Autores

Lima, M.L.S. (UNESA) ; Barbosa, D.R. (UNESA) ; Regallo, F.L.S. (UNESA)

Resumo

Para se entender melhor a dinâmica de transformação das paisagens, é fundamental avaliar as interações geográficas, políticas, sociais, econômicas, culturais e históricas, de forma integrada e sistêmica. Nesse contexto, a bacia hidrográfica como unidade territorial possui uma importante função como sistema ecológico. É fundamental que sejam desenvolvidos mais mapeamento de áreas potenciais a ocorrência de processos erosivos e seus mecanismos de evolução dessas atividades nos limites geográficos da bacia hidrográfica do Rio Saí, a partir de técnicas de geoprocessamento com o uso de Sistema de Informação Geográfica (SIG), a fim de apoiar o planejamento territorial sustentável de Mangaratiba. O trabalho aqui proposto busca identificar os usos do solo atuais na bacia hidrográfica do rio Saí, em Mangaratiba.

Palavras chaves

Sistema de Informação Geográfica; Bacia Hidrográfica; Risco Ambiental

Introdução

O modelo de desenvolvimento adotado pela sociedade contemporânea não vem levando em conta a degradação da biosfera, ela se apropria do espaço geográfico para se organizar social e economicamente, domina a natureza, modelando-a conforme o seu interesse (Barbosa, 2013). A degradação dos recursos hídricos constitui tema crescentemente valorizado em diversos tipos de diagnósticos e estudos de impactos ambientais. O modelo de desenvolvimento adotado pela sociedade contemporânea não tem levando em conta a degradação da biosfera e se apropria do espaço geográfico para se organizar social e economicamente, dominando a natureza e a modelando conforme o seu interesse. Atualmente, os estudos em bacias hidrográficas tem sido uma boa alternativa para análise ambiental das dinâmicas ocorridas em uma área. Segundo Cunha & Coelho (2003), as bacias hidrográficas integram uma visão conjunta do comportamento das condições naturais e da sociedade, na medida em que a mesma é campo de ação política, de partilha de responsabilidades e de tomada de decisões. A bacia hidrográfica é reconhecida como unidade espacial da Geografia Física desde meados do século XX. Inundações, erosão, movimentos de massa, dentre outros processos, têm aumentado consideravelmente nas últimas décadas, principalmente na Costa Verde do Estado do Rio de Janeiro, onde a ocupação e uso insustentável do espaço geográfico é uma realidade e, por isso, o risco ambiental precisa ser considerado no desenvolvimento de políticas públicas e planejamento urbano. Essas consequências poderão ser observadas na bacia do rio Saí, localizado no município de Mangaratiba, aonde a ocupação das encostas íngremes vem acontecendo de maneira intensa, nas últimas décadas. Nesse sentido, é preeminente a necessidade de estudos científicos voltados para a identificação do risco ambiental em Mangaratiba, para que medidas preventivas sejam tomadas, no sentido de minimizar as possíveis perdas geradas pelos processos ambientais, como erosão e movimentos de massa. Após os eventos naturais do início de 2010, fica evidente a necessidade do mapeamento e identificação das áreas consideradas de risco ambiental. A partir do levantamento destas informações as autoridades locais passariam a ter um instrumento poderoso de gestão ambiental e social. Este material pode ser incorporado no planejamento de ações futuras da Secretaria Municipal de Obras, Urbanismo e Planejamento e para os Planos de Contingência Montados para Situações Emergenciais da Defesa Civil, além dos estudos de finalização do Plano Diretor, a partir de decisões que podem ser tomadas em conjunto com a população local, como já tem acontecido com outros municípios no estado do Rio de Janeiro. Os trabalhos de identificação de áreas de risco por meio da decisão multicritério e técnicas de geoprocessamento, utilizando mapas digitais de relevo, solos, uso do solo e interpretação do modelo digital de elevação, precisam ser aplicados no planejamento ambiental de Mangaratiba. É fundamental que os mapas digitais temáticos sejam produzidos, no sentido de contribuir para a discussão ambiental no município. O trabalho aqui proposto busca identificar os usos do solo atuais na bacia hidrográfica do rio Saí, em Mangaratiba.

