Autores
Silva, M.L.G. (UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO) ; Lima, G.R. (UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO) ; Arruda, I.R.P. (UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO) ; Silva, D.G. (UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO)
Resumo
O maciço da Serra dos Cavalos está inserido na unidade geoambiental do Planalto da Borborema formado por maciços residuais. A área apresenta uma importante Biodiversidade local, dependente basicamente do ecossistema de Mata Atlântica. Apresenta-se como uma zona de grande valor ambiental para os munícipios adjacentes, pois, por se caracterizar como um brejo de altitude, possui características peculiares diferente do seu entorno semiárido, apresentando mananciais que abastecem estas localidades. Para a realização da pesquisa utilizou-se de recursos de geotecnologias visando compreender a arquitetura geomórfica da superfície, dessa forma, elaborou-se um mapa geomorfológico do Maciço da Serra dos Cavalos afim de reconhecer as unidades geomórficas da área e assim entender os processos que os originaram.
Palavras chaves
Geotecnologia; Mapeamento Geomorfológico; Serra dos Cavalos
Introdução
Os estudos geomorfológicos possuem grande relevância nas Geociências, visto que, permite entender as condições gerais da dinâmica da paisagem (NETA, 2016). Assim, se faz necessário o mapeamento geomorfológico para a identificação das mudanças ocorridas nas dinâmicas da paisagem. Silva (2007), propõe que o mapeamento geomorfológico julga-se importante para as observações da dinâmica do relevo. A análise das formas do relevo, na busca da compreensão dos aspectos morfológicos e da dinâmica responsável pela esculturação da paisagem, ganha relevância mediante o auxílio que oferece ao entendimento do modelado terrestre, como elemento do sistema natural e condicionante da atividade humana e seus arranjos espaciais. Dessa forma, o mapeamento das feições geomorfológicas reveste-se de suma importância para a organização e interpretação coerente do território. Entre os autores que trabalharam com mapeamentos geomorfológicos, Demek (1979), foi o que demonstrou preocupação em aprimorar a questão do problema da sistematização da pesquisa geomorfológica indicou a normatização de mapeamento baseado em três unidades taxonômicas básicas: Superfícies geneticamente homogêneas, formas de relevo e tipo de relevo (ROSS, 1992). Segundo Ross (1992), o relevo terrestre pertence a uma determinada estrutura, o que o fez estabelecer seis níveis de táxons para a representação geomorfológica, fundamentados numa abordagem tridimensional, sendo elas, os domínios representando as unidades morfoestruturais; unidades morfoesculturais; unidades morfológicas ou de padrões de forma semelhante, tipos de formas de relevo individualizadas; tipos de vertentes, formas de processos atuais (ravinas, voçorocas, cicatrizes de deslizamento). Desta forma, o objetivo da presente proposta é analisar as estruturas geomorfológicas do Maciço da Serra dos Cavalos (PE) a partir da aplicação da metodologia de mapeamento geomorfológico proposta por Demek (1972) e pelo IBGE (2009), definindo as suas características físicas, construindo um modelo histórico de evolução geomorfológica correlacionando os dados com os processos dinâmicos atuais. A área de estudo está localizada na porção centro-leste do estado de Pernambuco, abrangendo vários municípios. A Serra dos Cavalos é um corpo intrusivo delimitado por encostas íngremes sob a influência do intemperismo químico em sua face úmida e física, em sua face mais seca. Na área de estudo está localizada o Parque Natural Municipal Professor João Vasconcelos Sobrinho que está localizado dentro do município de Caruaru/PE, criado em julho de 1998. Com 359 hectares, o Parque foi criado para proteger um remanescente da mata atlântica, localizada em meio de uma região de clima mais seco (semiárido).
