Relevo Ruiniforme da Serra dos Tapuias - Bahia: Características e Potencialidades

Autores

Meira, S.A. (UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ) ; Santos, G.B. (UNIVERSIDADE FEDERAL DO OESTE DA BAHIA)

Resumo

O artigo discute a presença de relevo ruiniforme na Serra dos Tapuias, Riachão das Neves, Bahia, bem como as potencialidades e vulnerabilidades desse patrimônio geomorfológico. Foi realizado busca de referencial teórico, saídas de campo para análise da paisagem e técnicas de inventariação e avaliação de patrimônio geológico segundo seu caráter educativo. Percebeu-se a importância educativa sobre relevo ruiniforme diante os diferentes temas referentes as Ciências da Terra.

Palavras chaves

Relevo Ruiniforme; Patrimônio Geológico; Geossítio

Introdução

A geomorfologia é o ramo das Ciências da Terra preocupada em discutir as formas do relevo e os processos relacionados. Algumas feições apresentam-se como corriqueiras dependendo das regiões que ocorram, porém, outras são chamadas de paisagens de exceção devido à complexidade de elementos necessários para a sua formação. Dentre as paisagens de exceção estão inseridos os relevos ruiniformes, os quais apresentam como principais expoentes nacionais os complexos de Vila Velha, no Estado do Paraná, e Sete Cidades, no Piauí, porém outros locais no Brasil apresentam tais feições não sendo esses estudados ou apropriados por prática turística. Diante disso, o presente artigo tem como objetivo tratar sobre feições ruiniformes existentes no topo da Serra dos Tapuias, município de Riachão das Neves, oeste da Bahia. O local é dotado de grande beleza cênica, com a presença de grandes blocos isolados e de uma caverna em rocha arenítica da Formação Serra das Araras, potencialidade ecológica, pelas diferentes fitofisionomias de Cerrado e relevância cultural pela presença de pinturas rupestres. O local, devido suas características, foi inventariado como um local de interesse geológico (geossítio) e como objetivo complementar da pesquisa realizou-se a avaliação de seu potencial educativo, bem como sua vulnerabilidade, tendo como base teórica e metodológica estudos referentes a temática do Patrimônio Geológico.

Material e métodos

O presente artigo é oriundo da monografia intitulada “Geodiversidade da Serra dos Tapuias – Riachão das Neves (Bahia): Inventariação e Avaliação de Geossítios” que teve como objetivo discutir questões referentes a geodiversidade e o patrimônio geológico do local. Dentre os locais inventariados e classificados estão feições ruiniformes as quais configuram o objetivo da atual análise. A metodologia partiu, em um primeiro momento, da busca de referencial teórico sobre os temas, seguida por trabalhos de campo, onde foi realizada a análise da paisagem e a inventariação dos Geossítios, a qual teve como base adaptação da metodologia adotada por Pinto (2011) e Pereira (2006), composta por fichas de caracterização dos prováveis geossítios, que conta com elementos como a localização, características petrográficas, geomorfológicas, tipo de geossítio, registro fotográfico e uma avaliação preliminar. A avaliação do valor educativo e da vulnerabilidade dos geossítios seguiu adaptação de metodologia apresentada por Brilha (2005). Devido a características intrínsecas da área de pesquisa algumas classes foram retiradas, como as de Infraestrutura Logística e Densidade Populacional, ou alteradas, como as classes de Segurança, Associação com outros valores e Beleza Cênica. Os geossítios podem alcançar valores que variam entre 1 (para mínimo) e 4 (para o máximo), diante disso foram estabelecidas classes, sendo que elas compreendem o intervalo entre 1 – 1,99 para o valor baixo, 2 – 2,99 para o valor médio e entre 3 - 4 para o valor alto.

