COMPARTIMENTAÇÃO GEOMORFOLÓGICA NA CONSTITUIÇÃO DAS PAISAGENS DIFERENCIADAS DO NORTE DO ESTADO DO CEARÁ: RELATO DE CAMPO.

Autores

Rodrigues, J.M.D. (UNIVERSIDADE ESTADUAL VALE DO ACARAÚ - UVA) ; Lima, E.C. (UNIVERSIDADE ESTADUAL VALE DO ACARAÚ - UVA)

Resumo

O presente trabalho trata de observações realizadas durante uma aula de campo do curso de Mestrado Acadêmico em Geografia – MAG da Universidade Estadual Vale do Acaraú- UVA, na qual foi possível perceber as diferentes paisagens, onde o relevo foi o fator preponderante que se mostrou nas suas variadas formas, para tanto foi necessário um embasamento teórico metodológico prévio pautado na visão geossistêmica, buscando integrar e correlacionar os componentes observados.

Palavras chaves

Aula de campo; Relevo; Diferentes paisagens

Introdução

O semiárido brasileiro caracteriza-se por apresentar um baixo índice pluviométrico, solos rasos, e predomínio da vegetação de caatinga, no entanto esta aparente homogeneidade paisagística não passa de aparência, pois o mesmo apresenta uma grande heterogeneidade em seus geossistemas, apresentando variações climáticas, diferentes tipos de solos, variação na sua vegetação, e diferentes compartimentações geomorfológicas, ou seja, um mosaico paisagístico, Christofoletti (1999, p.42) afirma que são as combinações de massa e energia exercendo controle sobre o ambiente que provoca heterogeneidade interna nos geossistemas que por vez apresenta-se em mosaico paisagístico. Para Lima (2004) a região semiárida não apresenta uma ocorrência espacial contínua e definida mais sim uma variedade de paisagens sob a influência indiscutível dos compartimentos geomorfológicos. Partindo da concepção de heterogeneidade paisagística que compõe o semiárido brasileiro o presente trabalho se constitui de uma apresentação e caracterização das diferentes paisagens do norte – noroeste do estado do Ceará, o mesmo tem cerca de 92% de seu território submetido a semiaridez. O presente trabalho tem no geossistema as bases teóricas metodológicas como destaca Troppmair e Galina (2006, p. 81) geossistema “é um sistema natural complexo e integrado onde há a circulação de matéria e energia onde ocorre a exploração biológica”, portanto buscou-se através desta concepção caracterizar as diferentes feições apresentadas pelas paisagens ao longo do percurso escolhido para a aula de campo. Esta aula de campo teve a duração de três dias, permitindo uma abrangência no percurso, o que tornou possível percorrer algumas compartimentações geomorfológicas características do estado do Ceará. As paradas foram previamente definidas e fundamentadas. Foram realizadas vinte paradas ao longo do percurso colocando-se em pauta as diferentes características apresentadas.

Material e métodos

Para a realização deste artigo foi utilizado às informações coletadas e anotadas na caderneta de campo dos autores, assim como fotografias retiradas nas áreas observadas, para melhor exemplificar as características, utilizou-se também, cartas topográficas, mapas geológicos, geomorfológicos, fitogeográfico e pedológico, das referidas áreas, como afirma Veado (1995, p. 54) à cartografia é indispensável para estudos geográficos, desta maneira pode-se fornecer algumas informações representadas cartograficamente e percebidas em lócus. Foi utilizado o método geossistemico, sendo este pautado na concepção de inter-relações de seus componentes, como destaca Nascimento; Sampaio (2004/2005, p. 170) o geossistema é um sistema natural não homogêneo, onde há intensa troca de energia e matéria em seu interior, tal concepção se adepta ao contexto das diferentes paisagens que constitui o percurso escolhido para a aula de aula de campo.