Material e métodos

Para a análise da bacia hidrográfica do rio Saí, o trabalho foi desenvolvido em diferentes etapas. A primeira consistiu no levantamento bibliográfico/cartográfico, com busca de informações, junto aos principais órgãos ambientais e artigos científicos. A segunda etapa foi à aquisição das ortofotos, com resolução espacial de 1m, ano de 2013, cedidas pelo Instituto Estadual do Ambiente do Rio de Janeiro (INEA), no sentido de digitalizar a bacia hidrográfica e seus limites topográficos, através da interpretação fotogramétrica. Para digitalização dos shapes e organização do mapa digital, foi necessário o uso do software de geoprocessamento Arcgis 10.3. Nessa etapa, foi aproveitada a base cadastral, em escala 1:10.000, da Secretaria Municipal de Planejamento de Mangaratiba, produzida em fevereiro de 2012. Para o mapeamento de uso e cobertura da terra, utilizou-se procedimentos de segmentação com o algoritmo Mean Shift software ArcGIS 10.3, no qual classifica-se a imagem em probabilidades máximas de um conjunto de bandas em formato raster, e gera-se um novo arquivo raster classificado, logo analisou-se as semelhanças e agrupamentos e associações através das áreas de treinamento para definição das classes de uso e cobertura. A próxima etapa foi o trabalho de campo, para o conhecimento da dinâmica espacial da bacia hidrográfica e a real situação de proteção e degradação dos recursos naturais.

Resultado e discussão

A bacia do rio Saí abrange cerca de 24,27km2, sendo delimitada pelas Serras do Piloto, Mazomba e Sai, entre cotas altimétricas de 600 e 900m. O rio nasce a 850m, na localidade conhecida como Pinheirinho, e se desenvolve por cerca de13,3km, passando a drenar áreas sub-horizontalizadas a partir da cota de 50m. No seu trajeto, banha as localidades de Rubiu, Matundu e Saí. (Figura 1). Figura 1: Localização da bacia do rio Saí Para Sebusiani & Bettine (2011), por sua importância histórica e também pelo fato de hoje constituírem áreas de intensa ocupação urbana, as bacias hidrográficas presentes no meio urbano constituem um recorte espacial de importância fundamental para o planejamento urbano. Quase sempre, seu processo de uso e ocupação do solo, é desenvolvido de modo espontâneo, raramente fundamentado nas questões ambientais. A intensidade de uso e ocupação de uma bacia hidrográfica está fortemente associada ao nível de impermeabilização do solo dessa mesma região e por isso esses aspectos devem ser trabalhados de forma conjunta. O mapeamento das informações é um recurso muito utilizado para tornar mais evidente os padrões de uso e ocupação dos espaços. A visualização dos fatos no espaço, melhora a compreensão das interações existentes. Para Vanzela, Hernandez e Franco (2010), o uso e a ocupação dos solos exercem influência marcante no escoamento superficial e aporte de sedimentos no leito dos mananciais, podendo alterar a qualidade e a disponibilidade da água. Segundo Deák (2001), o uso e ocupação do solo caracterizam-se pelo conjunto das atividades de uma sociedade por sobre uma aglomeração urbana. Pode se dizer que o uso do solo é o rebatimento da reprodução social no plano do espaço urbano. Sendo que pode haver o uso do solo sem necessariamente haver ocupação, apesar da ocupação, por si só, configurar-se com um dos tipos de uso do solo. A importância da análise do uso e da ocupação do solo em estudos de caracterização ambiental justifica-se principalmente pela necessidade da identificação de fontes ou potenciais fontes de alterações do ambiente, advindas das atividades humanas. Conforme Araújo (2008), a ocupação da terra a partir das diversas necessidades humanas faz com que cada vez mais o estudo sobre o meio ambiente torne-se tema de pesquisas científicas, pois as informações espaciais, principalmente sobre o uso e cobertura da terra, estabelecem-se como condição imprescindível para o entendimento sobre como homem se apropria do espaço. Além de dados como unidades geológicas, geomorfológicas e pedológicas, classificação climática, comportamento hidrográfico e declividade, o tipo de uso que é realizado na bacia hidrográfica poderá auxiliar na compreensão dos riscos à erosão que a população local já sofre ou possa vir a sofrer. Na bacia hidrográfica do rio Saí, a maior parte da área ainda é coberta por uma vegetação de grande porte e localiza-se principalmente nas encostas íngremes das Serras do Piloto, Mazomba e Sai. Na verdade, o uso da terra está fortemente ligado às condições físico-geográficas da área e as áreas de florestas localizam-se nos topos das montanhas, nas encostas mais íngremes e nos vales de ordem mais inacessíveis. Figura 2: Uso do solo na bacia do rio Saí Por sua vez, a vegetação em regeneração, nos seus diferentes estágios, ocupa indistintamente áreas originalmente da Floresta e, por vezes, misturando-se a ela. Destaca-se que esta área vem sofrendo um grande processo de pressão humana, principalmente, por meio da expansão das plantações e habitações. Barbosa, Oliveira e Silva (2013) demonstraram que oitenta e quatro por centro da planície de inundação do rio Saí já se encontra desmatado, e a floresta deu lugar à vegetação secundária, pastagem e área urbana. As Áreas Urbanizadas estão em franco processo de crescimento, por conta dos investimentos para a implantação de condomínios de luxo. Os empreendimentos imobiliários Costa do Saí e Saí Residencial são localizados na planície de inundação do rio Saí. Próximo à foz do Rio Saí localiza-se a sua praia, cercada por uma pequena comunidade homônima, com infraestrutura comercial que atende nativos, veranistas e eventuais turistas. Esse dinamismo relativo ao espaço geográfico da área de estudo está diretamente ligado a um padrão espacial de ocupação enfatizado pelas dimensões econômicas (relações produtivas entre classes sociais e capital-trabalho) e também uso do solo na utilização dos recursos da região, processo que tem se dado no município de Mangaratiba em função dos anéis suburbanos, em torno da metrópole do Rio de Janeiro aumentando mosaicos paisagísticos de adensamentos urbanos em função de um processo de urbanização diluído em meio a projetos imobiliários à espera de valorização Barbosa, Regallo e Silva (2015).

