ANÁLISE DAS PRECIPITAÇÕES NO INTERVALO DE 1979 À 2009, DA SUB-BACIA DO RIO FIGUEIREDO E A SUSCEPTIBILIDADE À INUNDAÇÃO DA ÁREA URBANA DE IRACEMA-CE.

Autores

Maia, B.M.A. (UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ) ; Costa, C.A. (UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ)

Resumo

O presente estudo trata da identificação das maiores precipitações no intervalo de 1979 à 2009, possibilitando entender o regime de cheias da sub-bacia do Figueiredo e seus reflexos na área urbana do município de Iracema. O procedimento adotado foi a análise quantitativa de dados de pluviometria em dois pontos da sub-bacia. Os resultados demonstraram a relação das precipitações e a cheia de 2009, um evento com intensidade de precipitações máximas diárias que provocaram as inundações na área.

Palavras chaves

Inundação; Precipitações; Rio Figueiredo

Introdução

Os rios constituem os agentes mais importantes no transporte dos materiais intemperizados que são escoados para os canais, no qual as condições climáticas, litológicas e cobertura vegetal influenciam diretamente no processo e na forma de drenagem de uma bacia hidrográfica (CHRISTOFOLETTI, 1980). A partir dos diferentes usos econômicos e sociais, aos quais os ambientes fluviais estão submetidos, os problemas ambientais decorrem de fortes mudanças em seu espaço natural, associadas às obras hidráulicas e principalmente ao desmatamento das margens, que acabam por modificar significativamente a dinâmica fluvial. No passado, as enchentes eram consideradas benéficas, pois, permitia o aporte de material rico em nutrientes desejáveis à agricultura das várzeas. No entanto, na atualidade, as enchentes têm provocado impactos ambientais diferenciados, principalmente nas áreas urbanas, pois a maioria das cidades se desenvolveram as margens desses ambientes (PINHEIRO, 2007). As possibilidades de inundações dos canais aumentam devido aos rios não encontrarem o caminho natural livre para fluir suas águas, sendo resultado do desmatamento, que aumenta o ataque erosivo culminando no assoreamento do canal fluvial, fatores esses, que acabam por provocar a sua expansão lateral. As inundações que ocorrem nas áreas ribeirinhas são também causadas pela variabilidade temporal e espacial das precipitações e do escoamento na bacia hidrográfica (TUCCI, 2008). O rio Figueiredo é um dos principais afluentes da margem direita do rio Jaguaribe em seu médio curso, localizado na porção Leste do Estado do Ceará, que drena uma área de aproximadamente 2.320 Km² (SOUSA, 2012). Inserido na região semiárida do Nordeste, na qual condiciona uma criticidade no regime hídrico em função das condições climáticas decorrentes das baixas precipitações, associado à irregularidade temporal e espacial das chuvas e a um panorama geológico- geomorfológico, sendo basicamente constituído de rochas cristalinas.

Material e métodos

Para se obter uma análise das precipitações da sub-bacia, fez-se uso dos registros de monitoramento da Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Naturais (FUNCEME), e da Agência Nacional de Águas (ANA). Foram escolhidas as estações pluviométricos de Iracema (549) e Pereiro (603), devido serem as únicas estações na sub-bacia que apresentam um maior tempo de registros e regularidade de dados e por estarem localizados a montante da área inundada (FIGURA 01). As médias da precipitação obtidas correspondem a uma série histórica de 1979 a 2009, um período de 30 anos, no qual se aplica “cálculos dos valores das normais climáticas” (AYOADE, 2001, p.206), em que se observam as flutuações ou variações climáticas. Após isso, foi elaborado gráficos com os valores mensais de precipitação para maior facilitar a análise do regime de precipitações nos pontos de monitoramento. Analisou-se as médias anuais, mensais e diárias de precipitação para identificação dos períodos de maior pluviometria. A partir desses dados, foi elaborado hidrogramas de precipitações máximas diárias referente a quadra chuvosa de janeiro a abril através do programa Excel 2013.

