Autores

Silva, L.P. (UFG) ; Cherem, L.F.S. (UFG)

Resumo

A Chapada dos Veadeiros corresponde a uma importante área de conservação do patrimônio biológico e geológico, localizada no estado de Goiás. Atualmente, está em discussão, a proposta de expansão dos limites do PNCV. A área foi recomendada também pela CPRM como área com potencial para criação de um Geoparque. Essa convergência de interesses permite que o PNCV possa integrar essas prerrogativas e assumir o estado de Geoparque. Assim, objetiva-se analisar a diversidade geomorfológica do parque e seu entorno, a fim de avaliar se a conservação do patrimônio geológico-geomorfológico será abarcada pela proposta de expansão do PNCV. Os resultados indicaram que as expansões norte e leste ampliam a diversidade de elementos geológicos e geomorfológicos compreendidos no parque, que a expansão sul mantem as mesmas características da área original do PNCV. A ampliação aumenta a diversidade do patrimônio geológico e geomorfológico protegido pelo parque nacional.

Palavras chaves

patrimonio geologico; patrimonio geomorfologico; parques nacionais

Introdução

A região da Chapada dos Veadeiros (PNCV) destaca-se dentre os exemplares do rico patrimônio natural do Estado de Goiás por representar uma das regiões mais bem preservadas do Cerrado brasileiro. A paisagem dessa região foram modeladas por milhões de anos de evolução geológica e ação geomorfológica (OLIVERA, 2007). O nome “Chapada dos Veadeiros” se refere a uma ampla área situada no norte-nordeste de Goiás, que se estende num formato irregular, que não apresenta necessariamente uma morfologia contínua, no sentido de uma chapada homogênea, mas de grandes extensões de relevos planos e com altimetrias elevadas em relação ao seu entorno, porém entrecortadas por vales esculpidos pelos rios e córregos (DARDENNE, CAMPOS, 2000). A região está inserida na porção norte da Faixa de Dobramentos e Cavalgamentos Brasília na Província Estrutural do Tocantins, predominando metassedimentos de baixo grau atribuídos ao Grupo Araí e rochas granitoides dentro dos limites do parque. Ao sul, em contato discordante, ocorrem rochas metamorfizado do Grupo Paranoá (CAMPOS, DARDENNE, 2000). A Chapada dos Veadeiros é uma região singular no contexto da geomorfologia de Goiás, já que apresenta a maior extensão de terras elevadas do estado e também o seu ponto culminante, que fica situado da “Serra do Pouso Alto” que atinge 1676m de altitude. A Chapada dos Veadeiros em sua porção oeste perde altitude, geralmente de forma brusca, na direção das depressões e planaltos ligados à ação da drenagem formadora do rio Tocantins, como o rio Tocantinzinho e seus tributários (LIMA, 2013). Essas paisagens tem um destacado papel do componente endógeno, que fica marcado nas formas de vales, chapadas, paredões, cristais de antigas dobras, sobre os quais se instalou o cerrado rupestre, com espécies típicas de grandes altitudes. A geodiversidade e a diversidade geomorfologica colocaram a região como um dos 'hotspot' para conservação do patrimônio geológico e geomorfológico pela UNESCO (SCHOBBENHAUS, SILVA, 2012). A isso, soma-se a importância ecológica da região, que é remarcada pela criação do Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros em 1979, visando proteger a riqueza e diversidade biológica do cerrado (ICMBIO, 2009). Recentemente, iniciaram-se as discussões para ampliação do PNCV, quando o Ministério do Meio Ambiente e o conselho gestor do parque têm discutido junto à comunidade as melhores propostas de expansão do parque. A proposta mais recente (Figura 1) é composta por três polígonos localizados no entorno dos atuais limites do parque e ampliam a área da Chapada dos Veadeiros protegida pelo Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC). A proposta foi feita no âmbito do Projeto “Políticas para o Cerrado e Monitoramento do Bioma” (Iniciativa Cerrado Sustentável – MMA) com o objetivo de assegurar a conservação e proteção do Bioma Cerrado (RANIERI, 2011). Essa proposta visa garantir uma área mais fortalecida, já que existe uma tendência de transformação do uso da terra e pressões sobre o parque, principalmente pelo avanço da agricultura na região e extinção de espécies. Entretanto, por a área também ser um 'hotspot' para a geoconservação em âmbito internacional, é importante assegurar a proteção ao patrimônio geológico e geomorfológico dessa região. Nesse sentido, objetiva-se analisar a diversidade geomorfológica e geológica do PNCV, seu entorno e suas prováveis áreas de expansão, a fim de avaliar se a conservação do patrimônio geológico-geomorfológico será abarcada pela proposta de expansão do Parque.

