Autores
Costa, J.N.C. (UNIVERSIDADE FEDERAL DE CAMPINA GRANDE) ; Marques, A.L. (UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA) ; Arruda, (UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO)
Resumo
A compartimentação do relevo é um instrumento bastante importante no âmbito físico-natural, conjuntamente, direcionador para o uso e ocupação do território. Assim esse trabalho teve como objetivos: compartimentar e especializar o relevo do município de Areia-PB, analisando as morfoestruturas e as morfoesculturas dispostas e interagindo na paisagem. A pesquisa verificou os seguintes compartimentos do 4° táxon: Complexo de ombreiras, Morros de metamorfismo, Mesetas e Piemonte, cronologicamente originados do Pré-Cambriano ao Eoceno. Essa compartimentação pioneira e a consecutiva produção de material cartográfico do município, possibilitarão a compreensão dos arranjos do Geossistema, que configuram a taxonomia paisagística, assim como estudos posteriores.
Palavras chaves
Compartimentação; Planalto da Borborema; Morfologia 
Introdução
A superfície terrestre detém inúmeras fisionomias, a depender de vários fatores, a Geomorfologia sendo um ramo da Geografia, propõe em seu escopo não somente a descrição dessas variações morfológicas, mas a sua análise integrada nos Geossistemas, que vem a constituir a paisagem (VITTE, 2008). A Província Borborema é uma relevante estrutura da plataforma sul-americana, com formulações iniciais de ordem tectônica do ciclo Brasiliano-Panafricano (700 a 450 Ma), formando complexos terrenos, eventos sequenciais, blocos falhados, magmatismos e metamorfismos, dentre outras múltiplas alterações (MEDEIROS, 2004). As diversas características dessa Província no relevo do Nordeste do Brasil (NEB), condiciona uma geomorfologia diversa, com terrenos peneplanos, serras e chapadas com formas orientadas por deformações e falhamentos, além de processos de dissecação e deposição (MAIA et al., 2014). Assim esse trabalho teve como objetivos: compartimentar e especializar o relevo do município de Areia-PB, analisando como as morfoestruturas e as morfoesculturas estão dispostas e influenciado na paisagem.
Material e métodos
Área de estudo A área de estudo compreende o município de Areia, no brejo paraibano (Figura 1). O município é um dos brejos de altitude do interior do Nordeste, que está inserido no contexto da Província Borborema, especificamente no Planalto da Borborema, dispondo de unidades litoestratigráficas que genericamente variam de granitoides, migmatitos, xistos, quartzitos, mármores, arenitos e conglomerados, estruturalmente sob zonas de cisalhamento e lineamentos (CPRM, 2005). Os brejos de altitude estão presentes nos estados: Ceará, Paraíba, Pernambuco e Rio Grande do Norte como altos topográficos florestais (Caatinga, Cerrado e Estacionais) orográficos (serras, chapadas, mesetas, planaltos e platôs), que abrangem cotas de 500 a 1200m (MARQUES et al., 2016).O trabalho foi desenvolvido nas seguintes etapas metodológicas: 1) Busca e leitura de referências bibliográficas sob os princípios clássicos e atuais da Geomorfologia e Geologia. 2) Coletas e observações de imagens de satélite (LANDSAT 5 TM e 8 ETM+, Google Earth) e GEOSGB do Serviço Geológico do Brasil (CPRM), como também, dados geomorfométricos (declividade, orientação, divisores) viabilizados no TOPODATA do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE). 3) Para análise morfoestrutural e morfoescultural das imagens foi utilizada a interpretação Foto-Geológica, com o Método Lógico-Sistemático (ARCANJO, 2011), que utiliza de conjuntos ou zonas homólogas para estudo do relevo com repetições de texturas e formas, e no estudo das propriedades do relevo e dos elementos texturais e estruturais. 4) De posse das imagens e com base nas informações teórico-metodológicas, definiu-se a grandeza escalar do modelado da pesquisa; e neste caso, a escala de abordagem ficou compreendida na 4ª ordem de grandeza geomorfológica adaptada de IBGE (2009). No que se refere ao conceito de modelado, o mesmo abrange um padrão de formas, na qual apresentam geometrias similares, devido haver uma gênese comum e de processos morfogenéticos atuantes, resultando na recorrência dos materiais correlativos superficiais. 5) Com os resultados obtidos foram desenvolvidos mapas. Para isso, foram utilizados os softwares ARCGIS 10.5, QGIS 2.18.14 e CORELDRAW X7.
