Autores

Silva, J.L.A. (UNEMAT) ; Souza, C.A. (UNEMAT) ; Paula, W.C.S. (UNEMAT)

Resumo

O rio Paraguai é um dos principais agentes modeladores do ambiente pantaneiro, suas mudanças hidromorfológicas estão vinculadas ao seu regime hídrico e à sua dinâmica fluvial. O presente estudo teve o objetivo de avaliar os aspectos morfológicos entre a Baía da Palha e a Baía do Sadao no corredor fluvial rio Paraguai em Cáceres – MT. Para desenvolvimento do trabalho algumas atividades foram necessárias, trabalho de gabinete e de campo. No trabalho de gabinete foi realizado trabalhos de caráter bibliográfico, confeccionado um mapa de área de estudo e de feições morfológicas através da ferramenta ArcGis 10.2.1. e software de mapeamento digital Spring 5.2.7 (OpenSource). No trabalho de campo foram realizados registros fotográficos, anotações das feições morfológicas. Foram diagnosticadas feições positivas e negativas e negativas: As positivas 19 barras de sedimentos, 04 cordões marginais 09 diques marginais e 04 ilhas fluviais, negativas foram 11 canais secundários e 07 lagoas e 10 baías.

Palavras chaves

Dinâmica Fluvial; Sedimentação; Feições Morfológicas

Introdução

Bacia hidrográfica é uma unidade ambiental importante para os estudos geográficos, especialmente a partir da ótica da paisagem. Torres et. al. (2012) conceitua uma área drenada, como um sistema definido de uma bacia de drenagem. Os autores ainda reforçaram que a disposição espacial dos rios é controlada em grande parte pela estrutura geológica, que é definida como padrão de drenagem. Rios são correntes fluviais definidos como modeladores da paisagem, através do seu ciclo hidrológico são importantes agentes tanto na formação do modelado do relevo, como na própria subsistência do homem. Collischonn et. al. (2007), descreveu que a bacia Hidrográfica do rio Paraguai constitui de grande relevância para o pantanal mato-grossense, seu comportamento hidrológico está associado aos pulsos de inundações, garantindo ao Pantanal alternância natural nos períodos de secas e cheias. Esse comportamento provoca o surgimento de diversas feições como (baías, canais secundários, braços, lagoas, furados, ilhas). Baías são áreas deprimidas e suas formas são semicirculares e/ou irregulares, essas feições são encontradas ao longo do perfil longitudinal do rio Paraguai é um ambiente propicio a sedimentação, devido a redução do volume de agua no período de estiagem (SOUZA, 2004). Os processos de erosão, transporte, e deposição são responsáveis pela elaboração das fisionomias dos rios de forma natural, que independente da ação antrópica constroem seu próprio perfil de equilíbrio (BOTELHO, 2011). Barros et al. (1982) salienta que, o processo de deposição sedimentar pode ocorrer através dos depósitos de canal, barra em pontal e transbordamento. A variação na composição do material depositado pode ser de areias, silte, argila e cascalho, reconhecendo-se que as camadas depositadas possuem pequena espessura, não atingindo 10 metros. Inúmeros fatores influenciam na composição das estruturas aluviais dos rios que possuem padrão meandrante que são depositadas por meio de processos fluviais. Para Christofoletti (1980), além de (areia, silte e argila), também é comum existir à presença de elementos intemperizados das rochas que são transportados através da velocidade do fluxo dos canais. A baixa declividade exerce grande influencia para formação de feições na planície inundável do rio Paraguai, o nível da água eleva-se durante o período de cheia, transbordando para os canais secundários, baías, lagoas ou para as planícies marginais, provocando a remoção e a remobilização de sedimentos nesses ambientes (SOUZA et al. 2012). Destacaram-se vários trabalhos relacionados aos processos hidrossedimentológicos de rios no Brasil como: Stevaux e Latrubesse (2017) em seus estudos realizados no rio Paraná que possui uma dinâmica fluvial idêntica ao rio Paraguai. Os autores descreveram que a deposição dos sedimentos está influenciada pela capacidade que o fluxo do canal tem de transportar. Ou seja, não havendo competência, o material (sedimentos mais finos) é depositado na lateral dos canais, notoriamente em margens adjacentes as ilhas, ou no centro, formando barras laterais, de soldadura e/ou de coalescência, e a presença de uma vegetação herbácea indica o processo de estabilização das barras. Souza (2004) identificou diferentes alterações morfológicas no rio Paraguai desde a cidade de Cáceres até a Reserva Ecológica da Ilha Taiamã, Silva (2012) que evidenciou evolução nas feições morfológicas na planície de inundação e o processo de sedimentação do trecho entre o Furado do Touro até a Passagem Velha em Cáceres. Portanto, a partir desse contexto o presente estudo tem por objetivo avaliar os aspectos morfológicos no corredor fluvial do rio Paraguai no trecho entre a Baía da Palha e a Baía do Sadao, em Cáceres-MT.