Resultado e discussão

Para o entendimento da ocorrência de inundações em uma cidade é importante compreender o comportamento climático, e mais especificamente o regime pluviométrico da região. A evaporação média anual obtida com base no posto de Morada Nova, atinge 2.235mm, sendo o máximo em setembro (estação seca) com 305mm e o mínimo de 105mm em abril (estação chuvosa), apresentando uma média pluviométrica anual de 872,2 mm, característica estas típicas do Nordeste semiárido brasileiro (CEARÁ, 2003). Durante a série de 30 anos (Gráfico 1), registou-se na estação de Iracema 10 anos de precipitações acima da média histórica. Todavia, mais da metade do período analisado, cerca de 16 anos foram de períodos de seca e apenas 05 dentro da normalidade. Ressalta-se que o trimestre setembro-novembro apresenta as menores precipitações, contrastando com o trimestre fevereiro-abril considerado mais chuvoso do ano, dentro do semestre chuvoso de janeiro-junho. Em termos de totais anuais, o valor esperado para a precipitação é de 872mm, numa variação de 270,1mm para o ano de 1983 (mais seco) e de 1651,2 mm para o ano de 1985 (mais chuvoso). A precipitação máxima diária é definida como a ocorrência extrema, com duração, distribuição temporal e espacial crítica para uma área ou bacia hidrográfica e a sua análise é um dos caminhos para reconhecer uma vazão de enchente (MARTINS, 2011). Em análise dos eventos pluviométricos intensos de 1979 a 2009 como mostra o gráfico 01, destacam-se os episódios intensos ocorridos no dia 08 de fevereiro de 2000 com 103,2 mm; no dia 28 de janeiro de 2002 com 125 mm; no dia 28 de janeiro de 2004 com 112,4 e dia 23 de janeiro de 2009 com 134 mm na cidade de Iracema.De acordo com os dados da frequência de precipitações máximas diárias, observa-se que as maiores chuvas correspondem aos anos de 1984 (92,4 mm), 2000 (103,2 mm) e 2009 (134 mm) possuem um tempo de retorno em média de 5 a 20 anos. Os referidos episódios são, na maioria das vezes, enquadrados na categoria de eventos naturais extremos, pois “as chuvas se tornam particularmente catastróficas quando se precipitam em grande quantidade e num lapso de tempo muito curto. São chamadas de precipitações torrenciais” (CONTI, 1998, p. 34). Ressalta-se que entre as décadas de 1970 a 1990 a precipitação apresentava médias diárias de 80mm. A partir do ano 2000, intensifica-se os eventos pluviométricos intensos com médias diárias de 100mm a 134mm, implicando num escoamento fluvial intenso em curto período de tempo, não possibilitando assim a concentração de água na bacia durante a estação chuvosa.


Localização da área e dos postos pluviométricos analisados.

Gráfico 01

Precipitação anual e de máximas diárias no posto de Iracema.

Conclusões

Os métodos utilizados no presente trabalho permitiram identificar transformações ocorrentes nas máximas diárias de precipitação entre os anos 1979 e 2009. No ano 2009, marcado por uma cheia, pôde-se observar que nos índices de precipitação diária atingiu valores acima de 130mm, sendo que a média ficou em torno de 80mm, sendo responsável pela inundação de parte da cidade de Iracema. Outro agravante, relaciona-se aos aspectos físico-natural da sub-bacia, marcada pelo domínio de rochas cristalinas que condiciona escoamento intenso na bacia, acentuando a vulnerabilidade da região durante os eventos pluviométricos intensos.

Agradecimentos

Ao professor Cleuton Almeida da Costa pelo apoio e orientação deste trabalho. À Universidade Estadual do Ceará – campus da FAFIDAM pela concessão de bolsa de estudo em iniciação científica pela Pró-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa – PROPGPQ.

Referências

AYOADE, J. O. Introdução à Climatologia para os trópicos. 4º ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2001.
CEARÁ. Secretaria de Recursos Hídricos. Barragem do Figueiredo. Fase III - Estudos Básicos e Concepção Geral do Projeto: Volume I - Estudos Hidrológicos. Relatório, Junho 2003.
CHRISTOFOLETTI, A. Geomorfologia. 2° ed. São Paulo, Edgard Blucher, 1980.
FUNDAÇÃO CEARENSE DE METEOROLOGIA E RECURSOS NATURAIS – FUNCEME. Séries históricas de chuvas dos postos pluviométricos. Disponível em: <http://www.funceme.br/index.php/areas/tempo/download-de-series-historicas> Acesso em: 11/01/14.
MARTINS, C. A. da S.; ULIANA, E. M.; REIS, E. F. dos Estimativa da vazão e da precipitação máxima utilizando modelos probabilísticos na bacia hidrográfica do rio benevente. Enciclopédia Biosfera, Centro Científico Conhecer - Goiânia, vol.7, N.13; 2011 Pág. 1130- 1142.
PINHEIRO, A. Enchente e Inundações. In: SANTOS R. F. dos. (org.). Vulnerabilidade Ambiental: Desastres naturais ou fenômenos induzidos? Brasília: Ministério do Meio Ambiente, 2007, p. 95-106.


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