Geossítio e Geoconservação: Cascata no Rio Passo dos Índios em Chapecó/SC.

Autores

Otsuschi, C. (UFFS) ; Bocalon, V.L.S. (UNOESC E UNC) ; Diniz, A. (UFSM)

Resumo

O presente trabalho apresenta uma análise da cascata no rio Passo dos Índios na cidade de Chapecó enquanto geossítio. A escolha do local deve-se pela beleza cênica evidenciando a diversidade geomorfológica. Para a análise foram consideradas as classificações sobre ameaças à geodiversidade, tipos de valores e métodos de geoconservação. O conhecimento geocientífico da área contribui com a conservação do geodiversidade, o acesso ao geossítio e o planejamento ambiental por parte do Poder Público.

Palavras chaves

Geossítio; Geoconservação; Chapecó

Introdução

O termo geossítio está associado diretamente com as características abióticas de determinado lugar, isto é, com a geodiversidade. De acordo com Sharples (apud BORBA, 2011, p. 4), a ideia de geodiversidade foi introduzida na década de 1990 “no sentido de estabelecer uma analogia com o termo biodiversidade, para salientar o fato de que a natureza é composta por duas frações, biótica e abiótica, profundamente conectadas e interdependentes”. Brilha (2005), destaca que a biodiversidade é condicionada pela geodiversidade. Gray (2008) considera geodiversidade como diversidade geológica (rochas, minerais e fósseis), geomorfológica (formas de relevo e processos) e pedológica.Considerando a importância da biodiversidade e da geodiversidade, é necessário identificar a ocorrência da diversidade geológica, geomorfológica e pedológica com o propósito de conhecer e proteger esses ambientes. Para Brilha (2005, p. 52), a “[...] ocorrência de um ou mais elementos da geodiversidade [...] bem delimitado geograficamente e que apresente valor singular do ponto de vista científico, pedagógico, cultural, turístico, ou outro” é denominado de geossítio. Os geossítios com algum tipo de valor que sejam relevantes para serem conservados são considerados como patrimônio geológico ou também conhecidos como geopatrimônio. Nesse sentido, algumas medidas de geoconservação devem ser adotadas de acordo com os objetivos e as características do geossítio. A geoconservação “[...] tem como objectivo a utilização e desenvolvimento sustentável de toda geodiversidade, englobando todo o tipo de recursos geológicos” (BRILHA, 2005, p. 51). Com a intervenção antrópica muitos geossítios estão sendo descaracterizados e muitas vezes a população não conhece a geodiversidade de onde mora. Este trabalho pretende apresentar as principais características de um geossítio considerando as classificações sobre geodiversidade, geopatrimônio e geoconservação.

Material e métodos

Para atingir aos objetivos foram necessários levantamentos bibliográficos sobre geodiversidade, geossítio, geopatrimônio, geoconservação e geoturismo. O trabalho de campo consistiu em selecionar um geossítio na cidade de Chapecó, verificar as características geomorfológicas e os principais problemas ambientais. A análise desse geossítio foi de acordo com suas características geomorfológicas, considerando as classificações sobre ameaças à geodiversidade, tipos de valores e métodos de geoconservação.

