A GEOCONSERVAÇÃO PARA IMPLEMENTAÇÃO DE UM PATRIMÔNIO NATURAL NO PLANALTO SEDIMENTAR DA IBIAPABA

Autores

Rocha, H.S. (UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ) ; Oliveira, V.P.V. (UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ)

Resumo

Tal trabalho propõe a geoconservação do Planalto Sedimentar da Ibiapaba através da criação de um patrimônio natural. A delimitação de áreas protegidas é feita, sobretudo, por critérios bióticos. Embora fundamentais, quando usadas unicamente, podem negligenciar os fatores abióticos, também importantes para a manutenção e valorização dessas áreas. Pretende-se também combater a degradação, que impulsiona processos erosivos na região, principalmente no front, gerando uma série de riscos ambientais.

Palavras chaves

Geoconservação; Patrimônio; Geomorfologia

Introdução

As diversas formas da superfície da terra resultam de processos estruturais e esculturais, heranças de milhões de anos, merecendo devida atenção. Essa importância no âmbito da geoconservação implica na preservação dos patrimônios naturais, sejam eles geomorfológicas, geológicas, paleontológicas, arqueológicas. Mesmo com a crescente sensibilização da sociedade às questões ambientais, que tem induzido um maior interesse de instituições para o estabelecimento e desenvolvimento de estratégias de preservação, conservação e recuperação de patrimônios naturais, são ainda escassos no tocante aos aspectos geomorfológicos e geológicos. Normalmente, a maior importância é atribuída aos movimentos ecológicos. Tais interesses vinculados aos patrimônios naturais são, muitas vezes, focados na fauna e na flora. Em meio a geodiversidade no Ceará, o enfoque será o Planalto da Ibiapaba. Situa-se na porção ocidental do Ceará, limitando-se com o estado do Piauí, representando a borda oriental da Bacia Sedimentar do Parnaíba. Conforme Santos & Souza (2012), trata-se de um relevo cuestiforme, apresentando um reverso suave a oeste e um front escarpado à leste, expressando o trabalho da erosão diferencial orientada pela resistência desigual das rochas. A ocorrência de chuvas orográficas no setor setentrional do planalto potencializa a existência de um enclave de mata úmida em meio ao semiárido, revelando um espesso manto de intemperismo. Assim, o critério geomorfológico apresenta grande eficiência na caracterização e diagnóstico do ambiente, pois o relevo expressa a dinâmica da paisagem, sobretudo, pela ação dos fatores exodinâmicos no modelado das vertentes. Isso possibilita estabelecer condições de uso e ocupação dos recursos naturais no que tange às suas potencialidades e limitações. Nessa perspectiva, pretende-se através desse trabalho realizar um estudo sobre os patrimônios geomorfológicos e a importância da geoconservação, visando enaltecer os valores naturais, turísticos e históricos.

Material e métodos

Para o desenvolvimento desta pesquisa procura-se fazer com que a mesma tenha uma perspectiva interdisciplinar capaz de conduzir a uma análise integrada do ambiente. O presente trabalho baseia-se na concepção geossistêmica proposta por Bertrand (1971) e Bertrand & Bertrand (2007). Busca-se compreender a paisagem como resultado da combinação dinâmica, portanto instável, dos elementos físicos, biológicos e antrópicos. Adota-se também critérios estabelecidos por Tricart (1977) para avaliar a ecodinâmica das paisagens com as noções de instabilidade e estabilidade ambiental. Destaca-se o componente geomorfológico para a compreensão da evolução da paisagem a partir da reconstituição dos processos erosivos numa visão de conjunto da natureza, onde a dinâmica do meio ambiente e dos geossistemas é muito importante para a geoconservação e o desenvolvimento dos recursos ecológicos. Conforme Vieira & Cunha (2004), nos estudo e processos de classificação dos locais de interesse geomorfológico (LIGeom) relevam-se: as formas de relevo como representativos de determinados processos morfogenéticos; as formas em suas diferentes dimensões, isolados ou formando conjuntos espaciais em função do caráter de excepcionalidade e originalidade, associada ou não à raridade que apresentam; o grau de vulnerabilidade que apresentam; a maneira como se combinam na paisagem, natural ou antropizada, a par com o valor científico que estes elementos evidenciam; a sua importância enquanto recurso pedagógico e didático; e o seu valor cultural e ambiental. Para que haja a geoconservação são necessárias algumas estratégias que se baseiam em metodologias de trabalho que sistematizam as tarefas no âmbito da conservação do patrimônio natural. As estratégias de geoconservação foram reunidas por Brilha (2005) e obedecem às seguintes etapas sequenciais: inventariação, quantificação, classificação, conservação, valorização, divulgação e monitoramento.