Material e métodos

Área de estudo A área de estudo corresponde ao corredor fluvial do rio Paraguai entre a Baía da Palha e a baía do Sadao na zona de expansão urbana de Cáceres, Mato Grosso. Localiza-se “entre as coordenadas geográficas de 16°05’36.10 a 16º6’55.22” Latitude Sul e 57°42’43.84” a 57º44’9.07” Longitude Oeste (figura 1). Procedimentos Metodológicos O mapa de localização de área de estudo e de feições foram vetorizadas a partir da imagem de Satélite Landsat 8 OLI. Para o processo de georreferenciamento, segmentação e classificação foi utilizado o software de mapeamento digital Spring 5.2.7 (OpenSource) disponível gratuitamente no site do INPE (Instituto Nacional de pesquisas Espaciais) e ArcGis 10.2.1. Também foi realizado trabalho de campo, anotações e registros fotográficos da área de estudo.

Resultado e discussão

O trecho em estudo possui padrão meandrante, com erosão na margem côncava e deposição em margem convexa, apresentou feições positivas e negativas. Em relação às positivas são: 19 barras de sedimentos, 04 cordões marginais, 09 diques marginais e 04 ilhas fluviais. As negativas foram: 11 canais secundários e 07 lagoas e 10 baías. (figura 2, tabela 1). Foram identificadas no canal secundário, quatro (04) barras e dois (02) diques marginais nos canais da baía da Palha, sendo a barra lateral (BS4) na entrada do canal secundário (CS 08), além do registro de dois diques marginais (DM 07 e DM08), e três barras localizadas no canal secundário (CS10), uma barra lateral (BS14) e duas barras submersas (BS15, BS16), a maior barra foi (BS15) apresentando 0.009 km² a menor foi (BS14) que demonstrou uma área de 0,003Km². No canal principal, na margem convexa, houve processos de sedimentação por acresção lateral e a predominância da acumulação de sedimentos por deposição vertical, nesse sentido foi observado seis (06) barras de sedimentos em pontal, que surgiram pela perda de velocidade na margem convexa do meandro. O canal principal possui as maiores velocidades na margem côncava, depositando os sedimentos na margem convexa (a jusante, originando as barras de pontal); esse comportamento é típico de canais meandrante. As barras (BS01, BS03, BS05, BS06, BS13 e BS7) são barras de pontal, variaram de tamanhos entre (0,001 Km² a 0,023 Km²), não havendo presença de vegetação. As deposições ao longo do tempo influenciaram para o aumento das mesmas, predominantemente os materiais são depositados sucessivamente nas margens convexas, devido à perda da capacidade de transporte do canal. As maiores encontradas foram a (BS03) com uma área de 0,023 Km², e a (BS06) que demonstrou uma área de 0,021 km². Em relação aos cordões marginais registrou-se quatro cordões marginais (CM 01, CM02, CM3 e CM4) nas margens convexas do canal principal, o maior cordão marginal 01 (CM 01) com área de 0,040 Km. Nos cordões marginais (CM01, CM02, CM3 e CM04), houve foi identificado vegetações do tipo Fanerofitas, lianas (trepadeiras). Essas vegetações são do tipo rasteiras e gramíneas, sendo composta também por toceira de pepino de peixe, sendo chamadas também de melancia do mato e melancia de pacu (Cayaponia Podantha), ainda houve a presença da Cabacinha do mato (Eugenia Theodorae), pertencente à família das Mirtaças. Quanto aos diques marginais (DM 01, DM 02, DM 03, DM4, DM5, DM06) foi encontrados seis no canal principal, sendo cinco encontrados em margem convexa. Somente dique (DM09) foi encontrado na planície de inundação. Os surgimentos desses diques marginais estão associados pelos depósitos sedimentares, impulsionado pelos transbordamentos e rompimentos ao longo do perfil longitudinal, nos períodos de cheia e vazantes, ocorre o transbordamento para planície de inundação, a deposição por acresção vertical dos materiais finos influenciam na formação dos diques. O menor dique marginal (DM 08) apresentou uma área de 0,008 Km², o maior (DM 04) mensurou 0,034 