USO DA TERRA DA SUB-BACIA HIDROGRÁFICA DO RIACHO LUNGA/AL.

Autores

Pontes, D.S. (UNIVERSIDADE ESTADUAL DE ALAGOAS) ; Fonsêca, J.W.L. (UNIVERSIDADE ESTADUAL DE ALAGOAS) ; Silva, C.B. (UNIVERSIDADE ESTADUAL DE ALAGOAS) ; Silva, G.F. (UNIVERSIDADE ESTADUAL DE ALAGOAS) ; França, E.B. (UNIVERSIDADE ESTADUAL DE ALAGOAS)

Resumo

O presente trabalho aborda o mapeamento do uso da terra na sub-bacia hidrográfica do riacho Lunga/AL, contribuinte do médio curso do rio Coruripe/AL. O levantamento de dados ocorreu através de pesquisa in locu, com informações sobre a influência humana na região, onde predomina a pastagem, e cultivos de subsistência, além de grande impacto nas margens dos rios em decorrência do uso intenso dessas áreas, por conseguinte foi feito o mapeamento caracterizando ou espacializando tais dados.

Palavras chaves

Riacho; Solo; Mapeamento

Introdução

As bacias hidrográficas são importantes unidades de estudo, por compreender o funcionamento dos processos de escoamentos das águas e suas dinâmicas. Essas não drenam apenas água, mas também sedimentos e demais detritos de origem antópica. Ao serem estudadas devem-se levar em consideração outros aspectos além das precipitações, dentre estes a cobertura vegetal da área drenada, solo e rochas e as ações humanas (NOVO, 2008; BOTELHO, 2010; CHRISTOFOLETTI, 1980). Através do estudo desses sistemas fluviais é possível compreender os processos fisiográficos atuantes na região. A temática deste artigo refere-se ao mapeamento do uso da terra solo na sub- bacia hidrográfica do riacho Lunga/AL, o riacho Lunga é um afluente do Rio Coruripe/AL, na qual compreende uma pequena extensão do médio curso do mesmo. Sua área fluvial é temporária, com enchentes no período chuvoso de maio a julho, e na época da estiagem apenas alguns focos com água. A fim de buscar uma compreensão detalhada sobre o uso da terra na sub-bacia hidrográfica do riacho Lunga, se faz necessária à construção do mapa temático a respeito do mesmo (IBGE, 2006). Esse é um trabalho em andamento, levando em consideração o estágio da pesquisa. Junto a esse mapa pode-se buscar um entendimento sobre processos e situações presentes ao longo da sub-bacia, identificando os principais usos que ocorrem na área em estudo, bem como os impactos ambientais causados no riacho. A construção desses mapas tem como suporte caderneta de campo, que por sua vez favorece o relato da área visitada, assim como o resultado das coordenadas com o auxílio do GPS e a delimitação por meio do mapa da bacia do rio Coruripe. Constatou-se o domínio da pecuária extensiva, com um maior número da criação bovina (corte e leite), e seguido pela criação de ovelhas. Outro fator relevante é o lixo (lixão) as margens do riacho Lunga. Ainda são perceptíveis alguns focos de queimadas próximas às residências e os impactos causados pelas atividades humanas locais.