Resultado e discussão
A superfície do município apresenta compartimentos do nível basal do 
Gondwana (±900Ma), que foram alçadas por movimentos epirogenéticos do 
Cretáceo ao Cenozoico (145,5 Ma - 11,5 Ma) (CORREA et al., 2010). Além de 
compartimentos de metamorfismo regional e superfícies somitais planares 
(chãs), sob modelado de aplanamento. Os modelados seguem um padrão regional 
de dissecação, oscilando e regidos por padrões estruturais de lineamentos 
nítidos (zonas de cisalhamento e falhamentos), sentidos O-L e O-NE. 
A drenagem dos compartimentos, em geral, está definida por redes de drenagem 
do tipo dendritica de baixa densidade e espaçadas, com diferentes ordens de 
grandeza e de aprofundamento, separadas, geralmente, por vales de fundo 
plano ‘U’, mas isoladamente vales estreitos em ‘V’ colmatados, em razão das 
serras com altas declividades e coluvionamento.  
Assim na (Figura 2: A, B e C) e (Tabela 1) têm-se a proposta taxonômica 
geomorfológica para o município, adaptada de IBGE (2009). 
Nesse contexto têm-se quatro compartimentos:
Piemonte oriental (Figura 3: A) - O Piemonte oriental da Borborema 
configura-se como o sopé do Planalto da Borborema. É uma superfície que se 
formou durante o soerguimento desse planalto e passou por remolização 
subjacente à borda oriental, onde o relevo se delineia através de declives 
forte ondulados a escarpados e de serras 400-650m florestadas (floresta 
estacional), além de rampas de colúvio suavemente inclinadas, lombadas e 
terraços fluviais com sedimentos inconsolidados e Luvissolos. 
Este compartimento domina forte entalhamento, 3-4, segundo a classificação 
do IBGE (2009), e isso se dá pela maior proximidade a leste do território, 
recebendo maior influência das massas de ar advindas do oceano atlântico, 
regendo assim, maior recuo das encostas/escarpas e maior alteração química 
de solo/rochas (AB’SÁBER. 2002). 
Esta região está sob controle tectônico de planos alçados e inclinados para 
SE e sua dissecação está controlada por linhas de fraturas. Estas linhas de 
são registradas nos interflúvios, geralmente apresentando cumeadas e cristas 
simétricas em concordância com as direções dos falhamentos (CORRÊA et al., 
2010).
Morros de metamorfismo (Figura 3: B) – Configura-se como uma superfície de 
elevação mediana com amplitude de 40m – 80m e declividade montanhosa (45-
75%), onde colinas (coluviamento) alternam-se com os morros que passaram por 
intenso metamorfismo, e que possuem topos convexos ou planos.
Esse compartimento é recoberto por mantos de Argissolos, propiciados pelo 
acúmulo de argila em declive, gerada por índices pluviométricos que 
ultrapassam 1200 mm/ano. Essa morfologia ainda apresenta suaves ondulações 
em rebaixamento gradativo, formando ombreiras, e no fundo, vales em forma de 
“U”, cobertos por solos minerais hidromórficos, como Gleissolos. 
Tradicionalmente a Geomorfologia Brasileira de Ab’Saber emprega o termo 
‘mares de morros’, como um conjunto sequenciado de modelados de morros 
orientados formulados por processos climáticos úmidos que esculturaram de 
maneira bem peculiar, com geometria ‘mamelonar’ (AB’SÁBER, 1964).