Material e métodos
O mapeamento geomorfológico foi elaborado seguindo diretrizes clássicas de mapeamento, onde a topografia é a base para a delimitação das unidades geomorfológicas, em conjunto com imagens de satélite e levantamentos de campo. O princípio básico de escolha das unidades baseou-se na homogeneidade e individualidade dentro da escala utilizada (IBGE, 2009). O procedimento técnico aplicado consiste na individualização de unidades dentro de uma escala pré-definida, utilizando curvas de nível sobrepostas a um modelo digital de elevação. O software utilizado para realização do trabalho foi ArcGis 10.1, aplicando os critérios de legendas e tipologias de formas estabelecidas pela comissão de mapeamento geomorfológico de detalhe propostos por Demek et al. (1972) e IBGE (2009). Esse conjunto de procedimentos, aplicados ao mapeamento geomorfológico na escala de meso- detalhe, tem sido ratificado por Silva (2005), Silva (2012), Silva (2013) e Amorim (2015). O Modelo Digital do Terreno (MDT) foi elaborado utilizando os dados de altitude do satélite ASTER GDEM, obtidos gratuitamente na página do Serviço Geológico Americano (disponível em http://gdex.cr.usgs.gov/gdex/). Esses dados, serviram de base para elaboração das curvas de nível, extração da drenagem e declividade. Souza (2014), avaliou a precisão horizontal desses dados e encontrou um erro médio abaixo de 7 metros. O processamento digital da imagem e a elaboração dos perfis topográficos foram realizados utilizando os softwares ArcGis 10.1, função ferramentas 3D. No que tange à escala espacial de trabalho, essa foi de 1:200.000. O Google Earth foi utilizado para checagem das unidades geomorfológicas, tendo em vista que a resolução espacial das imagens possibilitou a visualização na escala de detalhe, sendo o mapa final apresentado na escala de 1:200.000. O trabalho de campo serviu para conferir cada táxon mapeado e checar a consistência entre às formas e os processos morfogenéticos. O trabalho foi realizado com a coleta de pontos em todo o maciço, utilizando um aparelho GPS de navegação e uma ficha de descrição de cada ponto. Em seguida os pontos foram plotados por sobre a compartimentação das unidades e verificados quanto a suas consistências em cada compartimento. Ao mesmo tempo, foi feito um registo fotográfico de cada ponto amostrado. Após a individualização espacial, foi feita uma leitura da escala temporal que levou à atual configuração da unidade geomorfológica, considerando os fatores morfogenéticos envolvidos no processo.
Resultado e discussão
         O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE (2009) 
estabelece cinco táxons para o mapeamento geomorfológico, sendo eles; 
Domínios Morfoestruturais, Regiões Geomorfológicas, unidades Geomorfológicas 
Modeladas e formas de relevos. No entanto, cada mapeamento temático deverá 
abordar um grau de informação correspondente, que deve estar coerentemente 
representada através de uma legenda de conteúdo prático e operacional cuja 
compatibilidade se volte ao planejamento.
        No mapeamento a segui está identificando as unidades 
morfoesculturais da paisagem, que são separadas por modelados de denudação e 
modelados de acumulação.  As unidades geomorfológicas apresentadas são 
ilustradas no esboço geomorfológico da Serra dos Cavalos-PE. O mapa 
apresenta uma escala aproximadamente de 1:200.000 e foi elaborado tendo como 
referência: Datum geodésico World Geodetc System 1984-WGS84, projeção 
Universal Transversa de Mercator UTM.
          Para uma melhor visualização da hierarquia geomorfológica, 
apresenta-se o quadro 01 com os domínios morfoestruturais, domínios 
morfoclimáticos, unidades geomorfológicas e tipo de modelado predominante, 
que se fazem presentes dentro das características geomorfológicas 
encontradas dentro do mapeamento geomorfológico.