Resultado e discussão

A aula de campo constitui-se de uma excelente ferramenta para a compreensão e apreensão do espaço geográfico, a mesma vem sendo batante utilizada tanto pelo ensino básico como pelo ensino superior. Nas palavras de Lima e Assis (2004/2005) o trabalho de campo se baseia na observação sobre a paisagem, sendo necessária uma fundamentação prévia. Durante o trajeto da aula de campo foi possível perceber empiricamente as mudanças ocorridas na paisagem, e através de explicações prévias e mais detalhadas realizada pelo professor, houve a chance de ir além do empírico, estabelecendo correlações entre os componentes do geossistema presente em cada área, estas características que se manifestam tornando-se visíveis no contexto das diferenciações paisagísticas. As principais compartimentações vislumbradas no primeiro dia de aula de campo foram: os Maciços Residuais, a Depressão Sertaneja, os Inselbergues e o Planalto Sedimentar (Serra da Ibiapaba). Freire; Sousa (2006) buscando uma reflexão sobre as paisagens de exceções esclarecem que os maciços residuais, sofrem erosão por recuo das vertentes, provocando desta forma a diminuição de sua extensão, e ampliando a extensão da depressão sertaneja, sendo também marcante a presença de erosão diferencial, apresentando uma série de inselbergues no entorno, fato esse observado na aula de campo, atravésdo maciço residual (Serra da Meruoca) e do riacho Mata Fresca, e vários inselbergues em seu entorno. Já o Planalto da Ibiapaba constitui um dos mais expressivos compartimentos de relevo do território cearense apresenta relevo “ [...] dissimétricos, com front escarpado para leste, com um reverso de caimento topográfico suave.” (FREIRE; SOUSA, 2006. Pg. 22), (ver figura 1). No segundo e no terceiro dia da aula de campo destacam-se as seguintes compartimentações: os Tabuleiros Pré-Litorâneos, a Planície Litorânea (município de Camocim), a planície flúvio-marinha, o enclave de serrado e a planície fluvial do riacho Tucunduva. (SOUSA; LIMA; PAIVA, 1979, p. 79) destacam que a planície litorânea é constituída por “[...] sedimentos arenosos recentes intensamente trabalhados pela ação eólica”, e têm como consequência desse trabalho as dunas móveis e fixas. A planície flúvio-marinha é desenvolvida pela ação de processos fluviais e marinhos, na aula de campo observou-se o estuário do rio Coreaú, nesse ambiente há fixação de mangue, observado na Ilha do Amor. (Ver figura 2). Os tabuleiros Pré-litorâneo apresentam um relevo aplainado com baixa gradiente, cobertos por sedimentos areno - argilosos fracamente dissecados, com drenagem intermitente, é revestido por uma vegetação de tabuleiros. O enclave de Cerrado observado durante a aula de campo apresenta solos vulneráveis a lixiviação e altas concetrações de acidez, tais enclaves são condicionados devido às características do solo e não do clima, sendo este último um conglomerado (associação de solos, Podzólicos Vermelho Amarelo mais latossolos), já as planícies fluviais são “formadas por acúmulos de sedimentos aluvionais e coluvionais transportados no Quaternário no período Holoceno.” (SOARES, 2007, p. 113), na planície fluvial do riacho Tucunduva, pertencente à bacia hidrográfica do rio Coreaú, observou-se a formação de aluvião que são bastante explorados em período de estiagem através de culturas de subsistência, por apresentar um mediano grau de fertilidade. Na área o aluvião foi utilizado para o plantio de capim, a calha fluvial estava altamente assoreado com a mata ciliar parcialmente retirada.

figura 1:

A paisagem observada na imagem mostra as diferentes compartimentações percorridas no primeiro dia da aula de campo.

Figura 2

Mosaico de paisagens que elucida o segundo e o terceiro dia de aula de campo

Conclusões

A heterogeneidade das paisagens existentes foi bem evidenciada, através do percurso escolhido, na qual se pode perceber as relações dos elementos dentro do geossistema, o potencial ecológico (clima, hidrologia, geomorfologia) a exploração biológica (vegetação, solo, fauna) e a ação antrópica. Como estas relações alteram a paisagem, e tem-se o relevo como o principal evidenciador dessas alterações, influenciando o clima, a vegetação, o solo, os recursos hídricos como também uso e ocupação do solo. Com tudo fica claro que os diferentes geossistemas nas diferentes feições geomorfológicas do norte e noroeste do estado do Ceará, provocam variações paisagísticas significativas presenciadas durante o percurso realizado na aula de campo, que sem sombra de dúvidas em muito elucidou as informações vistas em sala de aula.

Agradecimentos

Ao Mestrado Acadêmico em Geografia – MAG, a Universidade Estadual Vale do Acaraú – UVA, a Fundação Cearense de Apoio a Pesquisa Cientifica e tecnológica – FUNCAP.

Referências

CHRISTOFOLETTI, A. Modelagem de sistemas ambientais. 1ª edição – São Paulo: editora Blucher, 1999.
FREIRE, L. M.; SOUSA, M. J. N. Geografia e questão ambiental no estudo de paisagens de exceção: o exemplo da serra de Baturité – Ceará. Boletim Goiano de Geografia Goiânia - Goiás - Brasil v. 26 n. 2 p. 129-150 jul./dez. 2006.
LIMA, E.C. Análise e manejo geoambiental das nascentes do alto rio Acaraú: Serra das Matas - CE. Dissertação (mestrado em geografia). Universidade Estadual do Ceará – UECE. Fortaleza-Ceará 2004.
LIMA, V. B. ASSIS, L. F. Mapeando alguns roteiros de trabalho de campo em Sobral (CE): uma contribuição ao ensino de geografia. Revista da casa da geografia de Sobral. Sobral/CE, Vol. 6/7, 2004/2005.
NASCIMENTO, R. N; SAMPAIO, J. L. F. Geografia física, geosistema e estudos integrados da natureza. Revista da Casa da Geografia de Sobral, Sobral, V. 6/7, n. 1, p. 167-179, 2004/2005.
SOARES, F. M. Diagnostico geoambiental da bacia do litoral no Ceará. Mercator - Revista de Geografia da UFC, ano 06, número 11, 2007.
SOUSA, M. J. N.; LIMA, F. A. M.; PAIVA, J. B. Compartimentações topográficas do estado do Ceará. Ciência Agronômica, Vol. 9: 77-86. – Fortaleza – Ceará. Dezembro, 1979.
TROPPMAIR, H. GALINA M. H. Geossistemas. Mercator - Revista de Geografia da UFC, ano 05, número 10, 2006.
VEADO, Ricardo ad-Víncula. O Geossistema: embasamento teórico e metodológico (Relatório de qualificação). UNESP: Rio Claro, 1995.


APOIO
CAPES UEA UA UFRR GFA UGB