Material e métodos

Como base cartográfica para este estudo, utilizou-se informações do SIEG – Sistema Estadual de Estatística e Informações Geográfica de Goiás, tais como geologia, declividade, altimetria, relevo, topografia e limites geográficos. Além disso, utilizaram-se dados de imagens SRTM obtidas pela EMBRAPA Relevo (BRASIL 2009). Os mapas gerados para esse trabalho foram confeccionados utilizando o ArCGis 9.1. A vetorização do limite geográfico da expansão do PNCV utilizou os dados do “Relatório Técnico – Elaboração de diagnóstico dos aspectos naturais (bióticos e abióticos) visando criação de unidades de conservação na região da Chapada dos Veadeiros – GO”.

Resultado e discussão

A geomorfologia da área de estudo (figura 2), têm como unidades mais expressivas as Superfícies Regionais de Aplainamento (SRA ). Na área limite do PNCV encontra-se predominantemente o compartimento SRA I e pequenas faixas de SRA IV e ZER (Zona de Erosão Recuante). A SRA I situada excepcionalmente no nordeste de Goiás ocupa cerca de 1% da área do estado, desenvolve-se acima das cotas de 1.250 até 1.600 m com agrupamentos de morros (inselbergs) sobre esta, que atingem até 1.600m de altura e é representada tipicamente na Chapada dos Veadeiros, onde se desenvolve principalmente sobre as litologias pertencentes aos metassedimentos do Grupo Araí e embasamento granítico-gnaíssico da Faixa Brasília. Localmente esta unidade exibe falésias imponentes e abruptas nas bordas dos chapadões, onde é marcada por beleza paisagística pelo fato de ter contato direto com as superfícies de cota muito mais baixa. Devido a essa conjunção de beleza paisagística e presença de ecossistemas particulares de altitude é que foi delimitado nesta unidade o PNCV. Quanto aos limites da expansão duas unidades são expressivas: ZER e SRAII, além de pequenos fragmentos de Morros e Colinas (MC). A ZER está associada a grandes bacias de drenagem pode se estender por amplas áreas, com recuos significativos e vales com vertentes apresentando depósitos coluviais, frequentemente com fragmentos de lateritas erodidas. A SRAII desenvolve entre as cotas 900 - 1.250 m onde ocupa aproximadamente 19% da área do estado. Este sistema se desenvolve sobre formações proterozóicas menos resistentes, compostas por ardósias, calcários, dolomitos entre outras. Em relação ao relevo da área (Figura 3), dentro dos limites do Parque, destacam-se as altitudes mais altas, nas faixas compreendidas entre 1.100 a 1.700m de altitude, caracterizado por relevo elevado, com topos planos limitados por escarpas abruptas que configuram os divisores de águas. Constituem superfícies tabulares alçadas ou relevos soerguidos, caracterizadas por Chapadas e Platôs. Nessas formas de relevo, há fraco predomínio de processos de pedogênese, com frequente atuação de processos de erosão laminar ou linear acelerada. Nos limites propostos na expansão do Parque, as características de relevo permeiam as cotas mais baixas, com altitudes que variam de 700 a 1.100m. Constituem superfícies planas a onduladas e são formas que apresentam amplitude de releve entre 0 e 10 m. Por exibirem baixas declividades, são gerados solos rasos e pedregosos. No aspecto geológico, dentro dos limites do Parque há predomínio do Grupo Araí – Formação Arraias, que também é expresso nos limites propostos na expansão. Em termos gerais, o Grupo Araí apresenta uma marcante polaridade estrutural, apresentando condições de deformação mais intensa (dobramentos apertados a isoclinais) na porção mais interna da Faixa Brasília que passam a ondulações em direção ao Cráton do São Francisco na Margem externa da faixa (DARDENNE; CAMPOS, 2000). A litologia (figura 4) presente dentro da área do PNCV é caracterizada por uma grande extensão de Quartzito feldspático e uma faixa de Xisto, também possui um pequeno fragmento de Migmatito. Nos limites da proposta de expansão, também apresenta uma grande extensão de Quartzito feldspático, no entanto, outros grupos se destacam, a exemplo do Quartzito arcoseano. A presença de uma faixa de Siltito na proposta de expansão sugere que essa área esteja ligada a um ambiente de deposição de baixa energia. Um destaque para a presença de Metarritmito (Grupo Paranoá) no limite que não é continuo com o Parque, essa zona merece ênfase, pois a área já consolidada do PNCV esta sob o Grupo Araí. As áreas de expansão do parque, apesar de não terem tido como principal foco a incorporação do patrimônio geológico e geomorfológico, incorporam essa perspectiva, permitindo que o parque possa ser considerado como um Geoparque. Para que esse status seja incorporado, de fato, ao PNCV, é necessário que sejam aplicadas as medidas recomendadas pela UNESCO.