Domínio morfoestrutural
          Os domínios morfoestruturais são definidos pelo conjunto de 
fatores geomorfológicos ligados a aspectos de caráter amplo que ocupam 
extensas áreas que evidenciam, por vezes, grandes diferenciações 
geomorfológicas. Numa divisão em sub compartimentos morfoestruturais, o 
planalto da Borborema pode ser tratado a partir de feições tectônicas, da 
influência da estruturação das rochas metamórficas e dos relevos 
desenvolvidos em corpos plutônicos. Os inselbergs, feição geomórfica muitas 
vezes associada ao sistema morfoclimático semiárido, também ocorrem como 
apófises secundárias dos corpos plutônicos principais, balizando escarpas 
como testemunhos de fases repetidas de soerguimento epirogênicos (CORRÊA 
2001).
Domínio Morfoclimaticos
        Quanto aos domínios morfoclimáticos, Ab’Saber (apud Bigarella; 
Becker; Santos, 1994. P 98) estes ocorrem segunda as combinações 
fisiograficas regionais diferenciadas e objetivas. Sendo assim os domínios 
morfoclimáticos em grande parte são representadas pela distribuição da 
vegetação. 
         Segundo Ab’Saber (2003) existem seis domínios morfoclimáticos no 
Brasil. São eles Domínio Equatorial Amazônico: situado na região Norte do 
Brasil, Domínio dos Cerrados: localizado na porção central do território 
brasileiro, há um predomínio de chapadões, Domínio dos Mares de Morros: 
situa-se na zona costeira atlântica brasileira, onde predomina o relevo de 
mares de morros, Domínio das Caatingas: localiza-se no nordeste brasileiro, 
Domínio das Araucárias: encontra-se no Sul do país, com predomínio de 
planaltos e formação de araucárias, Domínio das Pradarias: também conhecido 
como domínio das coxilhas.
         Vale salientar que a área de pesquisa se encontra no domínio de 
caatinga, que tem seu destaque por ser um brejo de altitude e possuindo suas 
particularidades. Por se encontrar em uma área de transição entre Mata 
Atlântica e Caatinga, sua vegetação se torna variada, indo desde vegetações 
arbustivas e herbáceas até plantas arbóreas de grande porte.
Modelado de denudação 
Superfície de cimeira: Correspondem aos níveis mais conservados da 
dissecação vertical nos topos dos compartimentos planálticos e maciços 
residuais com uma morfologia de topo plana ou em crista, apresentando 
cobertura elúvio-coluvial e vegetação. (Melo, 2014).
Cimeiras em Cristas: Correspondem aos níveis mais alto acima de 800 metros 
de altitude com uma feição de topo em crista e desprovido de cobertura 
eluvial e vegetação.
Encosta sem cobertura colúvial: São áreas que circundam as superfícies de 
cimeira das serras. Estas são fortemente onduladas, com ausência de 
sedimentos de encosta, sujeitas a intensos processos denudacionais. Sendo 
que estes processos denudacionais estão relacionados à remoção da superfície 
de uma região condicionada a efeitos erosão progressiva que acaba mostrando 
as raízes de seu embasamento cristalino em uma topografia progressivamente 
mais baixa com carreamento de material sedimentar desta erosão para as 
bacias sedimentares.
Pedimentos: São áreas moderadamente planas circunscritas por maciços 
residuais e inselbergs, constituindo setores de evacuação de sedimentos com 
estrutura superficial dominada por neossolos litólicos e luvissolos 
crômicos, areno-argilosos sobre os quais se formam um pavimento detrítico 
por evacuação das fácies mais finas mediante a atuação da erosão laminar. 
(SILVA 2007).  Essa unidade morfoescultural, quase que inteiramente 
delimitada pelas pedimentos com cobertura detrítica a 500 e 400 metros. 
Maciço Residual: São corpos intrusivos isolados, delimitados por encostas 
íngremes sob a influência, sobretudo do intemperismo físico. Em virtude do 
gradiente de suas encostas, estas se encontram sujeitos a processos 
denudacionais com presença, por vezes, de depósito de tálus em sua base.  