Resultado e discussão

A Serra dos Tapuias apresenta em seu topo uma geoforma característica de superfícies residuais esculpida no arenito da Formação Serra das Araras, pertencente ao Grupo Urucuia. Essas feições são representadas por blocos rochosos aflorantes de grandes dimensões isolados, sendo que alguns chegam a criar dutos (Fig. 1). As características configuram um relevo ruiniforme na área. Segundo Ab’Saber (1977, p.2) a “topografia ruiniformes são heranças de processos geológicos e geomorfológicos, mais ou menos complexos, que se enquadram na categoria das paisagens de exceção”. O glossário (PARANÁ, 2004, p.19) aponta no conceito de relevo ruiniforme aspectos relativos à escala das feições e dos processos inerentes a sua formação, sendo ele uma “associação de macro e meso formas de relevo originadas pela erosão pronunciada das rochas, combinando dissolução e remoção mecânica de grãos; as formas são muito ornamentais e elaboradas, evidenciando a corrosão, e conferindo os aspectos de antigas ruinas”. Alguns outros pontos validam a existência do relevo ruineforme na Serra dos Tapuias. De acordo a Ab’Saber (1977, p.6) “as topografia ruiniformes do Brasil, em sua grande maioria, estão vinculadas a determinados morros testemunhos areníticos”, estando a área enquadrado geológico e geomorfologicamente. A gênese das feições é oriunda da erosão diferencial que desintegram as rochas, a qual pode desenvolver-se devido características intrínsecas ou a fatores externos que convergem os agentes erosivos em determinados pontos. Na área a gênese vem de características intrínsecas das rochas, é possível visualizar porções de rochas conglomeráticas com cimento friável em veios entre arenitos menos friáveis. A diferença litológica geraria pontos de maior erosão (erosão diferencial) que com o tempo origina dutos de maiores dimensões, evoluindo para um relevo ruiniforme. Melo et al (2002) ao tratar sobre Vila Velha-PR expõe que as esculturas são nominadas de acordo a imaginação lúdica do público leigo que a visita, ou, das populações locais, o mesmo ocorre na Serra dos Tapuias onde o nome das feições remete a formas do cotidiano, como a rocha do Portal (Fig. 1a) e da Taça, ou por lembrar questões históricas, como a casa dos Tapuias (Fig. 1b), nomeada devido os antigos moradores. As feições ruiniformes presentes no topo da Serra dos Tapuias foram classificadas como Geossítios, sendo realizada a avaliação de seu potencial educativo. O geossítio (área) vai do Portal (Fig. 1a), nas coordenas UTM X:0491532/Y:8713842, até a caverna em arenito denominada Casa dos Tapuias (Fig. 1b), UTM X:0491730/Y:8713920. O valor educativo do geossítio é de 2,70 (médio). A difícil acessibilidade das feições, a existência de vegetação e demais obstáculos que dificultam a visualização de alguns atributos, a potencialidade didática atingir apenas 2 valores, já que os elementos da geodiversidade abordam apenas conteúdos do ensino médio e superior, são questões que impossibilitaram melhor resultado. Em contrapartida o geossítio apresenta elevada associação com valores ecológicos, é possível visualizar diferentes fitofisionomias do cerrado, indo desde campo rupestre a espécies do cerrado stricto-sensu, bem como a valores culturais, já que nessas feições são encontradas pinturas rupestres deixadas pelos índios Tapuias. O grande apelo cênico das feições, devido às elevadas dimensões e suas formas, são relevantes. A vulnerabilidade do geossítio foi de 1,85 (baixo). A distância de atividades potencialmente degradadoras e vias de acesso, corroborou para o baixo grau de vulnerabilidade da área. As feições não apresentam possibilidade de deterioração de conteúdos principais por ações antrópicas, porém elementos secundários, no caso as pinturas rupestres, são passíveis de degradação pelo homem, o que já vem ocorrendo em algumas áreas através de pichações, o que vem representar uma grande perda no patrimônio cultural da região do oeste da Bahia

Fig. 1

Maciços residuais no topo da Serra dos Tapuias.

Conclusões

Os ambientes de relevo ruiniforme apresentam-se como áreas com enorme potencialidade turística, devido o apelo de suas formas, e didática, já que devido diversidade de elementos que contribuíram para sua formação diversos conceitos referentes às Ciências das Terras podem ser abordados. Tais potencialidades podem ser visualizadas no topo da Serra dos Tapuias, onde o relevo ruiniforme é oriundo da erosão diferencial em arenito com discordância textural e apresenta blocos isolados e cavernas no arenito. Através da avaliação do geossítio percebeu-se a potencialidade educativa e a baixa vulnerabilidade do local. Diante disso, o presente trabalho fica como incentivo para futuros trabalhos sobre a temática na área e em um recorte espacial maior, caracterizado pelo oeste da Bahia. Isso diante a ausência de bibliografia relevante sobre os temas geodiversidade, patrimônio geológico e relevo ruiniforme para a região.

Agradecimentos

Ao CNPq por auxílio financeiro através de bolsa de mestrado para o primeiro autor. Ao grupo de pesquisa do CNPq "Sistemas costeiros e oceânicos".

Referências

AB’SABER, A. N. Topografia Ruiniformes no Brasil. In: Geomorfologia. São Paulo: Universidade de São Paulo, Instituto de Geografia, 1977.
BRILHA, J. Património Geológico e Geoconservação: A Conservação da Natureza na sua Vertente Geológica. Braga: Palimage Editores, 2005.
MELO, M. S.; BOSETTI, E. P.; GODOY, L. C.; PILATTI, F. Vila Velha, PR – Impressionante relevo ruineforme. In: SCHOBBENHAUS, C; CAMPOS, D. A; QUEIROS, E. T.; WINGE, M; BERBERT-BORN, M.L.C. (Edits). Sítios Geológicos e Paleobiológicos do Brasil. 1 Ed. Brasilia: DNPM/CPRM – Comissão Brasileira de Sítios Geológicos e Paleobiológicos (SIGEP), 2002, v.01: 269-277.
PARANÁ. Anexos Plano de Manejo do Parque Estadual de Vila Velha.2004. Disponível em:http://www.iap.pr.gov.br/arquivos/File/Plano_de_Manejo/PE_VilaVelha/PEVV_anexos_final.pdf, acesso em junho de 2014.
PEREIRA, P. Património geomorfológico: conceptualização, avaliação e divulgação: Aplicação ao Parque Natural de Montesinho. Tese (Doutoramento em Ciências. Área de conhecimento em Geologia). Escola de Ciências, Universidade do Minho, Portugal. 2006
PINTO, A. M. R. T.. Caracterização e valorização do património geológico da Penha (Guimarães – Norte de Portugal). 2011. 202 f. Dissertação (Mestrado em Património Geológico e Geoconservação). Escola de Ciências, Departamento de Ciências da Terra, Universidade do Minho, Braga, Portugal. 2011.


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