Material e métodos

A sub-bacia hidrográfica do riacho Lunga faz parte da rede hidrográfica do rio Coruripe, que por sua vez possui influência relevante tanto social quanto natural na sua área drenada. Ela drena as terras pertencentes aos municípios de Palmeira dos Índios, Belém, Igaci e Tanque D’Arca todos municípios alagoanos. O aporte teórico que foi discutido permeia as discussões aqui apresentadas no processo de analise do mapeamento do uso da terra. Esses estudos segundo o IBGE (2006, p.20), “comporta a análise e mapeamentos e é de grande utilidade para o conhecimento atualizado das formas de uso e de ocupação do espaço, constituindo importante ferramenta de planejamento e de orientação à tomada de decisão”. Levantamentos realizados em campo permitiu coletar dados pertinentes a área de estudo, especificamente sobre temas relacionados ao processo de mapeamento e de desvelamento desta realidade, como: coordenadas, recursos hídricos, uso do solo, impactos ambientais, além de observações gerais sobre a área da pesquisa. A realização do trabalho de campo teve como objetivo a observação e análise dos processos atuantes da sub-bacia do riacho Lunga, dando ênfase a relação sociedade-natureza e as condições do uso da terra. Antes da visita a campo propriamente dita, foram realizadas preparações técnicas a fim de favorecer o bom desempenho em campo. “Os trabalhos de campo constituem uma metodologia que engloba a observação, a análise e a interpretação de fenômenos no local e nas condições onde eles ocorrem naturalmente.” (NEVES, 2010. p. 15) Os elementos observados em campo por sua vez são melhores compreendidos com o uso da caderneta de campo, levando em conta o fato de a mesma conter boa parte do relato das observações e situações vivenciadas em campo. O bom aproveitamento dessa caderneta proporcionará um reconhecimento mais profundo da realidade estudada (VENTURI, 2005). Essas informações serviram de base para a realização do mapeamento de uso da terra da sub-bacia hidrográfica.

Resultado e discussão

O levantamento do uso da terra é importante no processo para planejamento territorial, mas também para evidenciar as relações sociedade-natureza. No mapeamento de uso da terra da sub-bacia hidrográfica do riacho Lunga, foram identificados os principais usos existentes: pastagem, milho (cultura de subsistência), e na cobertura vegetal pode-se constatar a ausência da vegetação ciliar, que está associada ao uso mais intensivo com a dessedentação dos animais (mapa 1). O sistema hidrográfico do riacho Lunga é formado por um canal meândrico do médio para o baixo curso, onde apresenta em seu leito curvas sinuosas e a sua planície alaga nos períodos das chuvas. A hierarquia de drenagem demostra a ramificação dessa sub-bacia com muitos canais de drenagem de primeira ordem, essa ramificação também é ressaltada no padrão de drenagem dendrítico. Esses cursos d’água apesar de serem intermitentes são importantes por fornecer esse importante recurso para a manutenção da pecuária, principal atividade econômica, que predomina na área estudo. Historicamente a pecuária é atividade que predomina na região e as formas que é praticada ainda é de forma tradicional, onde outras formas de técnicas que impactem menos os recursos naturais não são praticadas. O uso do solo refere-se ao desenvolvimento da pecuária, onde as áreas de mata são substituídas pelo pasto. Em alguns lugares não é possível observar a calha do rio por está coberta por capim. A pecuária ainda provoca o tombamento das margens dos cursos d’água, devido ao pisoteamento do gado nessas localidades, deixando-o mais denso, impróprio para a agricultura e até mesmo a pastagem, como também o próprio riacho perde sua estrutura natural, uma vez que alarga mais as suas margens, fatores esses que explicam as enchentes. O solo do riacho Lunga ainda é usado para o cultivo da palma, de forma pontual, que serve de alimentação para os animais (bovinos, caprinos, equinos, ovinos, entre outros), porém os proprietários da terra plantam a palma numa disposição inadequada, que culmina com o processo de erosão do solo, pois os mesmos ficam mais propensos a serem carreados pelas águas. Onde a qualidade do solo faz-se fundamental para uma melhor produção da agricultura. É importante lembrar que o homem usa o solo cada vez mais de maneira errada, através da sua substituição pela pecuária, depósito de lixo as margens dos ambientes fluviais. O maior problema da erosão em terras com vocação agrícola consiste na eliminação da capa superficial do solo, importante por seu conteúdo em matéria orgânica e frações minerais finas, as quais garantem a nutrição indispensável ao crescimento dos vegetais. (MAFRA, 2010. p. 307) No período do inverno usa-se o solo para a agricultura de subsistência, com predominância do milho nos terrenos próximo as margens do riacho Lunga. A degradação do solo na sub-bacia da área de pesquisa, ainda é vista pela presença de um lixão as margens do riacho Lunga, que além de degradar o solo, poluem as águas do riacho, e determina a morte de várias espécies de peixes. O uso do solo nas condições já citadas é comum não apenas na área que abrange o riacho Lunga, mas em todo o Estado de Alagoas. O mapeamento evidencia a realidade do riacho Lunga já que chama a atenção para o fato de a pastagem ser o principal fator de uso deste solo, mas também para o fato que outros impactos são causados pela sua prática nesta sub-bacia. A existência de pequenos barramentos para a dessedentação animal causa o pisoteio nas margens dos cursos d’água, assim como a inexistência de uma vegetação ciliar para que os animais possam ter acesso a essas fontes de água. As margens dos rios desprotegidas provocam outros problemas na dinâmica fluvial destes cursos d’água, como o assoreamento do canal, seja pelo carreamento direto de sedimentos ou pelo tombamento das margens dos mesmos. A ação humana se acentua nas proximidades das calhas dos riachos, esse ambiente torna-se mais susceptível a degradação.

