Autores
- LARISSA DE ARAÚJO OLIVEIRAUNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO DE JANEIROEmail: oliveiralarissauerj@gmail.com
 - NÍCOLAS PAES CAVALCANTI MIZUMOTO DA SILVAUNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO DE JANEIROEmail: nicolaspaes.inea@gmail.com
 
Resumo
Este trabalho busca elaborar uma análise, através do geoprocessamento, da 
ocorrência de movimentos de massa no Maciço da Tijuca, localizado no Rio de 
Janeiro (RJ), e a ocupação no entorno do mesmo. Sabe-se que, no século XX, o 
município carioca passou por transformações em sua forma urbana, que forçaram 
muitos habitantes a se deslocarem para encostas íngremes. Assim, a ocupação 
desse Maciço ocorreu de modo desigual e, atualmente, se observa maior 
concentração nas vertentes voltadas para as zonas norte, oeste e central da 
cidade. Apesar disso, por conta da alta concentração populacional, optamos por 
focar na análise de ocorrência de movimentos de massa de média e alta 
intensidade na área de uma favela situada na zona sul, a Rocinha. Tais eventos 
são  favorecidos nesse local por fatores como altitude e ação antrópica. Por 
fim, foi possível constatar que a Rocinha encontra-se em áreas de média e alta 
suscetibilidade de movimentos de massa, o que representa um risco para os 
moradores.
Palavras chaves
Maciço da Tijuca; Movimentos de Massa; Favelas; Rocinha; Ação antrópica
Introdução
Com as modificações feitas no início do século XX, a cidade do Rio de Janeiro 
observou grandes mudanças em sua forma urbana. Os morros e as encostas, como as 
do Maciço da Tijuca, passaram a integrar, de forma efetiva, o tecido urbano com 
a expansão da população, que anteriormente habitava a Zona Central do município. 
A área correspondente ao Maciço da Tijuca é marcada por encostas de alta 
declividade, sobretudo na vertente sul, e solos muito lixiviados. Essas 
características, além da ação antrópica, que, por vezes, derrubam a cobertura 
vegetal, tornam o local muito suscetível a movimentos de massa de média e alta 
intensidade. Bigarella (2003) descreve movimento de massa como o “deslocamento 
de grande volume de material (solo ou rocha) vertente abaixo sob influência da 
gravidade, sendo desencadeado pela interferência direta de outros meios ou 
agentes independentes, como água, gelo ou ar”. Dessa forma, neste estudo, apesar 
de ser possível analisar os deslizamentos de massa através de diversas 
variáveis, escolhemos realizar o estudo considerando dois fatores: altitude e 
ocupações antrópicas. Para isso, utilizamos o geoprocessamento para produzir 
mapas capazes de nos auxiliar na identificação de áreas mais ou menos passíveis 
de sofrer movimentos de massa. Além disso, demos destaque a favela da Rocinha, 
localizada na vertente do sul do Maciço, entendendo que os ditos riscos 
ambientais não atingem igualmente toda a população, já que os fatores de 
vulnerabilidade socioeconômica atuam como fator agravador do potencial perigo. 
Material e métodos
A elaboração dos mapas presentes nesse relatório foi executada por meio do 
software Arqgis, um sistema de informação geográfica (SIG) aplicado à criação, 
gerenciamento e análise de dados espaciais. No presente estudo, foram utilizados 
os dados das seguintes plataformas de obtenção de dados: Data.rio; Instituto 
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE); Instituto Pereira Passos (IPP); 
Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ); Infraestrutura Nacional de Dados 
Espaciais (INDE); Instituto Estadual do Ambiente (INEA/RJ). O primeiro passo foi 
decidir a área a ser estudada, sendo escolhida o Maciço da Tijuca, e o tema, a 
relação entre movimentos de massa e ocupação antrópica (favelas) em seu entorno.