Km². Os diques marginais (DM02, DM03, DM4 e DM06), apresentaram uma vegetação esparsa composta por gramíneas e arbustos. As vegetações arbustivas encontradas nesses diques marginais foram: o Sarã (Sapiu obovatum), Sarã de espinha, Sarã de leite espécie da família Euphorbiaceae, Marmelada (Alibertia Rubiaceae), sendo encontradas nas áreas sujeitas a inundações nas bordas das (ilhas 01 e 03). No trecho em estudo ficou registrada a presença de quatro (04) ilhas fluviais, a maior (Ilha 03) abrange uma área de 1,246 Km², enquanto que a (Ilha 02) apresentou menor proporção em seu tamanho 0,005 km². A origem das ilhas está associada à evolução morfológica do canal principal, através de processos como o rompimento do colo de meandro. De acordo com Castrillon et.al (2011), em seus estudos realizados em ilhas fluviais no rio Paraguai em Cáceres descreveram que, nas ilhas originadas por rompimento de colo de meandro, apresentaram composição fisionômica diversificadas no interior e nas bordas, a vegetação presente nas bordas correspondem por espécies rasteiras (gramíneas, arbustivas), e as encontradas no interior das ilhas denominaram se por uma vegetação mais densa composta por espécies arbóreas, sofrendo influencia do regime de cheias de durante (novembro a abril) seis meses. As ilhas apresentaram na (mata ciliar) uma diversificada vegetação, com a presença de árvores e arbustos com galhos e troncos retorcidos, destacando espécies como; Ingazeiro (Inga sp.),Cambará Vochysia divergens Pohl., (Vochysiaceae) Embaúba Cecropia sp., (Cecropiaceae), Tarumã Vitex cymosa Bert., (Verbenaceae) e outros As lagoas encontradas possuem características circulares e não são conectadas ao canal principal, essas lagoas dependem do lençol freático e do ciclo de cheia para seu abastecimento, sua quantidade de água acaba oscilando nos períodos de cheia e estiagem. Houve a presença de sete (07) que variaram de tamanho entre (0,007 Km² lagoa 01) a (0,149 Km² lagoa 06). Os processos atuantes para a formação de feições morfológicas na planície de inundação estão associados à variação do nível da água e da vazão do canal principal. No período de trasbordamento do canal, materiais como sedimentos e nutrientes são transportadas para as feições da planície (como lagoas, baias e canais secundários), e são depositados à medida que as águas perdem competência de transporta-los, permitindo a formação de barras de sedimentos, como as apresentadas na (Figura 3). Ainda registrou a presença de 10 baías na área de estudo, sendo oito (BA02, BA03, BA04, BA5, BA06, BA7, BA8, BA9) que possuem conexão com o canal principal, as outras três (BA01, BA10 e B11) não possuíram nenhuma conexão direta com o corredor fluvial. Portanto as formas dessas baías variaram de semicirculares a circulares, a maior em dimensão (BA10) apresentou uma área de 0,122 Km², em seu tamanho, e a menor (BA06) ocupa uma área de 0,005 Km², ambas possuem conexão com o canal principal.

Figura 1 - Localização geográfica da área de estudo



Figura 2 - Feições Morfológicas da área de estudo



Tabela 1 - Descrição das feições da área de estudo



Figura 3 - Barras de sedimentos laterais na Baía da Palha



Considerações Finais

Na analise do mapa de feições morfológicas e nos trabalhos de campo no trecho entre a Baía da Palha e a Sadao no corredor fluvial do rio Paraguai, registrou feições positivas e negativas. As positivas foram 19 barras de sedimentos, 04 cordões marginais, 09 diques marginais e 04 ilhas fluviais, a maior foi a ilha 03 com 1,246 km², e as negativas foram; 11 canais secundários e 07 lagoas e 10 baías, a maior foi a lagoa 06 que apresentou 0,149 km². Os processos formadores das feições estão associados á própria dinâmica fluvial do rio Paraguai, padrão do canal (meandrante), regime hídrico (precipitações), declividade (área plana).

Agradecimentos

Referências

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