Figura 1

Figura 1: Localização da bacia do rio Saí

Figura 2

Figura 2: Uso do solo na bacia do rio Saí

Considerações Finais

A bacia do rio Saí apresenta difenciados níves de degradação em sua área. Embora o a área tenha uso predominante de floresta nas vertentes iessa composição vegetal apresenta-se em diferentes estágios regenerativos. A prática agropecuária nas áreas já degradadas tem crescido na última década, associada ao avanço da urbanização de baixa intensidade ao longo de trilhas, pequenas vias de comunicação nas encostas e na sua planície de inundação. O uso urbano ocupa uma pequena área da bacia, mas, há expectativa de seu aumento, sobretudo na planície de inundação do rio principal, com a ampliação dos investimentos em complexos imobiliários que exploram as áreas aprazíveis, verdes, no entorno do curso d´água. As transformações no uso do solo são importantes para determinar os riscos de erosão na bacia, sobretudo no alto curso, onde o relevo apresenta-se acidentado e os perfis pedológicos são menos desenvolvidos. O desmatamento e compactação promovida pelo peso de maquinários e rebanhos reduz os níveis de infiltração de água no solo e contribuem para o escoamento superficial, elemento fundamental para o desenvolvimento de processos erosivos. O monitoramento das alterações no uso do solo beneficiará a sociedade, na medida em que funcionará como um instrumento para o planejamento racional da ocupação e do uso do solo, implicando, por conseguinte, em uma melhoria significativa na qualidade de vida.

Agradecimentos

Referências

ARAUJO, G.H. de S.; ALMEIDA, J. R &; GUERRA, A.J. T. Gestão ambiental de áreas degradadas. 3ªed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2008.

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BARBOSA, D.R.; REGALLO, F.L.S. & LIMA, M.L.S. Sensibilidade ambiental na bacia do Rio Saí, município de Mangaratiba (RJ): uma ferramenta analítica par analise de risco. In VII Seminário de Pesquisa da Estácio, 2015, Rio de Janeiro. Anais do VII Seminário de Pesquisa da Estácio. Rio de Janeiro: Unesa, 2015.

BARBOSA, D.R.; OLIVEIRA, R.R.; SILVA, F.G. Uso Do Solo E Ocupação Na Planície De Inundação Do Rio Saí (Mangaratiba/RJ). In: IV Workshop Internacional sobre Planejamento e Desenvolvimento Sustentável em Bacias Hidrográficas, 2013, Presidente Prudente. Anais do IV Workshop Internacional sobre Planejamento e Desenvolvimento Sustentável em Bacias Hidrográficas. Presidente Prudente: Unesp, 2013.

DEÁK, C. À busca das categorias da produção do espaço. Cap.5: Localização e espaço: valor de uso e valor. USP, 2001. Disponível em: http://www.usp.br/fau/docentes/depprojeto/c_deak/CD/4verb/usodosolo/index.html#top. Acesso em: junho de 2011

SEBUSIANI, H.R.V. & BETTINE, S.C. Metodologia de análise do uso e ocupação do solo em micro bacia urbana. In: Revista Brasileira de Gestão e Desenvolvimento Regional. v. 7, n. 1 (2011).

VANZELA, L.S.; HERNANDEZ, F.B.T & FRANCO, R.A.M. Influência do uso e ocupação do solo nos recursos hídricos do Córrego Três Barras, Marinópolis. In: Revista Agriambi, v.14, n1, p 55-64. 2010.