Obtendo os dados, foram dispostas as seguintes camadas no ARQGIS: 
limite_bairros_gcs; limite_municipios_gcs; gpl_movimento_massa_25_rj; 
favelas_rj; shapefile_macico_tijuca*. Para não ocorrer uma discordância quanto 
às coordenadas do Mapa 2, foi feita a verificação se todas estavam no sistema de 
projeção de coordenadas correto, o “SIRGAS 2000 / UTM ZONE 23S”, sendo o SIRGAS 
o referencial geodésico adotado no Brasil desde 2005, e por ser uma 
representação bidimensional, as coordenadas projetadas são utilizadas, para 
menor risco de distorção de imagem, visto que consideramos as coordenadas 
latitudinais e longitudinais como os eixos x,y, na zona 23S da projeção de 
mercator (UTM), que compreende o município do Rio de Janeiro. encontrada uma 
camada que não estava georreferenciada segundo os padrões escolhidos, um novo 
georreferenciamento foi feito, a partir da ferramenta “project”.  Para o mapa 1, 
foram deixadas as coordenadas geográficas pelo SIRGAS 2000.
Logo após a reprojeção da camada das favelas, para facilitar a análise e o 
geoprocessamento, foi delimitada a área escolhida, e utilizando a ferramenta 
“clip” para recortar e transportar conjuntamente todos os dados da camada 
original, foi utilizada a camada do shapefile do Maciço da Tijuca como entrada 
para, a partir dela, definir os novos limites de favelas e movimentos de massa. 
Selecionando na tabela de atributos da camada de movimentos de massa já clipada, 
foi seguida a divisão de altas e médias áreas de movimento para assim dividi-las 
e escolher a melhor simbologia para definição. A simbologia das demais camadas 
também foi modificada com a finalidade de destacá-las ou diferenciá-las.
Por último, no âmbito do layout, foram colocadas as fontes já citadas acima, as 
legendas, a escala e a seta norte, por exemplo. Para assim facilitar a leitura 
cartográfica do mapa elaborado, que denota as áreas de movimento de massa e as 
favelas que estão no maciço, dando ênfase às favelas da Rocinha e do Vidigal. 
Para o mapa 1, os processos foram feitos com a finalidade de evidenciar a área 
de estudo, enquanto no mapa 2, o ideal era fazer um mapeamento dos movimentos de 
massa e das favelas no Maciço, evidenciando a Rocinha.
*Cota altimétrica de 40m 
Resultado e discussão
Os movimentos de massa são corriqueiros em muitas áreas da cidade do Rio de 
Janeiro. Com o relevo montanhoso com encostas e morros em toda a extensão do 
município, os escorregamentos de grandes materiais são frequentes e constituem 
riscos à vida de quem vive em áreas suscetíveis a esses eventos. A causa desses 
movimentos está relacionada a diversos fatores de ordem natural e também 
antrópica. O Maciço da Tijuca, que abriga o Parque Nacional da Tijuca junto de 
alguns dos principais atrativos turísticos do Rio de Janeiro, é, em geral, uma 
área bastante suscetível a escorregamentos. Como fator comum a ocorrência desse 
fenômeno, a alta declividade da área do terreno tem um peso significativo. Além 
disso, a cobertura vegetal exerce um papel importante na estabilidade das 
encostas e no escoamento das águas. “A retirada das árvores das encostas, 
propriamente ditas, para abrir espaços para as construções faz com que a 
instabilidade também seja aumentada.” (GUERRA, 2011). Embora esses fatores 
naturais contribuam para a estabilidade ou instabilidade das encostas, com o 
avanço da pressão urbana sobre essas áreas, não há como descartar o ser humano 
como um agente influenciador da dinâmica geomorfológica. Segundo Oliveira Jorge 
(2011, p. 130), “As relações que se estabelecem com a ocupação antrópica e a 
multiplicidade do quadro natural criam uma grande variedade de processos 
morfológicos”. Dessa forma, começamos a relacionar, também, os movimentos de 
massa ocorridos no Maciço da Tijuca à ocupação humana intensificada no século 
XX. 
