Caracterização da drenagem fluvial e a variabilidade espaço-temporal da vazão específica média nas bacias hidrográficas dos rios Aguapeí e peixe, no Oeste do estado de São Paulo

Autores

Andrade, L.F. (UNESP/PRESIDENTE PRUDENTE) ; Rocha, P.C. (UNESP/PRESIDENTE PRUDENTE)

Resumo

As bacias hidrográficas dos rios Aguapeí e Peixe estão localizadas na porção Oeste do estado de São Paulo e por possuírem características geográficas semelhantes especialmente em termos climáticos, foi realizado um estudo da vazão específica média, juntamente com a caracterização da drenagem fluvial. Análise esta que demonstra a influência direta do sistema de drenagem na vazão específica, até mesmo quando levado em consideração a variabilidade temporal.

Palavras chaves

Geomorfologia fluvial; Sistema de drenagem; vazão

Introdução

A bacia hidrográfica, definida por Silveira (2001) como uma área de captação da precipitação é a área de convergências dos escoamentos para um único ponto de saída. É composta basicamente por um conjunto de superfícies de vertentes e de uma rede de drenagem formada por diversos cursos d’água que confluem até resultar um leito único no exutório. Do ponto de vista da gestão, conforme apontado por Guerra e Cunha (1996), as bacias hidrográficas são consideradas excelentes unidades de coordenação dos elementos naturais e sociais, pois, nessa óptica, é possível acompanhar as mudanças introduzidas pelo homem e as respectivas respostas da natureza. Ainda de acordo com esses autores, em países desenvolvidos, a bacia hidrográfica também tem sido empregada como unidade de planejamento e gerenciamento, compatibilizando os diversos usos e interesses pela água e garantindo sua qualidade e quantidade. Contudo, caracterizar uma bacia hidrográfica é uma atividade que exige bastante cuidado, especificamente quando trata-se da relação de seus atributos físicos com os processos inerentes, como neste presente estudo, a análise da distribuição da vazão específica média, baseado na densidade de drenagem. Tratar da hierarquia da drenagem é classificar cada um dos cursos de água na totalidade da bacia hidrográfica (CHRISTOFOLETTI, 1980). Horton (1945) apud Christofoletti (1980), estabeleceu alguns critérios para ordenação dos cursos de água, quais sejam: os canais de 1ª ordem não possuem tributários; os de 2ª ordem recebem apenas tributários de 1ª ordem e os de 3ª ordem podem receber um ou mais tributários de 2ª ordem, seguindo-se assim uma sequência hierárquica de rios. Nesse contexto, os rios Aguapeí e Peixe podem ser considerados canais de sexta ordem por possuir no seu conjunto de afluentes, rios de ordem inferior.

Material e métodos

Neste estudo foram realizadas análises de dados de um total de nove postos fluviométricos pertencentes à rede hidrometeorológica do Departamento de Águas e Energia Eletrica do estado de São Paulo (DAEE-SP). Dentre as estações fluviométricas os dados disponíveis variam de 1962 a 2002, embora alguns dados tenham sido excluídos por haver grande quantidade de falhas, o que impossibilitou até mesmo o preenchimento. O preenchimento de falhas foi executado por meio de correlações segundo o critério do coefienciente de determinação ≥ 0,7 (Poff et al., 1997). O índice de vazão específica média é determinado pela razão entre a vazão média em uma dada seção de medição e a respectiva área de drenagem (TUCCI, 2002). Esse índice deve ser utilizado apenas em áreas com baixa densidade de postos fluviométricos, a partir de um software de geoprocessamento é possível obter ao menos a ordem de grandeza da vazão ao longo do curso do rio (LIMA et al.; 2008). Assim, a regionalização hidrológica pode ser compreendida também como uma técnica de melhoramento da qualidade dos dados hidrológicos. Desse modo, a vazão específica média, foi obtida pela seguinte equação (TUCCI, 2002): q= Qm/A (1) onde q é a vazão específica média em L/s-1.km-2; Qm é a vazão média mensal em m³/s convertido para l.s/km²; A é a área de influência na bacia hidrográfica em km².

