ESTUDO FISIOGRÁFICO DA REGIÃO NORTE DO ESTADO DO CE (RIO ACARAÚ).

Autores

Diniz, F., S. (UVA-CE) ; Rueda, J.R.J. (UNESP) ; Caracristi, I. (UVA-CE)

Resumo

As sucessivas mudanças ambientais estão representadas por registros com interações de fatores e processos intensos na evolução da paisagem. Deste modo, a caracterização e análise da paisagem é ferramenta essencial no conhecimento dessas mudanças. Este trabalho realizou o cruzamento de diversos dados ambientais e informações espaciais de gênese de solos, por meio de trabalhos de campo e análise da paisagem, para fins de caracterização da região norte do Estado do Ceará.

Palavras chaves

drenagem; estudo; fisiográfico

Introdução

Estudos ambientais de processos evolutivos da região norte do Estado do Ceará tem sido desenvolvido através de diagnósticos para gestão e reconhecimento geral em escalas pequenas pela CPRM (2003), IPECE (2002), Aquasis (2003) os quais servem como fundamentação para focar problemas mais específicos em áreas de maior potencial para o desenvolvimento de projetos de irrigação, carcinicultura, agroindústrias e sustentabilidade familiar. Além de orientar as autoridades e comunidades na tomada de decisões socioeconômicas e saneamento. Tais estudos estão sendo desenvolvidos mediante a aplicação da sistemática do zoneamento geoambiental, tomando como base pesquisas anteriores para caracterização do meio físico através de informações geológicas em especial litoestratigráficas, estruturais, climáticas (paleo e atuais), geomorfológicas, bióticas e socioeconômicas, os quais constituem nesta pesquisa o diagnóstico zero (DINIZ, 2010). Diagnóstico este, que vem a ser a base e orientação na definição dos problemas nas informações básicas ou preliminares, para decidir se matem tais informações e/ou se completam, adequando ou se produzem novos dados e elementos cartográficos a escalas pertinentes a presente pesquisa. Foram interpretadas imagens de satélite e fotografias aéreas para delimitação, caracterização e classificação das paisagens e suas respectivas unidades fisiográficas, com fins de estabelecer tanto a evolução e gênese, como definindo a capacidade de suporte de cada uma das paisagens presentes e também de suas unidades fisiográficas.

Material e métodos

O desenvolvimento da pesquisa baseou-se na realização de trabalhos de escritório, campo e ensaios laboratoriais. – Diagnóstico Zero Inicialmente, foi realizado o Diagnóstico Zero (DZ) que consiste em um levantamento bibliográfico, cartográfico que permite a fundamentação e embasamento com o reconhecimento da área de estudo, através da reinterpretação e homogeneização das informações existentes sobre o meio e/ou geração de novas e mais adequadas informações e cartas temáticas o que permite posterior detecção dos problemas apresentados nos levantamentos anteriores para estabelecer as respostas e objetivos de maior importância. – Fotointerpretação O trabalho foi realizado por meio de uma revisão literária de mapas base (IPECE, 2002; CPRM, 2003; RADAMBRASIL, 1981; MIRANDA, 2005), imagens de satélite, imagens de radar SRTM - Shuttle Radar Topography Mission (NASA), Geocover (2000), Landsat TM - órbita/ponto 218/62 e bancos de dados pré-existentes. Os mapas de geologia, geomorfologia e classes de solos foram rasterizados, digitalizados e processados em ambiente SIG. Na imagem Landsat TM, órbita/ponto 218/62, de maio de 2007, foi corrigida a interferência atmosférica com base na técnica de valor do pixel escuro, a imagem Geocover(2000) e SRTM foi processada em ambiente SIG. A acurácia do produto final foi conferida em campo com auxílio de GPS. - Fisiografia Vêm sendo proposto por Jiménez-Rueda e Juércio Tavares de Mattos desde (1985), observando a proposta soviética de organização taxonômica e adéqua-la as condições brasileiras levando em consideração a organização estrutural os cratons (escudos), províncias, baseado na organização da evolução ecogeodinâmica dos solos e evolução das paisagens morfoestruturais caracterizadas como zonas desenvolvidas fundamentalmente nos cratons/escudos os quais são estruturas mais estáveis; intrazonais, fraturas que vem delimitar os blocos tectônicos como áreas meta estáveis no desenvolvimento das diversas paisagens caracterizadas pela freqüente atividade tectônica dos cinturões tectônicos.

