Impactos de atividades de mineração na dinâmica fluvial do Rio Araquá (São Pedro - SP)

Autores

Ribeiro, D.F. (UNESP) ; Cunha, C.M.L. (UNESP)

Resumo

As atividades mineradoras causam diversos impactos ao meio ambiente, provocando o aumento dos processos erosivos. Assim, o principal objetivo deste artigo é analisar os impactos das atividades de mineração na dinâmica fluvial do Rio Araquá. Utilizando-se de fotografias aéreas obteve-se o mapeamento geomorfológico da região e por meio deste foi possível identificar as modificações ocasionadas devido ao aumento dos processos erosivos e a presença de feições deposicionais correlacionadas.

Palavras chaves

Mapeamento geomorfológico; Processos erosivos; Mineração

Introdução

A mineração compreende um processo de extração e concentração de minerais que possuam uma importância significativa para a sociedade. De acordo com Neves e Silva (2007), a extração mineral brasileira classifica-se pelo tipo de minério, podendo ser dividida em metais (ferro, bauxita entre outros); não-metais (areia, rocha britada e cascalho, argila e calcário); diamantes e gemas; e energéticos (petróleo). A atividade de mineração causa diversos impactos ao meio ambiente, alterando as características do solo, ar e água. Dentre essas, destacam-se as modificações na qualidade da água, visto que, geralmente as áreas de extração estão próximas aos cursos d’água, alterando diretamente estes recursos através da mineração subaquática ou através da mineração a céu aberto, com a abertura de cavas e modificando as águas subterrâneas, ocasionando processos de assoreamento decorrentes da erosão de taludes; contaminação por óleos e lubrificantes dos maquinários; e mudanças no nível do lençol freático devido à modificação da espessura da camada de solo. (SILVA, 2010). Dentro deste contexto, o presente artigo busca apresentar os resultados obtidos com o estudo dos parâmetros geomorfológicos de origem fluvial de trechos do baixo e médio curso do Rio Araquá, através da realização do mapeamento geomorfológico da área, demonstrando as alterações morfohidrográficas ocasionadas devido à presença de atividades mineradoras próximas às suas margens. O médio curso do Rio Araquá localiza-se no município de São Pedro (SP), e apresenta-se como um rio de porte pequeno, com diversos processos de erosão, apresentando bancos de areia em grande parte de seu curso, bem como, voçorocas, ilhas fluviais e depósitos aluviais periodicamente alagados próximos ás margens. Esta região também apresenta uma concentrada área urbana, com a presença do município de Águas de São Pedro, desta forma, o aumento de processos erosivos próximos a área urbana pode acarretar prejuízos à população.

Material e métodos

A base cartográfica da área de estudo, necessária para a realização do mapeamento geomorfológico, foi organizada a partir da coleta de cartas topográficas. As cartas topográficas utilizadas, referentes ao Plano Cartográfico do Estado de São Paulo, constituíram-se nas seguintes folhas: Bairro do Pilão (SF-23-Y-A-IV-1-SE-A), Águas de São Pedro II (SF-23-Y-A-IV-1-NE-E) e Ribeirão da Grama (SF-23-Y-A-IV-1-NE-C), na escala 1:10.000, fornecidas pela Divisão de Geografia da Coordenadoria de Ação Regional da Secretaria de Economia e Planejamento do Governo do Estado de São Paulo. As feições geomorfológicas fluviais foram identificadas a partir da interpretação de fotografias aéreas, tendo por base as orientações de Cunha (2001), adaptadas das propostas de Tricart (1965) e Verstappen e Zuidam (1975). Para a realização da análise e identificação das feições geomorfológicas foram utilizadas fotografias aéreas digitais que englobam o munícipio de São Pedro, com resolução de 0,45 cm, obtidas junto a Empresa Paulista de Planejamento Metropolitano – EMPLASA. As fotografias foram interpretadas considerando aspectos característicos para definir as feições, tais como coloração, forma e localização. Para a realização da digitalização e vetorização dos dados, identificação e avaliação das feições geomorfológicas e edição final do mapeamento foi utilizado o software ArcGIS 9.2, disponível no Laboratório de Geomorfologia do Departamento de Planejamento Ambiental e Geoprocessamento, localizado na UNESP, campus de Rio Claro. As representações basearam-se na proposta de Paschoal, Conceição e Cunha (2010).

