Análise da Vulnerabilidade à Erosão no Município de Barra - Bahia

Autores

Pinheiro, L. (UNIVERSIDADE ESTADUAL DE FEIRA DE SANTANA) ; Souza, D. (UNIVERSIDADE ESTADUAL D FEIRA DE SANTANA)

Resumo

O município de Barra localiza-se na região do Médio São Francisco, nos limites com o Oeste da Bahia. Os usos e as formas de ocupação das terras aliado as características naturais (litologia, solos, aspectos geomorfológicos, vegetação, declividade) influenciam diretamente nos índices de vulnerabilidade à erosão que por sua vez, está concomitantemente ligado ao balanço entre a morfogênese e a pedogênese na esculturação do modelado e consequentemente na conformidade da paisagem.

Palavras chaves

Erosão; Morfogenético; Vulnerabilidade

Introdução

Historicamente o município de Barra já foi um dos mais importantes do estado da Bahia, quando o transporte fluvial era o principal meio de trafego das mercadorias e das pessoas. Não obstante sua relevância histórica e cultural, Barra apresenta uma configuração natural bastante singular, com a presença de rios importantes como o Rio Grande e o Rio São Francisco; a Serra do Estreito que corta o município na direção N-S com mais de 100 km de extensão e picos de altitude que ultrapassam os 800 metros; os campos dunas pleistocênicas do Médio São Francisco na porção Nordeste; além das áreas dos Brejos. A constante atuação antrópica na utilização dos recursos naturais tem modificado a dinâmica das paisagens, a forma como o homem se apropria e utiliza as terras causa impactos sociais e físicos, o fator erosão é um destes aspectos intensificados ou não de acordo com a intensidade e formas da atuação antrópica no referido município. O presente trabalho, portanto, pretendeu desenvolver uma modelagem dos índices de vulnerabilidade à erosão, para caracterizar e explicitar as áreas onde apresentam os maiores índices e desta forma, maior morfogênese (processos de esculturação das formas) e outras áreas onde apresentam menores índices e desta forma, maior pedogênese (processos de formação de solos), com o objetivo de caracterizar as interações pedo-geomorfológicas do município de Barra, enfocando tanto a atuação do homem, quanto a relevância da tipologia de solo, das formas de relevo, dos tipos de vegetação, dos tipos de rochas e da declividade.

Material e métodos

Este artigo baseou-se na metodologia de Ross, (1994) que adaptou a metodologia de Unidades Ecodinâmicas de Trincart (1977), e dentre os vários aspectos físicos considerados ele pontua o fator erosivo de forma determinante na resposta dos solos sobre a morfodinâmica da paisagem que consequentemente repercute nos índices de morfogênese e pedogênese. Para realização do trabalho, foram seguidas as seguintes etapas: aquisição de dados; ponderação dos atributos de cada variável da paisagem; confecção da modelagem de vulnerabilidade à erosão e posterior análise. Como passo inicial houve a busca da fundamentação teórico- conceitual para a escolha da metodologia mais adequada, em seguida foram confeccionados os mapas temáticos, compilados pelo SIG-BA (2003) e do Modelo Digital de Terreno (MDT), com resolução espacial reamostrada para 30 metros, disponível através do Banco de Dados Geomorfométricos do Brasil (TOPODATA), a partir do qual foi gerada a variável de declividade. A segunda etapa constitui- se na ponderação das classes e reclassificação das mesmas, para os mapas de geologia, geomorfologia, solos, usos do solo e cobertura vegetal e declividade. Os mapas em questão foram gerados a partir do banco de dados do SIG-BA, com escala cartográfica de 1:1.000.000, todos estes foram recortados de acordo com o limite do município. Em seguida esses recortes foram convertidos para o formato raster, com pixel de 30 m. A partir do MDT foi gerado o subproduto com os dados de declividade do município. Logo após, os mapas gerados foram reclassificados conforme a ponderação atribuída a cada classe dentro do modelo. A terceira etapa foi procedida pela confecção do mapa da vulnerabilidade à erosão, a modelagem propriamente dita, na qual se utilizou o algoritmo de média ponderada. Neste, as variáveis utilizadas no desenvolvimento do modelo tiveram pesos diferenciados, de acordo com a sua relevância para a temática escolhida e por fim seguiu-se a análise do produto final da modelagem.