Mesetas homoclinais (Figura 3: C) – Neste compartimento há presença de 
mesetas ou chãs oriundas de remanescentes da Formação Serra dos Martins 
(FSM). Nesses homoclinais, a morfologia caracteriza-se por um plano 
horizontal de declives inferiores a 5%, onde ocorre uma cobertura sedimentar 
de Latossolos e cinturões estruturais lateríticos (plintita e 
petroplintita), que preserva a superfície somital. 
A FSM é constituída por capeamentos sedimentares em cotas superiores a 400 
m, sob a forma de platôs em planaltos residuais da Depressão Sertaneja, bem 
como na porção oriental do Planalto da Borborema, principalmente entre os 
Estados do Rio Grande do Norte e Paraíba, que caracteriza movimentos de 
inversão do relevo experimentados por aquela porção do escudo brasileiro 
durante o Cenozóico (MARQUES et al., 2016).  
Segundo Moraes (1999), os platôs são capeados por rochas areno-argilosas, 
cauliníticas, intercaladas a horizontes conglomeráticos, geralmente exibindo 
crostas lateríticas no topo das coberturas e um nível de “caolinito” na 
base.  
Complexo de ombreiras (Figura 3: D) – Essa é a superfície mais antiga do 
município e se apresenta um conjunto de morros, morrotes e ombreiras suaves 
com ampla distribuição de Neossolos, que possuem topos angulares e 
amplitudes que vão de 20-40m e declividades de 15% a 35%. 
Em Correa et al., (2010) tem-se a classificação dessa superfície como 
Depressão Intraplanáltica Paraibana, onde a falta de uma perturbação 
tectônica mais intensa permitiu o desenvolvimento de feições planas, que sob 
o clima semiárido não permite o desenvolvimento de regolito, expondo os 
gnaisses e migmatitos diretamente à superfície. Já Crandall (1910) já 
chamara esta superfície de peneplano granítico.

Mapa de localização do município de Areia-PB.

Geomorfologia do município de Areia-PB.

Taxonomia da compartimentação geomorfológica do município de Areia-PB

Fotografias dos compartimentos geomorfológicos do município de Areia-PB.
Considerações Finais
Essa compartimentação pioneira e a consecutiva produção de material cartográfico do município, possibilitaram a compreensão dos arranjos do Geossistema, que configuram a taxonomia paisagística. Essa anatomia da paisagem do município enaltece como evoluiu os compartimentos. Cronologicamente ao Complexo de ombreiras (Paleoprotezóico), ou seja, superfícies herdadas da Gondwana, pode inferir um longo e intenso processo de intemperismo que resultou na morfologia rebaixada formando um peneplano cobertos por Neossolos. Os Morros de metamorfismo é o principal compartimento do município; configura-se como a superfície alçada pelo domo da Borborema por movimentos epirogeneticos ao longo do Cenozoico, que sofreu intenso processo de metamorfismo e mamelonização. A Formação Serra dos Martins nessa conjuntura ambiental de pacote sedimentar laterítico, originou uma paisagem de morfologia sedimentar (mesetas alçadas ou chãs), que capeia, de forma discordante, alguns topos dos Morros de metamorfismo, configurando o único modelado de aplanamento. A posição geográfica do Piemonte em conjunto com as características climáticas, são responsáveis pela fisiografia dos mares de morros de Ab’Saber na Paraíba, que estão estruturados ao longo de falhas que mantem os vales e superfícies de alto declives da área.
Agradecimentos
Referências
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MARQUES, A. L.; OLIVEIRA, J. D. ; ARAUJO, D. C. ; NERI, U. D. B. . Formação Serra dos Martins nos Brejos do Nordeste: um comparativo em Areia (PB) e Portalegre (RN). In: Congresso Internacional da Diversidade do Semiárido, 2017, Campina Grande-PB, 2016.
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VITTE, Antônio C. Da ciência da morfologia à geomorfologia geográfica: uma contribuição à história do pensamento geográfico. Mercator – Revista de Geografia da UFC, ano 07, n. 13, 2008.