Resultado e discussão

Optou-se por utilizar trechos do médio curso do rio Araquá amplamente utilizados por atividades mineradoras para demonstrar as alterações morfohidrográficas que ocorrem na área de estudo. Na figura 1 observa-se um amplo terraço aluvial, representado por antigas planícies de inundação que foram abandonadas e surgem como patamares aplainados, de largura variada, limitados por uma ruptura de declive em direção ao curso d’água. É possível verificar que a antiga planície de inundação é utilizada para retirada de material, caracterizando a mineração, uma das principais responsáveis pelos diversos processos erosivos e alterações na dinâmica fluvial da região. A análise da imagem mostra uma mineração a céu aberto, com extração realizada por meio de cavas com terraços ou degraus. Este tipo de extração é realizado quando o mineral se encontra na superfície ou a pouca profundidade. Para este tipo de extração, são utilizados máquinas e equipamentos de grande porte, como britadeiras, escavadeiras e carregadeiras. Em alguns casos pode ser o desmonte hidráulico que usa jato de água no material inconsolidado. (SILVA, 2010). De acordo com Barreto (1970 apud CARPI JÚNIOR, 1996) a região de São Pedro apresenta uma aceleração dos processos erosivos devido a fatores antrópicos, sendo estes principalmente caracterizados por devastação da cobertura vegetal e construção de estradas, fatores típicos da instalação de atividades mineradoras. Observa-se às margens do rio depósitos aluvias, que provavelmente surgiram pelo acúmulo de sedimentos advindos da escavação. A ausência de mata ciliar em alguns locais da área pode ter sido ocasionada pela deposição excessiva de sedimentos, que podem provocar processos de soterramento da vegetação, impedindo a regeneração da mesma, bem como, pela retirada, que pode gerar processos erosivos nas margens e leito do rio e, consequentemente, assoreamento e desbarrancamento das margens. Na figura 2 observam-se depósitos aluviais alagados no interior do curso do rio, estes provavelmente desenvolvidos devido a processos de revolvimento e deposição de sedimentos na superfície, advindos da atividade mineradora que potencializa o desenvolvimento do assoreamento do canal fluvial. Ressalva-se a presença de uma ampla voçoroca. De acordo com Silva (2010) as voçorocas desenvolvem-se não apenas pela atuação do fluxo superficial das águas, mas também pelo subsuperficial, incluindo o lençol freático. A erosão interna provoca a remoção de partículas do interior do solo, formando canais, originando colapsos no terreno, com desabamentos que podem alargar a voçoroca ou criar novos ramos.

Figura 1

Na figura destaca-se um amplo terraço aluvial com presença de atividades de mineração em seu interior. Elaboração: RIBEIRO, D.F.

Figura 2

Observa-se a presença de depósitos aluviais alagados próximos às margens do rio, provavelmente advindos dos processos de assoreamento característicos das atividades mineradoras, e a presença de uma voçoroca.

Conclusões

A realização do mapeamento das feições geomorfológicas de origem fluvial da área de estudo mostrou-se bastante eficaz, auxiliando na identificação dos processos erosivos e feições deposicionais correlacionadas. A análise dos trechos demonstra a presença de diversas alterações morfohidrográficas, advindas do aumento dos processos erosivos, resultantes da atividade mineradora presente na região. Atualmente, os mapeamentos geomorfológicos estão associados a diversas ferramentas de cartografia computadorizada e Sistemas de Informação Geográfica – SIG. Desta forma, a utilização de ferramentas próprias de geoprocessamento para a realização do mapeamento geomorfológico mostrou-se eficaz, pois permite a criação de simbologias que representam adequadamente as feições geomorfológicas presentes.

Agradecimentos

Ao apoio financeiro e institucional concedido pela Fundação de Amparo a Pesquisa do Estado de São Paulo – FAPESP.

Referências

CARPI JÚNIOR, S. Técnicas cartográficas aplicadas à dinâmica da Bacia do Ribeirão Araquá – SP. Rio Claro. Dissertação de Mestrado. 1996
CUNHA, C.M.L. A Cartografia do Relevo no Contexto da Gestão Ambiental. 2001 128 f. Tese (Doutorado em Geociências e Meio Ambiente) – Instituto de Geociências e Ciências Exatas, Rio Claro, 2001.
NEVES, C. A. R.; SILVA, L. R. Universo da Mineração Brasileira. Brasília: Departamento Nacional de Produção Mineral, 2007.
PASCHOAL, L. G.; CONCEIÇÃO, F. T.; CUNHA, C. M. L., 2010. Utilização do ArcGis 9.3 na elaboração de simbologias para mapeamentos geomorfológicos: Uma aplicação na área do Complexo Argileiro de Santa Gertrudes/SP. In: VIII Simpósio Nacional de Geomorfologia. Recife, p:1-13
SILVA, A. M. Auxílio do geoprocessamento para a geração do mapa de suscetibilidade à erosão: o caso do córrego mandu, rio claro/sp. 2010. 76 p. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Bacharel em Engenharia Ambiental) – Instituto de Geociências e Ciências Exatas, Universidade Estadual Paulista, Rio Claro, 2010.
TRICART, J. Principes et méthodes de la géomorphologie. Paris: Masson et Cie, 1965. 496p.
VERSTAPEN, H. T; ZUIDAM, R. A. van. System of geomorphological survey, Manuel ITC Textbook, Nertherlands, vol. VII. 1975. 52p.


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