Autores
- MARCOS NOBREUNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁEmail: marcosanobre@gmail.com
 - ANDRÉ NEVESUNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁEmail: andregustav58@gmail.com
 
Resumo
O presente trabalho irá discutir o conceito de geodiversidade e patrimônio 
geomorfológico além de identificar e discorrer sobre sítios arqueológicos. Em 
relação às metodologias utilizadas, foram extraídas informações, teorias e alguns 
resultados da análise secundária de dados e utilização de SIG´s e outras 
ferramentas de geoprocessamento. Portanto, é possível relacionar à ocupação humana 
durante o período do Quaternário e suas heranças deixadas com a geodiversidade e 
os geossítios encontrados no município de Tucuruí.
Palavras chaves
Patrimônio Geomorfológico; Sítios Arqueológicos; Quaternário; Geodiversidade; Tucuru
Introdução
O presente artigo tem como objetivo analisar a geodiversidade, os aspectos 
geomorfológicos e arqueológicos do município de Tucuruí/PA. A área de estudo 
localiza-se na bacia hidrográfica do Rio Tocantins-Araguaia, a qual apresenta 
uma grande área de captação, drenando uma área aproximadamente de 767.000 km². A 
bacia está totalmente inserida no país, sendo a maior bacia hidrográfica 
totalmente brasileira, localizada em diversas partes, integrando as regiões como 
Centro Oeste - parte do Planalto Central - (Goiás, Mato Grosso e Distrito 
Federal), a região Nordeste (Maranhão) e a região Norte nos Estados do Tocantins 
e Pará, sendo esta última região o principal objeto de análise. Tucuruí é um 
município localizado no sudeste paraense, onde foi fundado em 1779 e possui uma 
população de pouco mais de 115 mil habitantes (IBGE, 2021). Seu clima 
equatorial, quente e úmido, faz com que a variação anual da temperatura seja 
irrelevante variando de 24º a 26º C. O município é banhado pelo baixo rio 
Tocantins e conta com formas de rio de planalto e fortes correntezas vindas de 
Araguaia, mais ao sul, e de seu território até a foz do rio, já é mais fácil de 
identificá-lo correndo pelas planícies com águas mais calmas (Simões, et al.). O 
tipo de vegetação expõe a riqueza de espécies vegetais ao decorrer de seu 
território, com abundância de madeiras-de-lei, frutos silvestres comestíveis e 
especiarias comercializadas há séculos como baunilha e óleo de copaíba. No que 
diz respeito à fauna, a variedade se dá em: macacos, grandes roedores, e 
quelônios; assim como a ictiofauna é rica e proporciona uma cultura secular de 
pesca, seja para comércio, seja para subsistência. O termo geodiversidade foi 
empregado pela primeira vez na década de 1940 pelo geógrafo argentino Federico 
Alberto Daus com o intuito de diferenciar áreas da superfície terrestre, 
entretanto se popularizou em 1993 na Conferência de Malvern no Reino Unido. 
Desde então, vários autores vêm conceituando o termo e dando a ele sua própria 
interpretação, todavia, iremos nos remeter a apenas dois, que são as definições 
dadas pela Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais/Serviço Geológico do 
Brasil (CPRM/SGB) que define geodiversidade como: O estudo da natureza abiótica 
(meio físico) constituída por uma variedade de ambientes, composição, fenômenos 
e processos geológicos que dão origem às paisagens, rochas,minerais, águas, 
fósseis, solos, clima e outros depósitos superficiais que propiciam o 
desenvolvimento da vida na Terra, tendo como valores intrínsecos a cultura, o 
estético, o econômico, o científico, o educativo e o turístico; e a definição 
dada por Xavier da Silva e Carvalho Filho que explica geodiversidade através da 
variabilidade das características   ambientais de áreas geográficas, resultando 
na ideia de que: A biodiversidade está assentada sobre a geodiversidade e, por 
conseguinte, é dependente direta desta, pois as rochas, quando intemperizadas, 
juntamente com o relevo e o clima, contribuem para a formação dos solos, 
disponibilizando, assim, nutrientes e micronutrientes, os quais são absorvidos 
pelas plantas, sustentando e desenvolvendo a vida no planeta Terra. Em síntese, 
pode-se considerar que o conceito de geodiversidade abrange a porção abiótica do 
geossistema, o qual é constituído pelo tripé que envolve a análise integrada de 
fatores abióticos, bióticos e antrópicos (SILVA et al., 2008a, p. 12). Ademais, 
os documentos analisados mostraram a presença artefatos, biofatos e ecofatos 
resgatados nos sítios arqueológicos que remetem à tradição de comunidades que se 
utilizavam de materiais ceramistas, assim como é possível identificar os tipos 
de unidades geomorfológicas da região e o tipo pedologia da época, os solos que 
eram utilizados para a agricultura, a queima de resíduos, além das vegetações e 
demais características de subsistência.