Resultado e discussão

Gray (2004) releva que a geodiversidade é vulnerável a ameaças em diversas escalas e intensidades, em sua maioria provocada por atividades antrópicas, como exploração errônea de recursos naturais, ocupação de áreas de risco, desmatamentos, atividades turísticas desordenadas, pirataria de amostras geológicas e falta de conhecimento da importância da geodiversidade à sociedade. Então, a geoconservação visa conservar a diversidade natural de significativos aspectos e processos geológicos, geomorfológicos e pedológicos; minimizar impactos que podem atingi-los; promover a interpretação da geodiversidade e garantir a manutenção da biodiversidade dependente dela; e só será eficaz através de um planejamento baseado no desenvolvimento sustentável. O patrimônio geomorfológico constitui um contexto bastante vulnerável, pois constitui a base sobre a qual se desenvolvem as atividades humanas e também atrativas às atividades de lazer e turismo, despertando na comunidade científica um elevado interesse. O Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza (SNUC) prevê, no artigo 4º, que as características geomorfológicas, além das geológicas, espeleológicas, arqueológicas, paleontológicas e culturais, merecem proteção e destaque no interior das Unidades de Conservação (UCs). Entretanto, a contribuição da Geomorfologia aos problemas relacionados às áreas protegidas no Brasil não tem sido notória. Segundo Cristo (2013) observa-se que a literatura relacionada à questão ambiental e pertinente ao estudo das UCs demonstram que são escassas as pesquisas que citam a Geomorfologia como aspecto relevante à tomada de decisão em ações de gestão ambiental. Em razão da ausência desses estudos, a delimitação de áreas protegidas tem sido feitas, sobretudo, em função de critérios bióticos, mesmo fundamentais, podem negligenciar os fatores abióticos, igualmente importantes para a manutenção e valorização de UCs. O passado da Terra não é menos importante que o passado dos seres humanos e cabe a cada um de nós protegê-lo e exigir das autoridades que o tenham em consideração (CRISTO, 2013). Há necessidade de um conhecimento cada vez mais profundo da complexidade da abiota, pois são fundamentais na explicação da evolução biológica e da regulação dos ecossistemas. O crescimento do geoturismo apresenta-se como uma nova tendência. Nas UCs brasileiras, a maior parte dos meios interpretativos centra-se nas características bióticas, não possuindo meios interpretativos e nem treinamentos específicos que abranjam os aspectos abióticos. Logo, acredita-se que uma abordagem do geoturismo mostra-se viável já que os visitantes buscam informações, demonstrando que o conhecimento relacionado à geologia e à geomorfologia, pode ser utilizado como ferramenta de educação ambiental. Outra questão é o Parque Nacional de Ubajara, criado em 30 de abril de 1959, possuindo atualmente uma área de 6.288 hectares, e a APA da Ibiapaba de 26 de novembro de 1996 com uma área de 1.628.424,61 hectares (ICMBio/MMA, 2014). Apresenta um valor imensurável quanto à preservação dos aspectos naturais. Entretanto o Planalto da Ibiapaba possui uma área extensa, sendo muito devastado em vários pontos considerados negligenciados. Diante disso, observa-se que a fragilidade da Ibiapaba varia de moderadamente instável à ambiente estável devido a causas naturais, como a erosão e em especial a declividade, e as causas antrópicas como o desmatamento para atividades agrícolas (hortaliças e fruticultura), o uso do solo para a pecuária, favorecendo o pisoteio e compactação do solo, acentuando os processos erosivos. Segundo Tabarelli & Santos (2004), a população dos planaltos é distribuída entre proprietários, arrendatários, parceiros e ocupantes, sendo, em sua maioria, constituída por pequenos agricultores que manejam a terra com técnicas tradicionais, reduzindo a produtividade e comprometendo a qualidade do ambiente.

Planalto da Ibiapaba visto de Ubajara.

Fonte: Arquivo pessoal, 2012.

Vandalismo observado na Gruta de Ubajara.

Fonte: Arquivo pessoal, 2012.

Conclusões

Essa pesquisa, apresentando uma abordagem teórica, busca auxiliar na detecção da problemática referente às Unidades de Conservação, especificamente quanto a geoconservação no Planalto da Ibiapaba. E também, incentivar a pesquisa dos estudos abióticos como subsídio para a manutenção de Unidades de Conservação, especialmente na área de abrangência do planalto da Ibiapaba que abriga dois tipos de Unidades de Conservação. Dentre elas a APA da Ibapaba que é uma Unidade de Proteção de Uso Sustentável e o Parque Nacional de Ubajara como Unidade de Proteção Integral.

Agradecimentos

Referências

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TABARELLI, M.; SANTOS, A. M. M. Uma breve descrição sobre a história natural dos brejos nordestinos. Brasília, 2004.

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