Autores
- WÉRIKA SOUZA MATOSUNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBAEmail: werika.matos96@gmail.com
 - JEFERSON MAURICIO RODRIGUESUNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBAEmail: jefersonmrgeo@hotmail.com
 - JONAS OTAVIANO PRAÇA DE SOUZAUNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBAEmail: jonas.souza@academico.ufpb.br
 - LUIZ HENRRIQUE DE BARROS LYRAUNIVERSIDADE DE PERNAMBUCOEmail: luizhenrique.lyra@upe.br
 
Resumo
Grande parte dos rios do semiárido são não perenes, juntamente com a associação 
da irregularidade das chuvas e as altas taxas de evapotranspiração, contribuindo 
para o aumento do risco de déficit hídrico na região. Neste cenário, o governo 
busca desenvolver modelos de gestão hídrica para lidar com a escassez hídrica 
que atinge a região, entre essas medidas, surgiu à transferência da água do rio 
São Francisco, o PISF. Contudo, uma obra de transposição gera impactos 
ambientais, entre eles, o impacto direto e indireto nos rios que foram cortados 
pela obra. Este trabalho teve como objetivo apontar os canais cortados pela obra 
do PISF no Eixo Leste de Pernambuco, executando a classificação dos estilos 
fluviais desses canais e os tipos de estruturas construídas.  A partir da 
análise dos canais impactados, foi possível apontar que grande parte dos trechos 
são confinados, bem como, existem dez tipos de estruturas diferentes nos canais 
cortados pelo PISF.
Palavras chaves
PISF; semiárido; estilos fluviais; impactos ambientais; rios não perenes
Introdução
O semiárido brasileiro possui características específicas que contribuem para o 
risco de escassez hídrica, como a irregularidade das chuvas e altas taxas de 
evapotranspiração e o aumento de temperatura, essas características associadas 
às mudanças de clima já seriam suficientes para causar maior evaporação dos 
lagos, açudes e reservatórios e maior demanda evaporativa das plantas (ATAIDE, 
2021). Além disso, grande parte dos rios localizados na região são intermitentes 
ou efêmeros, rios que geralmente escoam apenas durante pouco tempo após o 
período chuvoso (REBOUÇAS, 1999). 
A partir da perspectiva da geografia, a compreensão do estudo e análises dos 
trechos fluviais se dá pela concepção de um sistema integrado, chamado de 
sistema fluvial. De acordo com Souza e Almeida (2015), o conceito de sistema 
fluvial é entendido como a área de origem dos sedimentos, a rede de transporte e 
os locais de deposição. 
Dentro do contexto de sistemas fluviais, nas regiões semiáridas, onde há déficit 
hídrico, os rios são predominantemente não perenes. Os rios não perenes são 
aqueles que fluem apenas durante a estação chuvosa, com os fluxos perdurando de 
poucas semanas até meses (SOUZA, 2014). 
Diante disso, o governo busca desenvolver modelos de gestão hídrica com o 
intuito de lidar com a escassez hídrica que atinge a região, entre essas 
medidas, surgiu à ideia da transferência da água do rio São Francisco. O Projeto 
de Integração do Rio São Francisco (PISF), é um projeto de infraestrutura 
hídrica que capta água no Rio São Francisco    aduzindo-a para bacias 
hidrográficas do nordeste setentrional nos estados do Ceará, Paraíba, Pernambuco 
e Rio Grande do Norte. Seu objetivo principal é garantir segurança hídrica, o 
empreendimento está organizado em dois eixos principais de transferência de 
água: Eixo Norte e Eixo Leste e ramais associados (BRASIL, 2022). 
Uma obra de tamanha proporção como a do PISF gera impactos ambientais, entre 
eles, o aumento dos processos erosivos na região semiárida nordestina. Pois para 
implantação da obra, são feitas escavações para abertura de canais, de túneis e 
estradas de acesso; gerando desmatamento na região (LIMA, 2013).  
Outra mudança gerada pela transposição é a modificação do regime fluvial das 
drenagens receptoras. Os rios que serão utilizados como canais naturais e que 
levarão as águas captadas no rio São Francisco até os açudes de maior porte 
(Castanhão, Armando Ribeiro Gonçalves, Santa Cruz e Epitácio Pessoa), 
intermitentes em sua maioria, o período de tempo em que ficam secos será muito 
pequeno. Nos rios abaixo desses açudes de maior porte, haverá um aumento das 
vazões médias e uma diminuição no pico das cheias frequentes (RIMA, 2004). 
A obra da transposição, também interfere na recarga fluvial dos aquíferos. No 
semiárido, as águas subterrâneas eventualmente utilizadas são somente repostas 
nos períodos de chuva. Com a operação do sistema, essa reposição se dará de modo 
contínuo em diferentes locais (RIMA, 2004). 
Tendo em vista que a obra também gera impactos na dinâmica hidrogeomorfológica 
dos rios intermitentes que foram impactados diretamente e indiretamente pelo 
projeto, o presente trabalho irá apontar os rios impactados pela transposição do 