Material e métodos
As metodologias utilizadas são diversas, onde foi realizada uma abordagem 
qualitativa, através do modo de pesquisa teórica empírica, baseada na coleta de 
dados secundários da realidade por meio de levantamento bibliográfico de artigos, 
livros, pesquisas documentais relacionadas com o tema,banco de dados com acesso 
livre ao público, assim como análises cartográficas da região, visando identificar 
os sítios arqueológicos ao longo do rio no que diz respeito ao território de 
Tucuruí. Para o processamento das imagens cartográficas foram utilizados os 
softwares Quantum GIS (QGIS), sendo este um sistema que permite a visualização, 
edição e análise de dados georreferenciados.
Resultado e discussão
PATRIMÔNIO GEOMORFOLÓGICO E GEOMORFOSSÍTIOS.
Geodiversidade e geopatrimônio são conceitos relativamente novos das áreas de 
geomorfologia e geologia e vieram ganhando cada vez mais força quando as ideias 
de preservação dos fatores bióticos e abióticos começaram a ganhar forma nas 
pesquisas acadêmicas e conferências de meio ambiente. A geodiversidade nos 
permite identificar melhor restrições e aplicabilidades em áreas com diversas 
finalidades, analisar o tipo de solo, de relevo e de rochas que constituem tal 
terreno. Tal aplicabilidade é muito útil e se faz presente em várias áreas de 
estudo, para nós, neste presente artigo, será para identificar a geomorfologia 
do município de Tucuruí e analisar em como elas se diferem. De modo geral, no 
estado Pará é possível destacar as seguintes paisagens geomorfológicas: 
planícies de inundação e terraços fluviais das várzeas amazônicas; tabuleiros e 
baixos platôs modelados em rochas sedimentares pouco litificadas; superfícies de 
aplainamento das áreas cratônicas; planaltos e serras modelados em coberturas 
plataformais ou litologias mais resistentes à erosão. Com base em estudos de 
sensoriamento remoto, perfis de campo e análises geomorfológicas, foi possível 
identificar 18 domínios geomorfológicos no estado do Pará, estando o município 
de Tucuruí incluso em apenas um, que é denominado de Depressão do Baixo 
Tocantins-Araguaia. Fazendo a análise geomorfológica de Tucuruí, se pôde 
concluir que há cinco unidades geomorfológicas compondo o território, são elas: 
depressão do Bacajá; patamar dissecado do Xingu-Pacajazinho; planícies e 
terraços fluviais; tabuleiros do Xingu-Tocantins; tabuleiros paraenses.
Como se pode observar no mapa abaixo:
Figura 3: Mapa geomorfológico do município de Tucuruí.
Segundo (RUBAN, 2010), que apresenta os conceitos de geoabundância e georiqueza, 
a perda desses fatores em um território está geralmente correlacionada com 
mudanças ocorridas por fatores externos e não naturais; esses termos se aplicam 
ao conceito de geomorfossítio, no qual se conceitua como: locais que constituem 
a base sobre a qual as atividades humanas se desenvolvem, por isso se tornam 
bastante vulneráveis aos impactos das ações antrópicas.
Além disso, estão estreitamente relacionados com as atividades culturais, 
recreativas e turísticas. Segundo Pereira (2006, p. 33), existem duas 
perspectivas no que se refere aos geomorfossítios, uma mais abrangente que 
afirma que esses locais de interesse geomorfológico são aqueles que valores 
podem ser atribuídos, sejam eles científico, ecológico, cultural, estético, 
econômico. Essa visão considera os aspectos pelos quais os geomorfossítios devem 
ser protegidos e divulgados. A outra perspectiva, de âmbito mais restrito, 
afirma que os geomorfossítios são formas com alto valor científico para o 
conhecimento da Terra, da vida e do clima. Esse ponto de vista enquadra-se 
principalmente em situações onde existe vulnerabilidade desses locais. 
