CARACTERIZAÇÃO GEOMORFOLÓGICA: UMA CONTRIBUIÇÃO AO PLANEJAMENTO AMBIENTAL DO MUNICÍPIO DE ARATUÍPE, BAHIA.

Autores

Avelino, E. (IFBAIANO, CAMPUS CATU)

Resumo

A pesquisa visa propor uma caracterização geomorfológica para o município de Aratuípe, BA; identificando os principais comprometimentos ambientais. A metodologia se baseou na proposta de Tricart (1977); do RADAMBRASIL (1981) e de Ross (1992). Os resultados ajudaram identificar três unidades de relevo (Planície Fluviomarinha; Tabuleiros do Recôncavo e Tabuleiros Pré-Litorâneos) e os seguintes comprometimentos ambientais: aterramento de manguezais; prática da queimada e ocorrência de voçoroca.

Palavras chaves

Geomorfologia; Caracterização; Planejamento ambiental

Introdução

A ocorrência de deslizamento de terras, de inundações e de processos erosivos reforçou a importância dos estudos geomorfológicos, uma vez que esse tipo de conhecimento oferece subsídio que ajuda a ocupar o espaço de maneira racional e a prevenir a perda de vidas humanas. Segundo Ross (1992), a Geomorfologia oferece suporte para o entendimento dos ambientes naturais, onde as sociedades humanas se estruturam, extraem os recursos para a sobrevivência e organizam o espaço físico-territorial. Nos estudo sobre caracterização geomorfológica é recorrente a preocupação com a escala utilizada para a identificação das feições do relevo. Apesar disso, em revisão de trabalhos sobre essa temática, Ab’Sáber (1998) chamou a atenção para a escassez de pesquisas feitas em escalas detalhadas. Esta pesquisa concentrou a sua atenção no recorte temático de município pequeno, formado por até 20.000 habitantes (IBGE, 2010), com estudo de caso realizado no município de Aratuípe, Bahia. A área de estudo possui 8.599 habitantes (IBGE, 2010) e está localizado a cerca de 200 km da cidade do Salvador, a capital do Estado da Bahia (BAHIA, 2010). A escolha dessa área para a caracterização geomorfológica levou em consideração a importância que a escala municipal exerce no contexto da gestão pública, bem como a escassez de informações ambientais que pudessem traduzir a sua realidade geográfica. Diante do exposto, esta pesquisa tem o objetivo de propor uma caracterização geomorfológica para o município de Aratuípe, BA; identificando na(s) unidade(s) de relevo os principais comprometimentos ambientais. Os resultados do estudo podem subsidiar ações direcionadas ao planejamento ambiental na área de estudo, pois o conhecimento geomorfológico tornou-se um instrumental utilizado na recuperação de áreas degradadas, na classificação de terrenos suscetíveis aos deslizamentos e entre outas aplicações (CHRISTOFOLETTI, 2012).

Material e métodos

A concepção teórica do estudo fundamentou-se na contribuição de Penteado (1985); Cardoso da Silva (2000) e Christofoletti (2012). A metodologia se baseou na proposta de Tricart (1977) quanto à classificação do relevo em táxons (níveis de observação/escala); do projeto RADAMBRASIL (1981) no que se refere à nomenclatura adotada para as unidades do relevo e de Ross (1992) quanto à nocão de morfoestrutura/morfoescultura. A pesquisa utilizou a carta topográfica, em formato vetorial, das folhas Jaguaripe (IBGE, 1967) e Valença (SUDENE, 1977), com escala de 1:100.000, disponibilizadas pela Superintendência de Estudos Econômicos e Sociais da Bahia (SEPLAM, BAHIA). Além disso, usou imagens do satélite Advanced Spaceborne Thermal Emission and Reflection Radiometer (ASTER) do Global Digital Elevation Model (GDEM), resolução espacial 30m, cenas S14W039 e S14W040, ano de 2009, cedidas pelo The Ministry of Economy, Trade and Industry of Japan (METI) e National Aeronautics and Space Administration (NASA). Os procedimentos adotados foram organizados em etapas sequenciais distintas, mas complementares, os quais podem ser enumerados em: (1) Processamento - definição do sistema de projeção cartográfica, do datum geodésico e tratamento da imagem ASTER para extração de hipsometria, relevo sombreado, declividade e curva de nível; (2) Mapeamento geomorfológico - construção da legenda, delimitação das unidades do relevo; aplicação da técnica de amostragem aleatória simples para estabelecer as áreas visitadas durante a atividade de campo; (4) Reconhecimento de campo - legitimação da(s) unidade(s) de relevo mapeada e identificação dos principais comprometimentos ambientais.