Eixo Leste da obra do PISF, apontando os canais que foram cortados pela obra, 
apresentando a classificação dos estilos fluviais dos mesmos e expondo os tipos 
de estruturas construídas nesses canais impactados.  
Material e métodos
Caracterização da Área 
O Eixo Leste, corresponde ao Trecho V do projeto, atende os estados de 
Pernambuco e Paraíba, com sua captação no reservatório de Itaparica, em 
Petrolândia-PE, indo até o riacho Mulungu, em Monteiro (PB), com extensão total 
de cerca de 220 km, e capacidade de adução de 28 m³/s até o reservatório Copiti; 
daí em diante, até o final, na Paraíba, sua capacidade de adução é reduzida para 
18 m³/s (BRASIL, 2015).  
No trecho de captação até o reservatório Copiti há duas tomadas d’água de 
derivação: a primeira situada no reservatório Muquém, com capacidade de derivar 
até 10 m³/s, para o reservatório Barra do Juá, no riacho do Navio, bacia do 
Pajeú; a segunda, com capacidade de derivar até 18 m³/s, a partir do 
reservatório Copiti, para o reservatório Poço da Cruz, no rio Moxotó (BRASIL, 
2015). 
No trecho após o reservatório Copiti, há uma única derivação, a partir do 
reservatório Barro Branco, para o denominado Ramal do Agreste, com capacidade de 
adução de 8 m³/s, com a finalidade para abastecer o agreste pernambucano. O Eixo 
Leste tem um total de seis estações elevatórias para vencer um desnível de cerca 
de 300 m (BRASIL, 2015). 
Procedimentos metodológicos 
Para a realização do trabalho foi necessário realizar primeiramente o mapeamento 
de todo o trecho do eixo Leste do PISF, que foi executado a partir da ferramenta 
Google Earth. A partir desse sensoriamento remoto, foram marcados todos os 
pontos a serem visitados.  
Logo após, realizou-se o campo exploratório, com o intuito de conhecer melhor a 
área estudada para assim ser feito a identificação dos canais afetados pela obra 
da transposição e as estruturas construídas. Os registros dos canais foram 
realizados através de fotos, marcações com o GPS e anotações descritivas de cada 
ponto visitado, apontando riachos cortados pela obra da transposição, drenagens 
com barramentos, processos erosivos, e outras mudanças hidrogeomorfológicas. 
Logo após, foi executada a extração da drenagem através das ferramentas Google 
Earth e Arcgis, com intuito de identificar de modo mais preciso os canais 
cortados pelo PISF. Em seguida, foi elaborada a classificação dos estilos 
fluviais dos canais, em confinados, não confinados e semiconfinados através do 
Arcgis. Logo após, foi realizada a identificação das estruturas construídas, com 
o apoio das imagens registradas em campo, as imagens de satélite, e as anotações 
da ficha de campo. Posteriormente, foram feitas a organização dos dados contendo 
os resultados e assim foi executada a construção dos mapas. 
Resultado e discussão
A partir da análise realizada no trecho, foi possível observar várias drenagens 
impactadas pela obra no Eixo Leste. Os canais foram classificados de acordo com 
o seu confinamento, em confinados, não confinados e semiconfinados. A maior 
parte dos canais cortados pelo PISF foram classificados como confinados, pois 
não apresentaram planícies de inundação em seu torno. Os trechos classificados 
como não confinados e semiconfinados apresentaram apenas pequenas áreas de 
planície de inundação (Figura 1). 
Nos canais do trecho do eixo Leste, a predominância dos canais confinados, ou 
seja, canais que não possuem planícies de inundação, se dá devido a serem canais 
de cabeceira de baixa ordem, visto que foi critério de prioridade do projeto de 
construção. 
A partir da observação e análise das imagens de satélite, registros fotográficos 
e da ficha de campo, foi possível identificar os tipos de estruturas construídas 
nos canais cortados pela obra. Foram identificados dez tipos de estruturas 
diferentes, que são: aquedutos (Figura 2), barragens de comporta (Figura 3), 
barramentos, comporta de saída de barramento, estações de bombeamento, estações 
elevatórias, passagens de água concretadas, reservatórios, saída de água 
concretada e túneis.  
Dentre essas construções, algumas possuem graus de impactos diferentes nos 
canais, como exemplo, os aquedutos, túneis e passagens de água concretadas, que 
não chegam a barrar os canais. Entretanto, construções como as barragens de 
comporta, barramentos e comporta de saída de barramento, possuem impactos mais 
diretos sobre os canais, pois além de barrar esses canais, também irão 
influenciar diretamente na hidrologia dos rios barrados, já que ocorre 
manutenção de fluxo e gera permanência de fluxo artificialmente. Com isso, as 
distâncias percorridas pelo sedimento também aumentam devido a maior permanência 
de vazão. 