Inselbergs: Também conhecido como monadnock, ocorrem por toda a área de 
estudo, elevando-se por sobre a superfície de aplainamento na região como 
bossas graníticas encimadas por caos de blocos atestando o seu grau de 
evolução morfogenética.
Modelado de acumulação
Encosta com cobertura Colúvial e em avental de colúvio: São áreas de relevo 
ondulado que se situam na transição entre encostas íngremes da serra e o 
“pedimento rochoso” que as circundam. Caracterizam-se por serem feições 
deposicionais inclinadas, associadas à coalescência de depósitos coluviais. 
Na Serra dos Cavalos, as encostas são feições que se beneficiam das chuvas 
orográficas, favorecendo assim o desenvolvimento de espessos depósitos 
superficiais. Nas áreas de estudo, as rampas de colúvio demonstram a 
variação hidrológica e de níveis de base locais suavizando a ruptura de 
declividade entre o fundo plano da rampa e as encostas (SILVA, 2013). 

Esquema de hierarquia utilizada no mapeamento geomorfológico. Fonte: Autores, 2017

Mapa Geomorfológico da Serra dos Cavalos/PE. Fonte: Autores, 2017.
Considerações Finais
Nessa pesquisa de iniciação cientifica foram fundamentais os MDE-MTRS e as técnicas de Geoprocessamento para os procedimentos de manipulação de análise espacial e ambiental geológico-geomorfológico das superfícies da Serra dos Cavalos. O delineamento físico (geologia e geomorfologia) constituem partes importantes da natureza, porque influenciam nos ordenamentos territoriais, extração de recursos e impactos desses ao meio ambiente. Para que se obtenham mais detalhes em relação s unidades e processos morfoesculturais é necessário, aliar as técnicas de geoprocessamento dessa metodologia a um mapeamento de detalhe com escala menor em campo da área.
Agradecimentos
A Professora e orientadora Danielle Gomes da Silva pelos ensinamentos. Um agradecimento em especial ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), pelo auxílio da bolsa de Iniciação Científica ofertada à Universidade Federal de Pernambuco.
Referências
AB´SABER, A. Os domínios de Natureza no Brasil – Potencialidades paisagísticas. São Paulo: Atelier editorial. 2003.
CARVALHO NETA, Maria de Lourdes; SILVA, Danielle Gomes da. Esboço Geomorfológico do Geopark Araripe/ CE. Recife, 2016.
CORRÊA, A. C. B. Dinâmica geomorfológica dos compartimentos elevados do Planalto da Borborema, Nordeste do Brasil. Rio Claro, 2001. 386p. Tese de Doutorado – IGCE, UNESP.
IBGE. Manual técnico de geomorfologia. - 2° ed. Rio de Janeiro: IBGE, 2009. 182 p.
LACERDA, W. A. & SANDRONI, S. S, 1985, “Movimentos de massas coluviais”, Mesa Redonda sobre os Aspectos Geotécnicos de Encostas, v.único, p.III-1 a III-19. Rio de Janeiro.
Melo, Jefferson Santana. Dinâmica Geomorfológica do ambiente de encosta em Belo Jardim – PE: Uma análise a abordagem a partir da perspectiva morfoestratigráfica aplicada aos depósitos coluviais / Jefferson Santana Melo. – Recife: O Autor, 2008.
Melo, Rhaissa Francisca Tavares de.  Evolução dos depósitos de encosta no Leque Malaquias e Lagoa das Pedras no entorno do maciço estrutural da Serra de Água Branca / Rhaissa Francisca Tavares de Melo. – Recife: O autor, 2014.
ROSS, J.S. O registro cartográfico dos fatos geomorfológicos e a questão da taxonomia do relevo. Revista do Departamento de Geografia da USP, n.6, 1992, p.17-30.
SILVA, Danielle Gomes da. Evolução paleoambiental do depósito de tanques em Fazenda Nova, Município de Brejo da Madre de Deus Pernambuco/ Danielle Gomes da Silva – Recife:  Autor, 2007.