Resultado e discussão

As bacias hidrográficas dos rios Aguapeí e Peixe apresentam de modo geral um padrão de escoamento com características endorreicas, pois conforme a hierarquização do sistema de drenagem, as nascentes estão todas voltadas para o interior, considerando-se a posição geográfica do estado de São Paulo. Nessa área há predomínio de rios consequêntes, que são aqueles cuja calha é estabelecida pela declividade da vertente, coincidindo com a direção da inclinação principal das camadas (CHRISTOFOLETTI, 1980). A classificação do padrão de drenagem é definida de acordo com características geológicas e geomorfológicas da área em estudo. Há diferentes arranjos que possibilitam uma classificação baseada na forma geométrica e em variáveis de natureza física da região. De acordo com o autor supracitado, os principais padrões de drenagem são: padrão dendrítico, paralelo, retangular, radial, treliça e anelar. Baseando-se nessa classificação, pode-se dizer que o padrão de drenagem das bacias em estudo classifica-se como dendrítico, cujas características apresentam canais com a configuração que se assemelha os galhos de uma árvore, de modo que o tronco é representado pelo curso principal da bacia. Conforme apontado pelo autor, esse tipo de drenagem é comum sobre estruturas sedimentares horizontais. O conhecimento acerca do sistema de drenagem é uma importante ferramenta para os estudos que lidam com questões relativas ao regime hidrológico, pois conforme explicitado por Ribeiro et al (2005), a rede de drenagem caracteriza-se como uma importante variável para trazer à luz a compreensão acerca da distribuição da vazão específica. Assim, a variabilidade espaço-temporal da vazão específica média foi calculada considerando-se a variação ao longo de três períodos hidrológicos identificados por Andrade e Rocha (2011). Onde é possível averiguar que especificamente ente o segundo e o terceiro período hidrológico não houve variação significativa, assim como também não foi identificada redução expressiva conforme o aumento da área de influência de estações fluviométricas onde foi realizada a coleta de dados. A Tabela 1 apresenta os dados da distribuição da vazão específica média ao longo das bacias hidrográficas dos rios Aguapeí e Peixe por área em km² e densidade de drenagem em km/km² correspondente a cada posto fluviométrico. *Vem - indica vazão específica média e *per- indica Período Hidrológico Fonte: ANA (2012), SIGHRi (2012). Organizado pelo autor Tratando-se se uma análise espaço-temporal, verifica-se que algumas estações fluviométricas não apresentam dados no primeiro período hidrológico que corresponde ao período de 1971 a 1984. Neste período a vazão específica média foi a menor da série analisada, em torno de 6,6 L s-1/Km-2 na bacia do rio Aguapeí e 9,0 L s-1/Km-2 na bacia do rio do Peixe. No período posterior, que corresponde ao intervalo de 1972 a 1984, a vazão específica média apresentou os maiores registros históricos, também em ambas bacias hidrográficas, sendo de 11 L s-1/Km-2 na bacia do rio Aguapeí e 17 L s-1/Km-2 na bacia do rio do Peixe. Já no último período, entre os anos de 1985 e 2000, essa média se manteve alta em relação ao primeiro período, porem com pouca diferença do período diretamente anterior. Nota-se que em áreas de maior densidade de drenagem é possível observar também maior vazão específica média. Mesmo considerando que a vazão específica tenda a reduzir com o aumento da bacia hidrográfica, conforme apresentado por Tucci (2002), o oposto do que ocorrer com a vazão média de um rio, que aumenta seu volume no sentido de montante para jusante.


Tabela 1 - Vazão específica média por período hidrológico e caracterização da drenagem das bacias hidrográficas do rio do Peixe e Aguapeí

Conclusões

Através da presente análise foi possível observar que a vazão específica média diminui da nascente para a foz, sendo que a máxima vazão específica não está necessariamente no ponto mais alto da bacia hidrográfica, mas sim nas áreas com alta densidade de drenagem, conforme apresentado. Assim como também ficou notável a importância da análise temporal. No que remete ao planejamento ambiental, esse tipo de análise convém pelo fato de que para estabelecer determinadas políticas ambientais, é necessário antes conhecer o comportamento de certos elementos da bacia hidrográfica.

Agradecimentos

Os autores agradecem pelo apoio financeiro da Fundação de amparo à Pesquisa do estado de São Paulo (Fapesp) para o desenvolvimento desta pesquisa.

Referências

ANDRADE, L. F. Estudo da vazão específica nas bacias hidrográficas dos rios Aguapeí e Peixe como subsídio à gestão dos recursos hídricos. (monografia) Unesp, 2011.

CHRISTOFOLETTI, A. Geomorfologia. São Paulo: Edgard Blücher, 1980. p. 81-85, Il.

GUERRA, A. J. T.; CUNHA, S. B. Degradação ambiental. In: CUNHA, S. B. Geomorfologia e meio ambiente. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1996. p. 337-339.

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SILVEIRA, A. L. L. Ciclo hidrológico e bacia hidrográfica. In: TUCCI, C. E. M. (Org.). Hidrologia: ciência e aplicação. São Paulo: EDUSP, 2001. p 35-51.

TUCCI, C. E. M. Regionalização de vazões. Rio Grande do Sul: Ed. Universidade/UFRGS, 2002. p.14

TUCCI, Carlos E. M. Regionalização de vazões. Rio Grande do Sul: Ed. Universidade/UFRGS, 2002. p.14


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