Resultado e discussão

A litologia divide-se em sete litotipos: Areia e Argila; Filito e Quartzito; Filito, Quartzito e Xisto; Granito, Granodiorito e Tonalito; Ortognaisse e Paragnaisse; Sedimento Detrito-Lateríticos e Sedimento Eólico (SIG BA, 2003). De forma geral, todo o município está composto de rochas duras, por isso apresentam uma baixa vulnerabilidade, enquanto que as porções ocupadas pelos sedimentos tem alta vulnerabilidade. Geomorfologicamente apresenta quatro unidades: Pedimentos Funcionais ou Retocados por Drenagem Incipiente, Pediplano Sertanejo, Região de Acumulação e Serras Setentrionais da Serra Geral do Espinhaço (SIG BA, 2003). Quanto ao aspecto da declividade do terreno, estas variam de 0-2,00 à 21,65- 51,12 (Figura 2). Quanto as formas do relevo são classificadas em planas e acidentadas, áreas serranas com maiores altitudes, mais acidentada e com maior declividade(Serra do estreito) mais vulneráveis aos processos erosivos e as regiões mais planas e menor declividade(Pedimentos Funcionais) menos vulneráveis à erosão. A tipologia de solos pode ser analisada pela sua composição mineralógica e litológica, pela sua susceptibilidade à erosão e distribuição, ainda podem variar de acordo com o padrão do relevo, de modo que existem cinco classes de solos: Latossolo Vermelho Amarelo Distrófico, Neossolo Flúvico Eutrófico, Neossolo Quartzarênico,Neossolos Litólicos Distróficos e Planossolo Nátrico Órtico (SIG BA, 2003). Assim, por meios desses parâmetros os tipos de solos foram classificados em mais ou menos vulneráveis a erosão, sendo os primeiros por ordem: Neossolo Quartzarênico, Neossolo Flúvico Eutrófico e Neossolos Litólicos Distróficos; e o mais resistente ao processo erosivo o Latossolo Vermelho Amarelo Distrófico. A vegetação associada aos usos da terra oferece importante registro para análise da paisagem do município, além de ser uma variável indispensável na composição do mapa de vulnerabilidade à erosão. Para a vegetação foram registradas oito classes, analisadas com o uso e ocupação das terras: Arbórea Aberta, Arbórea Densa, Atividades Agrícolas, Estepe-Floresta Estacional, Parque, Savana-Estepe, Submontana, Vegetação Secundária e Atividades Agrícolas (SIG BA, 2003). As regiões identificadas como mais vulneráveis foram as de Savana (cerrado), Estepe (caatinga) e Atividades Agrícolas, e as menos vulneráveis as áreas de vegetação mais densa Arbórea Densa e Submontana.Portanto foram analisadas todas estas variáveis de forma conjunta para gerar o mapa de vulnerabilidade à erosão (Figura 1). Foram registrados três níveis de vulnerabilidade à erosão: Baixa (2), Média (3) e Alta (4). O primeiro está representando a maior incidência de processos pedogenéticos (formação de solo), pois os processos erosivos são menos representativos, o segundo está em um estágio intermediário, em certo equilíbrio entre a pedogênese e a morfogênese e os processos erosivos ocorrem, mas de forma que não altera tanto a dinâmica natural e o terceiro nível está representando uma maior proeminência da morfogênese (esculturação do modelado), então os processos erosivos são bastante representativos, nessas áreas de acumulação de sedimentos. A maior parte do município está identificada nos dois primeiros níveis Baixa e Média, indicando um balanço morfogenético positivo das vertentes e áreas de entorno, desta forma o modelado evoluí mais lentamente, pois a litologia é mais resistente, a cobertura vegetal é mais densa protegendo os solos e a ação antrópica é menor. As áreas onde foram registradas uma Alta vulnerabilidade estão localizadas na porção Nordeste do município, é onde predominam os processos de morfogênese em detrimento da pedogênese, o balanço então fica negativo e a evolução do modelado se dá de forma mais rápida e instável, os processos erosivos e intempéricos são mais atuantes, a cobertura vegetal é mais rarefeita o que deixa o solo mais exposto, além da atuação antrópica, o que acaba por maximizar os processos de esculturação do modelado.

Figura 1.

Mapa de Vulnerabilidade à Erosão do Município de Barra - Bahia

Figura 2.

Mapa de Declividade do Município de Barra - Bahia

Conclusões

A maior parte do município foi classificada de Baixa à Média vulnerabilidade à erosão, o que permite observar um balanço positivo entre a morfogênese e a pedogênese, pois os condicionantes utilizados para composição da modelagem garantem uma maior resistência natural à erosão e intemperismo, além de menor declividade e os processos não demonstrarem-se representativos, o que mantém a evolução da paisagem como um todo de forma mais lenta e equilibrada, com mais áreas de formação de solo do que denudação e transporte de sedimentos. Enquanto que, no outro extremo do município têm-se as áreas de Alta vulnerabilidade, onde os processos de erosão atuam com muita representatividade e são áreas de declividade acentuada, além de serem potencializados pelas características naturais e ação do homem, portanto a morfogênese atua com mais proeminência do que os processos de formação de solo.

Agradecimentos

Referências

BANCO DE DADOS GEOMORFOMÉTRICOS DO BRASIL (TOPODATA). 2012. Disponível em: < http://www.dsr.inpe.br/topodata/>. Acesso em junho/2014.
PENTEADO, M.M.O. Geomorfologia. Rio de Janeiro, Editora IBGE, 1980, 185p.
ROSS, J. L. O Registro Cartográfico dos Fatos Geomórficos e a Questão da
Taxonomia do Relevo. In:Revista do Departamento de Geografia. São Paulo: EDUSP, n.6, pag. 17-30, 1992.

ROSS, J. L.. Análise empírica da fragilidade dos ambientes naturais e antropizados. In.: Revista do Departamento de Geografia. Número 8, p. 63-74. 1994.

SISTEMA DE INFORMAÇÕES GEOGRÁFICAS DO ESTADO DA BAHIA (SIG-BA). 2003. Disponível em: < http://www.sigbahia.ba.gov.br/>
VALERIANO, M. M. ; ROSSETTI, D. F. Topodata: Brazilian full coverage refinement of SRTM data. Applied Geography, v. 32, pp. 300-309, 2012.


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