Figura 1

Localização da área de estudo

Figura 2

Geomorfologia da área de estudo

Figura 3

Características do relevo da área de estudo.

Figura 4

Litologia do PNCV e área de expansão.

Considerações Finais

A área proposta pela expansão do PNCV é importante do ponto de vista geomorfológico, uma vez que preservam em seus limites compartimentos geomorfológicos únicos na região Centro-Oeste, cujo estudo de origem e evolução poderá ser útil para entendimento dos processos geodinâmicos regionais. Por se trata de uma região de proteção ambiental, a maior parte da área do PNCV e adjacências, bem como os principais pontos de interesse geológico e geomorfológico estão preservadas. No entanto, existem áreas, principalmente aquelas propostas pela expansão do PNCV, que apresentam riscos de degradação relacionados à má gestão da exploração turística da área e até mesmo pelo uso e ocupação antrópica na região. Contudo, destaca-se que os aspectos geológicos e geomorfológicos foram ampliados, apresentando novas características daquelas já existentes no Parque. Tais dados, podem não corresponder com os limites reais da expansão, uma vez que a proposta segue para consultas públicas, podendo ainda haver alterações.

Agradecimentos

Referências

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CAMPOS, J.E.G.; DARDENNE, M.A. Conglomerado São Miguel no Vale da Lua, sul da Chapada dos Veadeiros, GO - Cenário exótico de rara beleza modelado pela erosão fluvial. In: Winge,M.; Schobbenhaus,C.; Berbert-Born,M.; Queiroz,E.T.; Campos,D.A.; Souza,C.R.G. ; Fernandes,A.C.S. (Edit.) Sítios Geológicos e Paleontológicos do Brasil. Publicado na Internet em 13/6/2005. Disponível em < http://www.unb.br/ig/sigep/sitio077/sitio077.pdf>
DARDENNE, M.A.; CAMPOS, J.E.G. Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros, Goiás. In: Schobbenhaus,C.; Campos,D.A.; Queiroz,E.T.; Winge,M.; Berbert-Born,M. (Edit.) Sítios Geológicos e Paleontológicos do Brasil. Publicado na Internet em 31/07/2000. Disponível em <http://www.unb.br/ig/sigep/sitio096/sitio096.htm>.
ICMBIO – Instituto Chico Mendes de Conservação Da Biodiversidade . Plano de Manejo Parque Nacional Chapada dos Veadeiros. Brasília, 2009.

LIMA, P. C. A. As RPPNs da Chapada dos Veadeiros: disposições, motivações e práticas sociais. Brasília, 2013. 160p.
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RANIERI, S. B. L. Elaboração de diagnóstico dos aspectos naturais (bióticos e abióticos) visando criação de unidades de conservação na região da Chapada dos Veadeiros – GO. P091827 – Projeto “Políticas para o Cerrado e Monitoramento do Bioma” - Iniciativa Cerrado Sustentável – MMA, 2011.
SCHOBBENHAUS, C. SILVA C.R.Geoparques do Brasil: propostas. Rio de Janeiro: CPRM. 2012.