paraguai Superior e quantificar a área ocupada pela vegetação, pastagem, água, solo exposto e agricultura nas diversas datas analisadas. Em 1977, as classes predominantes eram a vegetação e a pastagem, que correspondiam, respectivamente, a 47,2% e 25,5% da área estudada (Figura 01). A classe culturas possuía área menor, representando 10,1%, enquanto solo exposto representava 4,6% e a água possuía 12,4%. Ou seja, neste ano cerca de 40 % da área natural já havia sofrido forte influência antrópica. Se considerado o valor obtido para a classe água, pode ser verificado que ele é anormalmente alto, como pode ser observado nos gráficos que se seguem, apesar de 1977 ter sido um ano chuvoso, com 1852,5 mm de acumulado anual. A observação das imagens utilizadas permite verificar a existência de grandes áreas de queimadas. A classificação das imagens pode ter identificado parte dessas áreas como corpos de água, em função da resposta espectral. Nesse caso, a ocupação pode ter sido superior aos 40% mencionados. Em 2007, o mapa de uso do solo (Figura 02), mostra a continuidade da remoção da cobertura vegetal, que diminuiu para 28,5% e uma pequena diminuição da área de cultivo, que passou a ocupar 32,8% do total. Tais reduções estão relacionadas ao aumento das áreas de pastagem (20,6%) e de solo exposto (10,5%), já que a área de água permaneceu igual à de 2005 (6,5%). No que diz respeito à vegetação, os dados demonstram que mais de 3800 Km² foram desmatados nos 30 anos compreendidos entre a imagem mais antiga e a mais recente. Ou seja, mais de 30% da vegetação remanescente foi perdida neste período.

FIGURA 01

FIGURA 01: Uso e ocupação do solo de 1977

Figura 02

FIGURA 02: Uso e ocupação do solo de 2007

Conclusões

Os resultados deste estudo foram obtidos a partir da verificação das modificações que o sistema fluvial do rio Paraguai Superior vem sofrendo, a partir da década de 1970, em decorrência da retirada da vegetação. Os dados de uso do solo obtidos a partir da análise de imagens orbitais demonstraram que, em 1977, a vegetação natural estava reduzida a 47 % da área total e ao longo de três décadas diminuiu até chegar a pouco mais de 28 % do original. A ocupação do solo era feita principalmente por pastagens (25 %) e a agricultura (10%) era ainda incipiente no ano inicial de estudo e, ao longo do tempo, a primeira atividade sofreu ligeira redução, enquanto a segunda aumentou consideravelmente. Em 2007, as pastagens constituíam 20 % da área e as áreas de agricultura (sazonal) atingiram quase 33 %.

Agradecimentos

Referências

CAMPBELL, J. B. Introduction to remote sensing. New York: Ed. The Guilford Press, 1996. 622 p.

GRIZIO-ORITA, E. V. Regime de descarga do rio Paraguai superior. 2008. Dissertação (Mestrado em Geografia)-Universidade Estadual de Maringá, Maringá, 2008.

INPE. Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais. Imagem de satélite LANDSAT MSS e TM . Disponível em: <http://www.inpe.br/>.Acesso em: 12 de agosto de 2009.

SILVA, A.; ASSINE, M. L.; SOUZA FILHO, E. E.; CUNHA, S. B.; ZANI, H. Compartimentação Geomorfológica do rio Paraguai na Borda Norte do Pantanal, Município de Cáceres-MT. In: 1º SIMPÓSIO DE GEOTECNOLOGIAS NO PANTANAL, 1., 2006, Campo Grande. Anais...Mato Grosso do Sul: Embrapa Informática Agropecuária/INPE, 2006. p.257-264.

SILVA, A.; ASSINE, M. L.; ZANI, H. SOUZA FILHO, E. E.; ARUJO, B. C. Compartimentação geomorfológica do Rio Paraguai na borda norte do Pantanal Mato-grossense, região de Cáceres - MT. RBC. Revista Brasileira de Cartografia, v. 59, p. 73-81, 2007.


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