Resultado e discussão

A cidade de Chapecó, localizada no Oeste de Santa Catarina, atrai moradores e trabalhadores com as agroindústrias e nos últimos anos, destaca-se por ter ensino superior e técnico, serviços especializados de saúde e lazer. Com a expansão urbana alguns problemas ambientais resultam também da ocupação nas margens de cursos d´água. Um exemplo é o bairro Jardim América em que muitos moradores construíram suas casas há mais de 30 anos nas margens do rio Passo dos Índios e seus afluentes. Esse rio tem suas nascentes em área rural e drena boa parte da cidade de Chapecó em áreas mais planas e em alguns trechos em áreas íngremes. Nesse bairro as casas dificultam o acesso ao rio e “escondem” tanto a biodiversidade como a geodiversidade. A partir da rua Antônio Morandini no bairro Jardim América, o rio Passo dos Índios passa a ter fluxo de água mais turbulento. A jusante dessa rua os desníveis no rio aumentam formando uma paisagem desconhecida para muitos moradores desse bairro e da população em geral. A cascata no rio Passo dos Índios pode ser considerada um geossítio também por sua beleza cênica. De acordo com Brilha (2005), grande parte das ameaças à biodiversidade e à geodiversidade está associada às atividades antrópicas, sendo importante ter um equilíbrio entre o uso da geodiversidade e a sua conservação. O autor destaca algumas ameaças à geodiversidade, como: “gestão de bacias hidrográficas” e “florestação, desmatamento e agricultura”. A canalização de grande parte do rio Passo dos Índios e seus afluentes altera a dinâmica natural dos cursos de água. O desmatamento da mata ciliar nesses cursos de água contribui com a redução da infiltração da água pluvial, o aumento do escoamento superficial concentrado e do assoreamento. Em alguns trechos com mata ciliar não é possível visualizar as cascatas, por isso muitos moradores desconhecem essa paisagem e a importância de sua conservação. Seria interessante que o Poder Público reconhecesse a importância desse espaço com políticas ambientais que o proteja das intervenções antrópicas. Para Gray (2004 apud BRILHA, 2005, p. 32), é preciso atribuir um tipo de valor para justificar a proteção da geodiversidade, como intrínseco, cultural, estético, econômico, funcional, científico e educativo. Os valores estético, científico e educativo podem ser considerados para definir quais estratégias de geoconservação para o geossítio da cascata. Para Gray (2008), dependendo das características dos geopatrimônios, podem variar os métodos de geoconservação, reforçando a importância do inventário da geodiversidade e geossítios. Desses métodos, a sinalização ou barreira física é importante para tentar assegurar a segurança dos turistas e moradores; as políticas públicas e a geoeducação também se aplicam no exemplo da cascata no rio Passo dos Índios. Se considerar essa cascata como geopatrimônio, pode-se classificá-lo como conteúdo geológico simbólico (PENA DOS REIS; HENRIQUES, 2009), pois possui relevância local e que pode ser uma área visitada pela população local ou de outras cidades. O geoturismo é uma alternativa para que a população conheça não só a biodiversidade quanto a geodiversidade do rio Passo dos Índios e também auxilie na proteção desse geossítio. Com o geoturismo os turistas podem interpretar o geossítio com informações técnicas e científicas, mas com linguagem acessível para sua compreensão (NASCIMENTO, RUCHKYS, MANTESSO-NETO, 2008). Dessa forma, o geoturismo como lazer, recreação e contemplação da beleza cênica pode promover a divulgação e a proteção de áreas de interesse geológico e geomorfológico. Uma dificuldade para o geoturismo na cascata no rio Passo dos Índios é a escolha de lugares para mirantes, considerando a ocupação nas margens do curso de água.

Conclusões

Como há uma tendência no aumento populacional em Chapecó, é importante o planejamento ambiental para a identificação e conservação dos geossítios. Para isso são necessários estudos específicos para conhecê-los tanto no meio urbano quanto rural para identificar os geopatrimônios e definir estratégias de geoconservação. De acordo com Nascimento, Ruchkys e Mantesso-Neto (2008), degradação da geodiversidade muitas vezes ocorre pela falta de conhecimento da relevância do geossítio e de políticas públicas. No caso do geossítio da cascata no rio Passo dos Índios verifica-se uma área com beleza cênica com problemas como desmatamento, ocupação nas margens e poluição hídrica. Com algumas medidas pelo Poder Público e pela população, esse geossítio pode ser recuperado e utilizado como ambiente para geoeducação e geoturismo. Além do acesso à cascata é importante verificar a possibilidade de mirantes com painéis informativos para que os visitantes possam ter melhores conhecimentos sobre o geossítio.

Agradecimentos

Referências

BORBA, André Wessheimer de. “Geodiversidade e geopatrimônio como bases para estratégias de geoconservação: conceitos, abordagens, métodos de avaliação e aplicabilidade no contexto do Estado do Rio Grande do Sul.” Pesquisas em Geociências, Porto Alegre, v. 38, n. 1, p. 3-14, jan./abr. 2011.
BRILHA, José. Património geológico e geoconservação: a conservação da natureza na sua vertente geológica. Braga: Palimage Editores, 2005.
GRAY, Murray. “Geodiversity: developing the paradigm.” Proceedings of the Geologists' Association. v. 119, p. 287-298, 2008.
NASCIMENTO, Marcos A. L. do, Úrsula A. RUCHKYS e Virgínio. MANTESSO-NETO. Geodiversidade, geoconservação e geoturismo: trinômio importante para a proteção do patrimônio geológico. São Paulo: Sociedade Brasileira de Geologia, 2008.
PENA DOS REIS, R. e M. H. HENRIQUES. “Approaching an integrated qualification and evaluation system for geological heritage.” Geoheritage. v. 1, p. 1-10, 2008.


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