O ENSINO DA GEOMORFOLOGIA NAS ESCOLAS: REFLEXÕES A PARTIR DA ANÁLISE DO LIVRO DIDÁTICO DE GEOGRAFIA

Autores

Costa, D.R. (UNIVERSIDADE ESTADUAL DE FEIRA DE SANTANA) ; Oliveira, P.R.S. (UNIVERSIDADE ESTADUAL DE FEIRA DE SANTANA) ; Souza, D.T.M. (UNIVERSIDADE ESTADUAL DE FEIRA DE SANTANA) ; Oliveira Junior, I. (UNIVERSIDADE ESTADUAL DE FEIRA DE SANTANA)

Resumo

O trabalho discute sobre a importância do livro didático para o ensino da Geomorfologia na escola básica. No primeiro momento é ressaltada a importância do livro no ensino escolar, sendo um recurso de construção do conhecimento geográfico e geomorfológico. No segundo momento é feita a análise do livro didático “Geografia: o espaço natural e a ação humana” referente ao capítulo que aborda os conhecimentos geomorfológicos, para verificar a relação entre o conhecimento escolar e científico.

Palavras chaves

Ensino de Geomorfologia; Geografia; Escola básica

Introdução

A discussão dos conteúdos geomorfológicos na escola básica tornou-se uma necessidade no ensino da Geografia escolar, pois os conhecimentos científicos da Geomorfologia evoluíram e constituíram em abordagens sobre os processos associados às formas do relevo, que confiram em importantes elementos para a análise da organização espacial (CASSETI, 1995). Por isso, a discussão na escola pode ultrapassar a descrição das formas do relevo terrestre para discorrer sobre processos endógenos e exógenos de formação e relacioná-los com os demais elementos que compõem a paisagem. Nesse contexto, a Geografia constitui em uma disciplina de excelência por tratar da relação sociedade e natureza e a Geomorfologia pode configurar como um caminho de integração dos elementos ambientais (AB’SABER, 2003; ROSS, 2006). Com este estudo objetivou-se discutir sobre a importância do livro didático no ensino da Geomorfologia na escola básica, para apontar caminhos reflexivos referentes à relação entre os conteúdos escolares e acadêmicos. Para isso, utilizou-se um livro (VESSENTINI; VLACH, 2012) adotado na rede de ensino escolar público do município de Feira de Santana-Bahia, onde ocorrem os estágios supervisionados do curso de licenciatura em Geografia da Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS). O livro didático é de extrema importância no processo de ensino e aprendizagem, porque se configura como um aparato didático que pode auxiliar na construção de conhecimentos, por meio da qualidade dos textos, atividades, figuras, gráficos, tabelas etc. Com isso, as informações devem acompanhar as produções científicas, numa linguagem compreensível para estudantes e professores da rede de ensino básico. Assim, no primeiro momento buscou-se denotar a relevância escolar do livro didático e, no segundo, discorreu-se sobre a qualidade da abordagem geomorfológica no referido material didático.

Material e métodos

O estudo constitui-se em uma pesquisa bibliográfica, pois todo o embasamento para a arguição adquiriu-se por meio da fundamentação teórica sobre a produção do conhecimento científico e sobre o ensino escolar referentes à Geomorfologia, bem como sobre a função do livro didático nas escolas e os enfoques discursivos aos conteúdos geomorfológicos. Para a realização, inicialmente reconheceu as escolas onde ocorrem os estágios supervisionados do curso de Licenciatura em Geografia da UEFS e dialogou-se com os professores regentes para eles permitirem a análise dos programas de cursos e planejamentos anuais das aulas das turmas do 6º Ano do Ensino Fundamental, no intuito de selecionar o material didático para ser avaliado. A análise do livro didático (VESSENTINI; VLACH, 2012) pautou-se na proposta teórico-metodológica dos autores; definição dos conceitos básicos geomorfológicos; sequência da discussão dos conteúdos no livro; adequação da linguagem à série indicada no livro; existência e qualidade das imagens, mapas, tabelas e quadros referentes aos conteúdos; indicação de leituras complementares sobre a discussão proposta no livro. A estrutura e a discussão dos conteúdos encontradas no livro foram avaliadas com base em discussões geomorfológicas produzidas no âmbito acadêmico, na tentativa de relacionar as definições dos processos e formas do relevo com as referências sobre o tema, como Ab’Saber (2003), Casseti (1994, 1995, 2005), Christofoletti (1980), Christopherson (2012), Cunha e Guerra (2007, 2011), Florenzano (2008), Guerra (1993), Guerra, Cunha e colaboradores (2006), Penteado (1980), Ross (2006), Torres e colaboradores (2013) e outros.