Figura 1. Porção superior: tipos de estruturas cortando os canais. Porção inferior: tipo de confinamento dos canais. Fonte: autores (2023).

Aqueduto atravessando canal. Fonte: autores (2022).

Barragem de comporta. Fonte: autores (2022).
Considerações Finais
Posto isso, o presente trabalho é resultado dos primeiros apontamentos da pesquisa 
de dissertação, e teve como objetivo apontar os canais cortados pela obra do PISF 
no Eixo Leste de Pernambuco, executando a classificação dos estilos fluviais 
desses canais e os tipos de estruturas construídas.  
 A partir da análise dos canais impactados, foi possível apontar que grande parte 
dos trechos são confinados, os canais classificados como não confinados e 
semiconfinados possuem apenas pequenas zonas de planícies de inundação, 
descontinuas e irregulares. Foi possível identificar também que existem dez tipos 
de estruturas diferentes nos canais que foram cortados pelo PISF, onde alguns 
tipos de construções, como os barramentos, possuem mais impactos sobre os canais, 
pois irá influenciar diretamente na hidrologia dos rios que foram barrados. 
Agradecimentos
Referências
ATAIDE, L. C. P. Impactos da variabilidade hidroclimática no semiárido brasileiro. Campina Grande, 2022. 
BRASIL, Ministério da Integração Nacional. Relatório Final Dos Projetos Executivos Do Lote C. Recife, 2015. 
BRASIL, Ministério do Desenvolvimento Regional. Transposição São Francisco. Brasil, 2022. 
REBOUÇAS, A. da C. O Potencial de Água do Semi-Árido Brasileiro: Perspectivas do Uso Eficiente. São Paulo, 1999. 
SOUZA, J. O. P.; ALMEIDA, J. D. M. Processos fluviais em terras secas: uma revisão. Revista OKARA: Geografia em debate v.9, n.1, p. 108-122, 2015. ISSN: 1982-3878 João Pessoa, PB, DGEOC/CCEN/UFPB. 2015. 
SOUZA, J. O. P. Modelos de evolução da dinâmica fluvial em ambiente semiárido – bacia do riacho do saco, serra talhada, Pernambuco. Tese (Doutorado). Universidade Federal de Pernambuco, Campus Recife, Curso de Pós-Graduação em Geografia. Recife. 2014. 
LIMA, T. V. P. C. Os impactos da Transposição do rio São Francisco na sua região de influência. Brasília, 2013 
BRASIL, Ministério da Integração Nacional. Projeto de Integração do Rio São Francisco com Bacias Hidrográficas do Nordeste Setentrional. Relatório de Impacto Ambiental (RIMA). Brasil, 2004. 
 








 









 