Resultado e discussão

Análise da drenagem O mapa de drenagem foi gerado a partir de uma base cartográfica da Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos do Estado do Ceará (FUNCEME). A geração de informações indiretas dos aspectos relacionados à tectônica, como feições de alinhamentos de drenagem, contribuem na definição dos lineamentos e traços de fratura regionais e/ou locais, aspectos estes que facilitam a delimitação de áreas suscetíveis à erosão. A análise de drenagem foi efetuada em conjunto com o estudo do relevo e litológico, na interpretação, procurou-se também fazer a associação desses elementos, admitindo-se que são condicionados por fatores estruturais ou litológicos que comandam a rede de drenagem, através de processos atuantes sobre o substrato da região. Análise fisiográfica do vale do rio Acaraú: A fisiografia de uma área está relacionada com a geomorfologia, com a qual se confunde frequentemente. Para gerar o mapa fisiográfico da área de estudo, foi elaborada uma legenda geral, o modelo poderá ser aplicado em outras regiões. Mas precisará de ajustes necessários para adequação da fisiografia local. Nas bases da escarpa da serra da Ibiapaba(CE), área mapeada, foi verificada a presença de colúvios, compondo depósitos de tálus com conglomerados subatuais. A presença de material arenoso capeia interflúvios tabuliformes, capeado por sedimentos recentes e paleosedimentos (areias avermelhadas). Na mesma mostram-se eventos paleogeográficos acidentados, representados por altos e baixos estruturais, e que por sua vez se sucedem como altos e baixos topográficos, os quais permitem deduzir que a formação se originou em épocas pretéritas (Oligoceno/Mioceno Inferior) em ambiente mais seco, passando por um ambiente flúvio marinho com processo de intemperismo entre o Mioceno Médio ao Plioceno Médio por latossolizando (laterizando/plintificando) profundamente, sendo truncado durante o plioceno superior e apresentando um processo incipiente de alteração caracterizado pelo horizonte Cambico desenvolvendo-se a partir dos substratos arenosos (arcosianos) plintificados, ainda não totalmente destruídas por esta ação de mudança incipiente e fraca melanização provinda da passagem dos ambientes alagados para mais oxidados que promoveram a humificação, durante o Pleistoceno ½ a superior recoberto por um ciclo de forte erosão em ambiente mais úmido com grande processo de lixiviante durante o pleistoceno superior e de grande poder erosivo que destruiu os mantos lateriticos que passaram para ambientes mais secos/aridicos, onde foi gerada as lagoas estuarinas com contribuição nelas de restos de lateritas mais antigas que foram sendo erodidas com soerguimento desta serra e que foram gerados no terciário inferior. As análise de campo e laboratório indicaram ambiente com laterização cruzada, material sedimentado oriundo de planície de inundação pretérita com concreções vermiforme, indicativos de sorterramentos e gleização.

Conclusões

Os estudos aplicados neste trabalho integrando técnicas de fotointerpretação em conjunto com trabalhos de campo e laboratoriais são de grande importância para entendimento dos processos dinâmicos das paisagens e de suas unidades fisiográficas. A amostras de rochas e solos representativas das diversas paisagens fisiográficas analisados em campo e laboratório demonstram processos policíclicos de transgressão e regressão marinha, associados a ações superimpostas dos ecossistemas fluviais e eólicos atuais e/ou recentes, estes processos e fatores estão presentes na modelagem da paisagem formando vales escarpados, capeados por formações lateríticas depositadas a montante e jusante do rio Acaraú e áreas circunvizinhas que formam as bacias hidrográficas do rio Coreaú e bacia hidrográfica do Litoral.

Agradecimentos

CAPES (PNPD), MESTRADO EM GEOGRAFIA (MAG)- UVA - CE, FAPESP, FUNDUNESP, UNESP (CAMPUS DE RIO CLARO - SP), LABORATÓRIO DE ESTUDOS AMBIENTAIS (LEA)– CURSO DE GEOGRAFIA, PARFOR - UVA, FUNCAP, CNPq.

Referências

AQUASIS, Associação dos ecossistemas aquáticos. Zoneamento ecológico da zona costeira do Estado do Ceará, 2003.

CPRM – Serviço Geológico do Brasil. Instruções e procedimentos de padronização no tratamento digital de dados para projetos de mapeamento da CPRM: manual de padronização. Rio de Janeiro. v. 2, 2005.