Resultado e discussão

O relevo se caracteriza como um dos elementos mais visíveis da paisagem e a Geomorfologia tende a ser uma disciplina de importância para a interpretação dos fenômenos que ocorrem na superfície terrestre, por se constituir na ciência que estuda o modelado terrestre, sua gênese e dinâmica atual (SILVA et al., 2013) e possibilita o planejamento ambiental (CASSETI, 1994, 1995; ROSS, 2006). Neste sentido, atribui-se significância aos conteúdos geomorfológicos no ensino da Geografia escolar quando os estudantes relacionam as abordagens com as vivências cotidianas locais, regionais e globais, no intuito de compreender os fenômenos investigados. Logo, percebe-se a necessidade de introduzir ou possibilitar a inclusão da realidade percebida dos educandos nos livros didáticos e, por sua vez, nas aulas referentes à Geomorfologia. Com isso, o domínio dos conteúdos pelos professores e a utilização dos recursos didáticos nas aulas são fatores que podem desencadear uma abordagem qualitativa dos conteúdos, o que inserem o livro escolar como um elemento importante no processo de ensino e aprendizagem, sendo complementado com outros recursos quando necessário. Como objeto de políticas educacionais brasileiras, o livro didático configura como um elemento do processo de ensino e aprendizagem relevante para a veiculação do conhecimento na educação básica, ao possibilitar aos discentes acessarem os conteúdos e construírem visões de mundos por meio das disciplinas escolares. Em relação à abordagem geomorfológica, é imprescindível que os assuntos estejam presentes nos livros didáticos em sequência lógica, contemplados em um nível cognitivo dos educandos e com informações confiáveis (CARVALHO, 1999) para constituírem em uma ferramenta de construção de conhecimento. A avaliação do plano de curso elaborado pelos professores da rede de ensino apontaram caminhos para avaliar o processo de ensino e aprendizagem e o papel atribuído ao livro didático nas aulas. Muitas vezes, a visão de que o livro didático é um produto inquestionável é aceito por muitos docentes, o que é apresentado na reprodução dos conhecimentos equivocados e/ou sem levar em consideração o desenvolvimento cognitivo dos docentes (VESENTINI, 2006). Esse tipo de posicionamento conduz a práticas conteudistas, com abordagens desnecessárias (KAERCHER,1998) e um ensino da Geomorfologia deficiente e, por conta disso, definiu-se a escolha do livro didático como objeto de estudo. A ênfase atribuída ao conteúdo geomorfológico pelos autores do livro didático (VESSENTINI; VLACH, 2012) é derivada do estudo do relevo e suas principais formas e relações com as atividades humanas, denotando uma associação dos conteúdos com a organização espacial. Na abordagem são considerados os processos e dinâmicas do relevo, os agentes internos e externos atuantes no modelado terrestre e a ação humana na configuração das paisagens. A dinâmica do relevo é evidenciada na atuação do intemperismo químico, físico e biológico e nos processos erosivos, que modelam as formas. Os autores (VESSENTINI; VLACH, 2012) definem termos relativos à Geomorfologia, com ênfase nas formas de relevo, como montanhas, planaltos, planícies e depressões e discorrem sobre as feições geomorfológicas dos ambientes costeiros, a exemplo das falésias, dos atóis, da formação de dunas etc. Existem imperfeições na sequência lógica dos conteúdos, porque a discussão das formas encontra-se desassociada dos processos morfodinâmicos, pois estão fragmentados em itens distintos. A linguagem conteudista é indicada para a série (6º ano do Ensino Fundamental) e, ao utilizar temos técnicos, há um vocabulário geomorfológico incluso no livro. A ilustração do livro está acordada com os textos, constituindo as figuras e os mapas como meio de produção de conhecimento. As atividades relacionadas à Geomorfologia contribuem para o aluno refletir sobre os assuntos tratados, mas a inexistência de leituras complementares não possibilita o enriquecimento das discussões.

Conclusões

O livro é importante no ensino da Geomorfologia escolar e, assim, deve atender as necessidades dos estudantes e professores, com uma abordagem coerente, lógica e numa linguagem pertinente aos sujeitos do processo de ensino e aprendizagem. Destarte, é necessária a avaliação contínua do livro didático, para verificar a qualidade deles na construção de conhecimento, apontar as incoerências, sugerir modificações, adaptar as abordagens e valorizar as informações pertinentes. Nenhum livro contempla todas as dimensões para a configuração de uma aprendizagem significativa e, por isso, é preciso compreender que a análise de livros didáticos é um caminho eficaz para a melhora da qualidade do ensino escolar, e não como simples atividade formal e/ou depreciativa. O fortalecimento do ensino geomorfológico nas escolas perpassa a avaliação dos recursos didáticos, como o livro didático, para atribuir significados aos conteúdos referentes a essa ciência na organização espacial.

Agradecimentos

Referências

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