Resultado e discussão

As discussões sobre geomorfologia feitas por Penteado (1985); Cardoso da Silva (2000) e Christofoletti (2012), associadas às Propostas de classificação do relevo segundo Tricart (1977); Projeto RADAMBRASIL (1981) e Ross (1992) permitiram identificar três unidades estruturais (morfoestrutura) na área de estudo: (a) Depósitos Quaternários (b) Estrutura Sedimentar e (c) Embasamento Cristalino. A partir dessa etapa, houve classificação das feições do relevo no município de Aratuípe, estabelecendo as seguintes unidades geomorfológicas (morfoescultura): (i) Planície Fluviomarinha, (ii) Tabuleiros do Recôncavo; e (iii) Tabuleiros Pré-Litorâneos (Figura 1). PLANÍCIE FLUVIOMARINHA - Corresponde às áreas baixas e planas situadas ao longo de regiões costeiras, estuários e baías, onde a dinâmica dos ciclos das marés predomina sobre os movimentos das ondas marítimas (IBGE, 2009). Em Aratuípe, a planície fluviomarinha está situada no extremo leste do município, o relevo possui modelado de acumulação e se desenvolveu a partir da combinação de processos geológicos e climáticos que resultaram na acumulação de sedimentos nas terras baixas e planas no estuário do rio Jaguaripe, desencadeando a formação dos ambientes de manguezais. Na área de estudo, essa unidade ocupa 3,94 km2 e as altitudes desse tipo de relevo oscilam entre a linha de costa do rio Jaguaripe até o limite máximo de 5m. As atividades de campo, realizadas em 2012 e 2014, mostraram que a Planície Fluviomarinha passa por processo de descaracterização ambiental, devido ao aterramento dos ambientes de manguezais para a construção de residências e de olarias para a produção de cerâmica (figura 2a). TABULEIROS DO RECÔNCAVO - O relevo está sustentado pelas rochas sedimentares do Grupo Brotas, situado entre os materiais argilo-siltosos (Leste) e as rochas do embasamento cristalino (Oeste). As colinas sedimentares são formadas por materiais porosos e permeáveis (arenitos), o que facilita a dissecação do modelado pela rede de drenagem e pelos processos climáticos. Essa forma de relevo possui modelado com dissecação homogênea (BRASIL, 1981); padrão de drenagem dendrítico e rios com baixa densidade; vertente com fisionomia côncavo-convexo e feição suave ondulada. Na área de estudo, essa forma de relevo ocupa 22 km2 e as altitudes variam de 6-90 metros. As atividades de campo, realizadas em 2012 e 2014, evidenciaram que a prática da queimada (figura 2b) constitui a principal ameaça para essa unidade de relevo. A ação do fogo extingue a fertilidade natural do solo devido a perda de matéria orgânica e nutriente, provocando a degradação pedológica do terreno. TABULEIROS PRÉ-LITORÂNEOS - Essa unidade de relevo se desenvolveu sobre as rochas do embasamento cristalino e possui modelado de dissecação homogênea, os seus interflúvios correspondem aos outeiros e morros com vertentes convexas e convexo-côncava, com topo abaulado (BRASIL, 1981),compondo a paisagem denominada de “mares de morros” (AZIZ AB’SABER, 2003). Em Aratuípe, os Tabuleiros Pré-Litorâneos ocupam 148 km2 e possuem nível altimétrico entre 91-240m, ocupando, assim, os terrenos mais elevados. Nessa unidade predomina os morros com vales “V” e as suas vertentes com declividades que variam entre 30° e 45° (BRASIL, 1983), bem como as colinas tabulares e as suas vertentes com declividade abaixo de 30°. As atividades de campo, realizadas em 2012 e 2014, demonstraram que a pastagem, com destaque para a pecuária bovina, constitui uma ameaça para essa unidade de relevo, uma vez que contribuiu para o desenvolvimento de terracetes nas áreas onduladas e, consequentemente, com a formação de sulcos erosivos que desencadearam a formação de voçorocas (figura 2c).


Figura 1: Unidades geomorfológicas, município de Aratuípe, BA. Elaboração: Avelino, 2014.


Figura 2 - a: aterramento de manguezal na Planície Fluviomarinha; b: ação do fogo no Tabuleiro do Recôncavo; c: voçoroca no Tabuleiro Pré-Litorâneo.

Conclusões

As contribuições feitas por Tricart (1977); Projeto RADAMBRASIL (1981); Penteado (1985); Ross (1992); Cardoso da Silva (2000) e Christofoletti (2012) possibilitaram caracterizar o relevo do município de Aratuípe, com base na escala local, por meio de mapa. A utilização da imagem ASTER permitiu a extração de dados sobre a hipsometria, o relevo sombreado, a declividade e a curva de nível. Estas técnicas em conjunto com a cartografia ajudaram na delimitação das unidades de relevo, legitimando a importância dos produtos do sensoriamento remoto nos estudos geomorfológicos. No município de Aratuípe, identificou-se a existência de três unidades de relevo, denominadas como: (i) Planície Fluviomarinha; (ii) Tabuleiros do Recôncavo e (iii) Tabuleiros Pré-Litorâneos. As atividades de campos evidenciaram que os principais comprometimentos ambientais são: o aterramento dos manguezais; a prática da queimada e a ocorrência de voçorocas. Os resultados podem ajudar no planejamento ambiental da área.

Agradecimentos

Agradeço a CAPES pela bolsa de 12 meses para a realização da pesquisa de mestrado, por meio do PósGeo/UFBA e ao IFBAIANO (Campus Catu) por viabilizar a participação no X SINAGEO.

Referências

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