RELAÇÃO ENTRE SÍTIO GEOMORFOLÓGICO E COBERTURAS SUPERFICIAIS EM UMA VERTENTE DA BACIA DO RIBEIRÃO MACUCO, DEPRESSÃO DE BELO HORIZONTE - MG

Autores

Messias, R.M. (UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS) ; Zanovello, R.D. (PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS) ; Viana, V.M. (UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS) ; Simões, J.G.G. (UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS)

Resumo

A análise do gradiente topográfico é utilizada neste estudo para delimitar quatro sítios geomorfológicos em uma vertente do alto rio Paraopeba - MG. No segmento correspondente ao sítio 2 foram realizadas descrição e coleta de amostras para análise de granulometria e pH. Os resultados apontam que componentes exógenos e endógenos (intemperismo, processos erosivos e material parental)controlam a formação e evolução das coberturas superficiais encontradas.

Palavras chaves

Vertente; Ruptura de Declive; Regolito

Introdução

O estudo dos fenômenos ambientais do Quaternário, dentro de suas perspectivas interdisciplinares, tem se utilizado de bases teóricas existentes na Geomorfologia, na Estratigrafia e na Pedologia para suas interpretações (GERRARD, 1992). Esse entendimento associado a técnicas morfométricas auxilia na compreensão da relação entre formas de relevo, processos geomorfológicos e materiais resultantes. A análise do gradiente das vertentes permite identificar, por exemplo, Sítios Geomorfológicos dentro das vertentes. Esse elemento taxonômico é definido por Augustin (1985) como “unidades da vertente que morfologicamente apresentam uniformidade interna, e são externamente delimitadas por rupturas de declive no gradiente topográfico”. Essa abordagem é aplicada neste trabalho o qual buscou-se analisar um sítio geomorfológico através da analise do gradiente da vertente e de sua cobertura superficial. Para tal, este trabalho adota como conceito de Cobertura Superficial: “os materiais que recobrem a parte emersa da crosta, provenientes da alteração das rochas por intemperismo (mecânico, químico e biológico) e que podem ter sido remanejados e/ou retrabalhados sobre vertentes, superfícies de erosão, planícies fluviais, etc” (AUGUSTIN, 1995; DEWOLF & BOURRIÉ, 2008). Messias et al. (2013) salientam que essas coberturas interpretadas pela ótica da geomorfologia destacam-se como importante ferramenta nos estudos que tratam da dinâmica das paisagens, uma vez que os processos que condicionam a evolução do relevo deixam assinaturas morfológicas e geoquímicas nesses materiais. Ressalta-se que este trabalho propõe uma análise geomorfológica que extrapola a interpretação de caráter pedológico das coberturas encontradas, sendo assim, a utilização de termos habituais da análise pedológica como solo e horizontes serão substituídas por coberturas superficiais e camadas, respectivamente.

Material e métodos

A área de estudo deste trabalho faz parte da bacia hidrográfica do rio Paraopeba, regularizado no Alto São Francisco. A vertente analisada localiza-se nas coordenadas 584.044, 7.810.218, 584.636 7.810.310 metros (LONG/LAT, WGS 23S), município de Esmeraldas – MG, na Fazenda Escola Experimental da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais. A geologia local é representada pelo Complexo Belo Horizonte (A3bh) que reúne rochas granodioríticas, tonalíticas e graníticas de idade arquena (CPRM, 2009). Também são comuns, segundo Noce et al. (1997), corpos intrusivos de natureza félsica, veios granitóides e veios de pegmatito na escala de afloramento. A vertente estudada esta inserida em área de relevo ondulado, possui cerca de 600 metros de comprimento e declividade média de 15.6°. A curvatura vertical e a declividade do transecto foram obtidas por Modelo Digital Elevação (MDE), extração automática, no software ArcGIS 10.1 ©. A partir dos resultados da etapa de geoprocessamento o segmento foi analisado e, posteriormente, compartimentado em quatro sítios geomorfológicos. Em cada um dos sítios foram abertos perfis de até 2 metros de profundidade, onde foram realizadas descrições morfológicas e estratigráficas dos regolitos. No perfil do sítio geomorfológico 2 foram realizadas coletas dos sedimentos para análise física, granulometria, e química, pH (H2O) de suas frações. Todos os procedimentos laboratoriais foram realizados pelo Laboratório de Física e Química do Solo da Universidade Federal de Viçosa (UFV).