CLAUDINO SALES, V., PEULVAST, J.P. Dunes generations and ponds in the the coas tal area of Ceará State, Northeast Brasil. In: ALLISON, R. Applied Geomorphology: Theory and practice. London: John Willey and Sons, cap. 20, p. 423-443, 2002.

CUNHA, S. B. & GUERRA, A. T. (organizadores). Geomorfologia do Brasil. 3a ed. - Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2003, 392p.

DINIZ, S.F.; RUEDA, J. JIMENÉZ. CARACTERIZAÇÃO FISIOGRÁFICA E PEDOLÓGICA DA REGIÃO NORTE DO ESTADO DO CEARÁ. Tese, p. 132, UNESP, Rio Claro, São Paulo, 2010.

EMBRAPA, Empresa Brasileira de Agropecuária. Consultado em: <http://www.embrapa.br>. Acesso em: 10 jun. 2007.

EMBRAPA. Centro Nacional de Pesquisa de Solos. Sistema brasileiro de classificação de solos. Brasília, Embrapa Produção de Informação; Rio de Janeiro: Embrapa Solos, 1999. 412p.

IPECE - INSTITUTO DE PLANEJAMENTO DO CEARÁ. Anuário estatístico do Ceará 2002. (cd room). Governo do Ceará: Fortaleza, 2002.

GOOSEN, D. Physiography and soils of the Llanos Orientales, Colombia. Enschede: Publications of the International Institute for Aerial Survey and Earth Sciences (ITC),199p, 1971.

LEITE, C. E. S. et. al. Recursos hídricos. In: IPLANCE. Atlas do Ceará. Fortaleza, 1997.


NASCIMENTO, Flávio R. do. Recursos Naturais e Desenvolvimento Sustentável: Subsídios ao gerenciamento geoambiental na sub-bacia do Baixo Pacoti – CE. (Dissertação de Mestrado), 154p. UECE: Fortaleza, 2003.

NIMER, Edmond. Climatologia do Nordeste. IN: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Geografia do Brasil. v. 2. Região Nordeste. Rio de Janeiro: IBGE, 1977, p. 47-84.

PROJETO ÁRIDAS. Grupo de Trabalho 1, Recursos Naturais e Meio Ambiente. Vol. 2, Governo do Estado do Ceará. Fortaleza, 73p.,1995.

NASCIMENTO. Flávio R. do. Recursos Naturais e Desenvolvimento Sustentável: Subsídios ao gerenciamento geoambiental na Sub-Bacia do Baixo Pacoti – CE. Dissertação (Mestrado em Geografia), 154p. UECE: Fortaleza, 2003.

RADAMBRASIL. Levantamento de recursos naturais. Rio de Janeiro, Ministério de Minas e Energia, 1981.

SILVA, Edson V. da. Geoecologia da Paisagem do Litoral Cearense: uma abordagem ao nível de escala regional e tipológica, (Tese de professor Titular) UFC, p 217, 1998.

SOUZA, M. P. Instrumentos de Gestão Ambiental: Fundamentos e Prática. São Carlos. Ed. Riani Costa. 112 p., 2000.

SOUZA, Marcos J. N. de. Geomorfologia e condições ambientais dos vales do Acaraú/Coreaú – Ceará. (Tese). São Paulo: USP, 305p., 1981.

SOUZA, M.J.N. Contribuição ao Estudo das Unidades Morfoestruturais do Estado do Ceará. Rev. de Geologia v.1, ed. UFC. Fortaleza, p.73-91. 1988.

SOUZA, M.J.N. M. R. F. F. Análise geoambiental com aplicação de geotecnologias nas nascentes do riacho dos Macacos: bacia do rio Acaraú-Ce. Anais XII Simpósio Brasileiro de Sensoriamento Remoto, Goiânia, Brasil, 16-21 abril INPE, p. 2161-2168, 2005.

STANFORD. J. P.; Ribeiro, A. G.; Barros, M. J. G. & Fonseca, R. A. Geologia-Potencial dos Recursos Hídricos. In: Projeto RADAMBRASIL. Folha AS. 24. Fortaleza. Rio de Janeiro: Ministério da Minas e Energia. 1981.

ZANELLA. M. E. As características climáticas e os recursos hídricos do Estado do Ceará. Ceará: um novo olhar geográfico. Edições Demócrito Rocha. Fortaleza, p. 127-140, 2005.


APOIO
CAPES UEA UA UFRR GFA UGB