A ocupação antrópica no Maciço da Tijuca é histórica e passou por diferentes 
fases ao longo do tempo. Os primeiros indícios de urbanização no maciço datam da 
última década do século XIX, entretanto, é a partir das transformações urbanas 
promovidas pelo prefeito Francisco Pereira Passos, que as camadas sociais menos 
favorecidas são obrigadas a deixarem suas moradias no Centro da cidade e 
buscarem construir habitações em morros, sopés de encostas e em encostas 
propriamente ditas. Assim, iniciou-se uma intensa ocupação do Maciço da Tijuca, 
que ocorreu de forma irregular e desigual. As primeiras localidades a serem 
povoadas, na primeira década do século, foram as mais próximas as zonas central 
e sul. Posteriormente, entre as décadas de 1930 e 1950, a zona sul da cidade 
passou por intenso desenvolvimento gerado pelo interesse imobiliário na região. 
Dessa maneira, parte da população envolvida nas construções de edifícios passou 
a se estabelecer nas encostas íngremes da vertente sul do Maciço. Foi nessa 
época também que a Zona Norte recebeu fortes investimentos referentes a 
instalação de infraestruturas industriais e esse fato também atraiu moradores 
para a vertente do maciço voltada a essa zona.
As favelas continuaram a se expandir nas décadas seguintes em áreas já povoadas 
do Maciço. Todavia, a partir do Governo de Carlos Lacerda, as favelas tornaram-
se alvos de remoção. Esse fato prosseguiu durante governos da Ditadura Militar, 
que fomentaram ainda mais a eliminação de favelas, sobretudo na vertente sul, 
para utilizarem os terrenos para a especulação imobiliária. Com isso, começamos 
a entender o porquê da baixa concentração de aglomerados subnormais na parte sul 
do Maciço da Tijuca, em comparação com as demais áreas, que é mais ocupada por 
condomínios de alto padrão e áreas verdes. O Parque da Catacumba, localizado no 
bairro da Lagoa, é um exemplo de área verde que abrigava a antiga favela de 
mesmo nome, que foi removida em 1970. Vale ressaltar que nesse mesmo período 
temporal, há o aparecimento das primeiras favelas na vertente da zona oeste 
carioca. 
Nas nossas análises, a partir dos mapas, foi visto que as favelas localizadas 
nas bordas do Maciço da Tijuca se encontram, totalmente ou parcialmente, em 
áreas de suscetibilidade de movimentos de massa, sejam eles de médio ou alto 
nível. Além disso, confirma-se o que foi observado a partir de uma pesquisa 
historiográfica, a maior quantidade de favelas estão nas zona Norte e Central da 
cidade, visto que houve uma dissolução destas na zona Sul. É importante saber 
que, na  parte central do Maciço não são encontradas favelas por ali estar 
compreendido o Parque Nacional da Tijuca, uma unidade de conservação integral, 
portanto é proibida a ocupação antrópica nesse perímetro. 
	Para facilitar a análise, escolhemos a favela da Rocinha por considerá-
la de notória importância quanto à demografia do local, estando entre as 10 
maiores favelas do estado do Rio de Janeiro (IPP, 2000), partindo do princípio 
que essa ocupação maior contribui para o aumento da vulnerabilidade de 
deslizamentos, a partir da retirada de cobertura vegetal, que facilita o 
escorregamento de detritos, causando tragédias socioambientais.
A favela da Rocinha, a maior favela da América Latina, é também a favela mais 
populosa do estado do Rio de Janeiro, com cerca de 25.742 domicílios, segundo a 
agência de Regionalização e Classificação Territorial do IBGE, de 2020. Apesar 
de estar situada próxima do bairro de São Conrado, uma das áreas mais nobres do 
Brasil, há uma profunda desigualdade social entre esses dois territórios, vide 
IDH do Censo do ano de 2000, no qual Rocinha ficava na posição 120 (0,732) e São 
Conrado, com o IDH de 0,873 na posição 38. Por questões de tamanho e densidade 
demográfica, a favela da Rocinha se tornou uma favela-bairro. 