Resultado e discussão

A topossequência analisada corresponde a uma vertente de perfil concavo-convexo, associada às rochas do Complexo Belo Horizonte. Ela está localizada na margem direita do Córrego do Macuco, possui aproximadamente 600 m de comprimento e 120 m de desnível entre o topo e a base (Figura 1). Foram identificados quatro sítios geomorfológicos (SG) limitados por ruptura de declive ao longo do transecto. O SG 1 corresponde à alta vertente; possui 170m de comprimento e declividade média de 10°. Este compartimento é caracterizado por pouca variação topográfica e constitui-se como um segmento declivoso da vertente. O SG 2 está localizado na porção média da vertente, possui 120m de comprimento, declividade média de 8°. O SG 3 estende-se por 320m, possui declividade média 13º (aumenta em sua porção à jusante) e sua localização se da no médio-baixo terço da vertente. A porção distal do SG 3 é marcada por uma ruptura de declive de 9° para 2º, que caracteriza o início do quarto SG. O SG4 encontra-se adjacente à drenagem atual sendo, pois, caracterizado como terreno marginal. Sua declividade é baixa e sua extensão atinge cerca de 70m. Para a realização das analises de granulometria e pH foi escolhido o SG 2. Sua escolha se deu por este configurar um segmento convexo em meia vertente provavelmente de aporte de material transportada da alta vertente. Na sucessão sedimentar do SG 2 foram identificadas quatro camadas, definidas pela variação morfológica e estratigráfica das coberturas segundo Santos (2005), a saber: P2-A de 0-20cm, P2-B de 20-80cm, P2-C 80-100cm e P2-D 100+cm. O resultado de granulometria (Figura 2) mostra que a fração areia é predominante em todas as camadas (variando entre 51-58%) e possui leve tendência a aumentar em direção ao saprólito. Na fração silte também foi verificada concentração em direção à subsuperfície. Os valores variam entre 18% na camada P2-A até 34% na camada P2-D. O aumento das frações areia e silte em direção a profundidade da trincheira devem-se, possivelmente, à proximidade da alterita, e denota menor ação da frente de intemperismo nesses locais. O resultado da distribuição da fração argila ao longo do perfil ocorre inversamente aos valores de silte e areia. Eles demonstram que a fração argilosa tende a diminuir (de 24% em P2-A ate 10% em P2-D) em direção a sub-superficie. Reis et al. (2007) evidencia, em materiais semelhantes, que o maior teor de argila nas camadas superficiais de depósitos quaternários evidenciam material mais evoluído e intemperizado. Com o propósito de corroborar com essas observações foi calculada a relação silte/argila. Segundo Santos (2005) a relação serve como base para avaliar o estágio de intemperismo presente em solos de região tropical. Assim sendo, valores inferiores a 0,7 são indicativos de intemperismo mais acentuado. Os valores obtidos para a relação silte/argila (Figura 2) apontam que as coberturas superficiais das camadas mais próximas a superfície são mais alteradas fisicamente que as coberturas das camadas mais internas. Ao se analisar os dados de pH (Figura 2), observa-se que há uma tendência geral, embora não muito significativa, ao aumento gradual acidez. A camada P2-A, superficial, apresenta pH 5,7 e caracteriza-se como a mais alterada quimicamente. O pH em H2O, embora varie pouco em profundidade no perfil, também mostra um padrão comparativo de que as coberturas mais profundas são menos alteradas quimicamente.

Figura 1

Figura 1 - Localização da Área de Estudo e Perfil topográfico e de declividade da vertente estudada.

Figura - 2

Figura 2 - Resultado da análise de granulometria, relação silte-argila e analise textural

Conclusões

É atestado que a erosão concentrada (ravinamento), o intemperismo e o carreamento de sedimentos da alta para média vertente controlam o ritmo evolução das coberturas superficiais do segmento analisado. O sítio geomorfológico 2 tem como característica principal o aumento da declividade, determinando um caráter convexo da vertente. Essa convexidade pode estar associada ao processo de deposição de material coluvial nas porções a montante do compartimento. As coberturas do SG 2 são pouco desenvolvidas. Essa característica pode estar associada à significativa declividade ou, a uma resistência litológica do compartimento. Tais circunstâncias, associadas às analises realizadas, demonstram tratar-se de que o processo de intemperismo físico e o carreamento de material superficial são muito atuantes na vertente estudada.

Agradecimentos

Referências

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Companhia de Pesquisa em Recursos Minerais, Carta geológica, folha SE.23-Z-C-V- CONTAGEM. 1:100.000. CPRM, 2009.

Dewolf, Y. & Bourrié, G. 2008. "Les formations superficielles", Genèse - Typologie - Classification - Paysages et environnements - Ressources et risqué. Ellipses, 896pp.

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Noce, C.M.; Romano.; W. T, Machado, N. 1997. Geoquímica dos gnaisses TTGS e granitóides neoarqueanos do Complexo Belo Horizonte, Quadrilátero Ferrífero, Minas Gerais. Revista Brasileira de Geociências, v.27, n.1, p.25-32. 1997.

Reis, M.S.; Fernandes, A.R.; Grímaldi, C.; Sarrain, M.; Grimaldi, M. Variação da composição granulométrica e orgânica do solo em uma toposseqüência da microrregião de Marabá-PA. Bol. Mus. Para. Emilio Goeldi Cienc. Nat. vol.2 no.3 Belém Dec. 2007

Santos, R.D.; Lemos, R.C.; Santos, H.G.; Ker, J.C.; Anjos, L.H.C. Manual de descrição e coleta de solo no campo. Embrapa. SBCS. Editora Folha de Viçosa Ltda. 5ª edição. Sociedade Brasileira de Ciência de Solo, 2005. 92p.


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