Mapa 1

Mapeamento do uso do solo na sub-bacia hidrográfica do Riacho Lunga/AL

Conclusões

O Riacho Lunga possui um regime fluvial temporário, o que torna essa área mais instável no uso que a comunidade lhe atribui. A existência de barramentos ressalta a importância da água, ao mesmo tempo em que o uso do solo, canal e as terra que drenam mostram a incompreensão dos mesmos sobre o seu funcionamento e não percebem que as suas ações degradam o solo e as águas dessa bacia. A pastagem é atividade econômica que predomina na região, inclusive em um contexto histórico. Associado a ele vem às culturas de subsistência com destaque para o milho. Outros usos associados a pastagem ocorrem de forma pontual como o cultivo da palma, além dos barramentos ao longos dos canais. Em períodos chuvosos ocorrem enchentes e em períodos de estiagens apenas alguns pontos encontra-se água, justamente nos barramentos. Vale ressaltar que a degradação está sendo exercida pela ação antrópica, destacado aqui pela ausência da mata ciliar e os focos de lixão.

Agradecimentos

Referências

FONSECA, Ariadne do Carmo. Geoquímica dos solos. In: GUERRA, Antonio José Teixeira; SILVA, Antonio Soares da; BOTELHO, Rosangela Garrido Machado (orgs.). Erosão e conservação dos solos: Conceitos, Temas e Aplicações. 6ª ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2010.
GUERRA, Antonio José Teixeira; MARÇAL, Mônica dos Santos. Geomorfologia Ambiental. 3ª ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2010.
INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Manual Técnico do uso da terra. 2ª ed. Rio de Janeiro: Ministério do Planejamento, orçamento e gestão, 2006.
MAFRA, Neusa Maria Costa. Erosão e planificação de uso do solo. In: GUERRA, Antonio José Teixeira; SILVA, Antonio Soares da; BOTELHO, Rosangela Garrido Machado (orgs.). Erosão e conservação dos solos: Conceitos, Temas e Aplicações. 6ª ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2010.
NEVES, Karina Fernandes Travagim Viturino. Os trabalhos de campo no ensino de geografia: reflexões sobre a prática docente na educação básica. Ilhéus - BA: Editus, 2010. 139 p.
SALOMÃO, Fernando Ximenes de Tavares. Controle e preservação dos processos erosivos. In: GUERRA, Antonio José Teixeira; SILVA, Antonio Soares da; BOTELHO, Rosangela Garrido Machado (orgs.). Erosão e conservação dos solos: Conceitos, Temas e Aplicações. 6ª ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2010.
VENTURI, Maria Alice. Relato do trabalho de campo. In: VENTURI, Luis Antonio Bittar (Org.). Praticando Geografia: técnicas de campo e laboratório em geografia e análise ambiental. São Paulo: Oficina de Textos, 2005.


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