	Segundo a pesquisa da Casa Fluminense, feito na Rocinha em 2020, 
habitantes da região têm uma expectativa de vida de menos 23 anos em relação a 
outras localidades, por trás, sabe-se que as causas são, além da violência, as 
más qualidades de saneamento e as moradias irregulares e precárias, que 
favorecem os deslizamentos de terra que corriqueiramente são vistos nas mídias 
jornalísticas. “A vulnerabilidade a desastres ambientais aumenta em função de 
mais vulnerabilidade social e cresce em um contexto de mais desigualdade 
social.” (CEPAL, 2008). Esse resultado, então, mostra que a falta de 
planejamento urbano de moradias nesta área, aliada às características 
geomorfológicas de solo e relevo, numa área de suscetibilidade, são os 
principais agentes propagadores de movimentos de massa por escorregamento.

Mapa de localização do Maciço da Tijuca na cidade do Rio de Janeiro e das favelas localizadas no Maciço.

Mapa de suscetibilidade à movimentos de massa no Maciço da Tijuca.

Tabela das 10 favelas mais populosas do município do Rio de Janeiro, com a contagem da população segundo dados do Instituto Pereira Passos, de 2000.
Considerações Finais
Os produtos cartográficos apresentados neste mapa realizado para o artigo, que 
tem como tema os movimentos de massa e a localização das favelas no Maciço da 
Tijuca, foi crucial para compreender que a dinâmica geomorfológica natural e a 
ação antrópica são fatores que, entrelaçados, aceleram processos naturais como 
os movimentos de massa. Os dados relativos à população das favelas foi uma 
adversidade enfrentada ao longo da pesquisa, pois a base de dados do IPP estava 
inacessível, à época de escrita do presente trabalho, dessa forma, a solução foi 
utilizar dados dos anos 2000. No mais, apesar dessa ocorrência, foi possível 
contornar tais situações e realizar as análises pretendidas. Para fins de 
mapeamento de demais áreas que sofrem desse risco, é possível tomar como base 
esse estudo e a análise geomorfológica e socioeconômica feita acima, pois esse 
caso não é restrito à Favela da Rocinha. 
É imprescindível que a expansão urbana, especialmente aquela que avança sobre os 
morros e encostas, seja acompanhada de infraestrutura que garanta, ao menos, o 
básico de segurança para a população que procura esses locais para morar. Sabe-
se que, apesar de existirem condomínios de alto padrão localizados nas encostas 
do Maciço da Tijuca, a maior parte da ocupação, em vertentes diferentes da sul, 
são domicílios construídos e habitados pela população menos favorecida 
economicamente. Dessa forma, seria interessante colocar em prática medidas de 
conscientização ligadas à construção civil nessas áreas, para reduzir as 
construções sobre taludes. Além disso, a cooperação entre especialistas em 
geomorfologia urbana, planejamento urbano e a Defesa Civil, por exemplo, pode 
gerar bons frutos na busca por soluções que reduzam os impactos dos movimentos 
de massa sobre o cotidiano das populações que vivem em locais suscetíveis a 
esses acontecimentos.
Agradecimentos
Referências
BIGARELLA, J.J, 2003. in Avaliação da Suscetibilidade a Processos Erosivos e Movimentos de Massa: Decisão Multicriterial Suportada em Sistemas de Informações Geográficas. Revista do Instituto de Geociências - USP, São Paulo, v.6, n.1, p. 42, julho, 2006.
FERNANDES, M.C. et al. O Processo de Ocupação por Favelas e sua Relação com os eventos de Deslizamentos no Maciço da Tijuca/RJ. Anuário do Instituto de Geociências - UFRJ, Rio de Janeiro, v.22, n.1, p.45-59, 1999. 
GUERRA, A.J.T. Geomorfologia Urbana. Rio de Janeiro: Bertrand, 2011.
JORGE, M.C.O. Geomorfologia Urbana: Conceitos, Metodologias e Teorias in GUERRA, A.J.T. Geomorfologia Urbana. Rio de Janeiro: Bertrand, 2011 p.130.
Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) Municipal, por ordem de IDH, segundo os bairros ou grupos de bairros, no Município do Rio de Janeiro em 1991/2000. Data.Rio, 2018. Disponível em: <https://www.data.rio/documents/58186e41a2ad410f9099af99e46366fd/about>. Acesso em: 15 de set. de 2022.
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