FRAGILIDADE CLIMÁTICA E MORFOPEDOLÓGICA EM UNIDADES GEOAMBIENTAIS DO PARQUE NACIONAL DA SERRA DA CAPIVARA E ENTORNO, PIAUÍ, BRASIL

Autores

Aquino, C.M.S. (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ) ; Valladares, G.S. (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ) ; Aquino, R.P. (UNIVERSIDADE ESTADUAL DO PIAUÍ) ; Oliveira, J.G.B. (UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ)

Resumo

O trabalho objetiva o mapeamento de unidades ambientais, no PNSC - PI com posterior avaliação de suas fragilidades, considerando os aspectos climáticos, morfológicos e pedológicos. As unidades de maior fragilidade climática foram: as mesas e mesetas e as superfícies dissecadas em estreitos interflúvios do riacho Toca da Onça. As Superfícies Dissecadas em Estreitos Interflúvios dos Riachos Toca da Onça e Baixa do Lima são as mais frágeis morfopedologicamente.

Palavras chaves

Unidades Ambientais; Serra da Capivara; Fragilidade

Introdução

O ambiente natural é caracterizado pelo equilíbrio dinâmico em termos de trocas de matéria e energia. As características e a dinamicidade dos elementos da paisagem impõe a estes um conjunto de fragilidades ambientais (SILVA et al, 2008). A fragilidade do ambiente é a sua vulnerabilidade em sofrer qualquer tipo de dano e está relacionada a fatores de ordem tanto natural, oriundos da própria dinâmica do ambiente (elevadas declividades, alta erosividade da chuva, alta erodibilidade, ou seja alta susceptibilidade erosiva dos solos), quanto antropogênica, a exemplo do uso inadequado dos solos (CABRAL et al., 2011). Considerando a fragilidade natural das regiões semiáridas, a exemplo da área de estudo objetiva-se neste trabalho compartimentar o Parque Nacional da Serra da Capivara (PNSC) e seu entorno, em seguida relacionar as diferentes unidades ambientais com suas respectivas fragilidades naturais (Fragilidade Potencial) a partir de suas características climáticas e morfopedológicas, subsidiando assim possíveis reformulações no Plano de Manejo que data de 1991.

Material e métodos

A região do Parque Nacional Serra da Capivara localiza-se na porção sudeste do Estado do Piauí, abrange uma área em torno de 129.140 ha e engloba partes dos municípios de São Raimundo Nonato, Coronel José, João Costa e Brejo do Piauí. Apresenta características ímpares e diversificadas, posto situar-se em área de contato entre duas estruturas geológicas distintas: a Bacia do Parnaíba e a depressão periférica pré-cambriana do São Francisco. O PNSC abriga a maior concentração de sítios arqueológicos atualmente conhecidos nas Américas e apresenta belezas naturais magníficas. A delimitação das unidades ambientais identificadas no presente estudo baseou-se inicialmente no aspecto estrutural, seguido do aspecto topo-morfológico a partir de Modelo Digital de Elevação (MDE). A avaliação dos diferentes níveis de fragilidade baseou-se na análise do Índice Climático (IC) e no parâmetro Morfopedológico (MP). O IC resultou da combinação em sistema de informação dos seguintes mapas: Índice Efetivo de Umidade (Im) e Número de Meses Secos. O Im foi obtido através da relação entre o excedente, o déficit hídrico e a evapotranspiração potencial e evidencia o grau de aridez da área de estudo. Já o número de meses secos calculado com base no balanço hídrico sequencial de Thorthwaite (1955, 1957) evidencia a concentração das chuvas em determinados períodos do ano. O parâmetro Morfopedológico (MP) resultou da combinação dos mapas de Declividade e de Erodibilidade das associações de solos da área, esta última estimada a partir das classes texturais das associações de solos constantes em Jacomine (1987). As classes de declividade foram geradas a partir do utilitário SLOPE do IDRISI 3.2. Considerando os dados disponíveis fez-se uso da equação de Römkens et al. (1987 e 1997) para estimativa da Erodibilidade (K) das associações de solos.

Resultado e discussão

As unidades geoambientais compreendem unidades de paisagem que têm feições mais ou menos homogêneas, ocupando uma determinada porção da superfície terrestre, e revelando um conjunto de características físicas e bióticas próprias (SILVA et al, 2004). As unidades ambientais mapeadas na área de estudo foram: Chapadas; Mesas e Mesetas; Superfície Dissecada em Estreitos Interflúvios do Riacho Toca da Onça; Superfície Dissecada em Estreitos Interflúvios do Riacho Baixa do Lima; Superfície Dissecada em Estreitos Interflúvios dos Riachos do Brejo e Nova Olinda; Frente de Cuesta Dissecada em Festões; Relevos Residuais (maciços calcários/inselbergs)e Pedimento (Fig.2. A fragilidade climática é expressa pelas classes: muito baixa (1), baixa (2), mediana (3), alta (4) e muito alta (5). A fragilidade morfopedológica é expressa pelas classes: baixa (1), média (2), alta (3). As classes expressam a fragilidade do ambiente em relação aos processos ocasionados pelo índice climático e pelo parâmetro morfopedológico, determinando as áreas mais frágeis e, portanto mais propícias à erosão devido a suas características genéticas naturais. A análise dos dados permite inferir que nas unidades ambientais representadas pelas mesas e mesetas e superfícies dissecadas em estreitos interflúvios do riacho Toca da Onça, são constatados os maiores valores relativos de fragilidade climática. Em 75,3% e em 97,9% da área destas unidades respectivamente a fragilidade climática varia de mediana a muito alta. As unidades ambientais que evidenciaram maior fragilidade considerando o parâmetro morfopedológico foram: Superfície Dissecada em Estreitos Interflúvios do Riacho Toca da Onça (18,2%) e a Superfície Dissecada em Estreitos Interflúvios do Riacho Baixa do Lima (35,3%).

Figura 1- Unidades ambientais do Parque Nacional da Serra da Capivara

Figura 1- Unidades ambientais do Parque Nacional da Serra da Capivara e Entorno.

Conclusões

A identificação de unidades ambientais com posterior avaliação da fragilidade a partir de indicadores biofísicos (climáticos e morfopedológico) para a área de estudo, constitui-se um instrumento valoroso no sentido de orientar ações de monitoramento da fragilidade potencial/natural na área de estudo. Os dados da pesquisa indicam que as unidades ambientais que apresentaram maior fragilidade climática foram: i)mesas e mesetas e ii)superfície dissecada em estreitos interflúvios do riacho Toca da Onça. Quanto a Fragilidade morfopedológica os resultados indicaram a i)Superfície Dissecada em Estreitos Interflúvios do Riacho Toca da Onça e ii)a Superfície Dissecada em Estreitos Interflúvios do Riacho Baixa do Lima, como as de maior fragilidade. Pela metodologia adotada a Superfície Dissecada em Estreitos Interflúvios do Riacho Toca da Onça, merece mais atenção no tocante as vulnerabilidades e limitações demandando, mais atenção no sentido de medidas mitigadoras a fragilidade aqui analisada.

Agradecimentos

A Fundação de Amparo a Pesquisa do Estado do Piauí - FAPEPI, pelo financiamento da pesquisa. A Universidade Federal do Piauí. A Universidade Estadual do Piauí.

Referências

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