Reforçando a definição acima, Panizza e Piacente (2008, p. 6) afirmam que: Um 
geomorfossítio é uma forma de relevo com atributos geomorfológicos significantes 
e particulares que o qualificam como um componente da herança cultural de um 
território (no sentido amplo). Os atributos que podem conferir valor a uma forma 
de relevo, tornando-o um bem geomorfológico de natureza científica, cultural, 
socioeconômica e cênica.  No que compete à parte legal do assunto, na Resolução 
Conama nº 001, de 1986, que criou e efetivou o Estudo de Impacto Ambiental (EIA) 
e o Relatório de Impacto Ambiental (RIMA),está presente um trecho, no Artigo 6 
da Resolução, que traz as atividades técnicas que o EIA desenvolverá e o 
diagnóstico ambiental da Área de Influência do projeto, considerando:
a) o meio físico - o subsolo, as águas, o ar e o clima, destacando os recursos 
minerais, a
topografia, os tipos e aptidões do solo, os corpos d'água, o regime hidrológico, 
as correntes
marinhas, as correntes atmosféricas;
b) o meio biológico e os ecossistemas naturais - a fauna e a flora, destacando 
as espécies
indicadoras da qualidade ambiental, de valor científico e econômico, raras e 
ameaçadas
de extinção e as áreas de preservação permanente;
c) o meio socioeconômico - o uso e ocupação do solo, os usos da água e a sócio-
-economia, destacando os sítios e monumentos arqueológicos, históricos e 
culturais da
comunidade, as relações de dependência entre a sociedade local, os recursos 
ambientais e a potencial utilização futura desses recursos.
Baseado no terceiro aspecto de análise das áreas de influência dos 
geomorfossítios, irá se fazer uma análise sobre os sítios arqueológicos de 
Tucuruí, suas influências, tipos e formação.
2. TUCURUÍ 
2.1. SÍTIOS ARQUEOLÓGICOS
Em 1976 uma pesquisa arqueológica sobre o baixo rio Tocantins teve início, 
resultando nos anos seguintes, o salvamento de sítios localizados na área de 
inundação da hidrelétrica de Tucuruí, segundo acordo entre o Museu Emílio Goeldi 
e a ELETRONORTE. O material oriundo desse salvamento rendeu outro trabalho 
(Araújo-Costa, 1983), localizando 37 sítios arqueológicos e identificando 3 
fases ceramistas pertencentes à tradição regional Itacaiúnas, são elas: Tauarí, 
Tucuruí e Tauá, de sul para norte. Nesta presente parte, nos limitaremos ao que 
compete o território de Tucuruí e seus sítios. No citado território, são 
encontrados vinte e um sítios arqueológicos, sendo eles vinte de habitação e um 
de oficina lítica; dos sítios de habitação: PA-BA-1, 4, 5, 6, 8, 9, 11, 16, 17, 
19, 21, 22, 23, 24, 25, 26, 27, 28, 29, 30. Dos sítios de oficina lítica: PA-BA-
10. No que diz respeito aos padrões de assentamentos, é possível ver que eles 
seguem um padrão de 7 a 85m de altura acima do nível do rio, fazendo com que 
seus sítios não sejam comumente alagados, sendo em áreas de mata secundária e à 
margem do rio, entretanto apenas 6 dos 21 sítios encontrados têm condições para 
serem escavados e estudados, os outros 15 estão em estágios avançados de erosão, 
destruídos ou perturbados; acerca do complexo lítico, são encontrados artefatos 
lascados como: facas, batedores, furadores, mão-de-pilão e raspadores e 
artefatos polidos, com técnica artesanal mais refinada como lâminas de machados. 
A amostragem contou 25.519 fragmentos, sendo menos de 12% decorados, pintados 
(Simões, et al. 1987). A cerâmica encontrada nos sítios arqueológicos apresenta 
algumas características tradicionais do grupo Tupi-guarani, sendo também 
resquícios de culturas miscigenadas de diversas regiões do Brasil, entre suas 
características destaca se a cerâmica temperada com areia fina e/ou grossa, 
caraipés (cinzas de árvores ricas em sílica), manufaturas de grandes e médios 
vasos com técnica acordelada com bons acabamentos superficiais e decorações com 
engobo, banho vermelho, pintura policroma, inciso, modelado e inclassificado 
decorado. Em 1987, Mário F. Simões e Fernanda de Araújo-Costa fizeram esses 
levantamentos em campo e identificaram 6 tipos diferentes de cerâmicas nos 
sítios arqueológicos da chamada por eles fase Tucuruí, são eles: 1-Tucuruí 
simples, 2-Tucuruí vermelho, 3-Tucuruí pintado, 4-Tucuruí inciso, 5-Tucuruí 
modelado, e 6-Pitinga simples. A morfologia dos vasos se dá em: globulares com 
bordas diretas inclinadas internamente; vasos globulares, bordas contraídas; 
vasos globulares com pescoço constrito e bordas diretas ligeiramente 
extrovertidas; tigelas em meia-calota, com lados inclinados internamente e 
carenadas; tigelas semiesféricas com lados inclinados externamente; idem, com 
bordas vazadas; e pratos planos ou assadores; a datação feita com carbono 14 
indica A.D 1000 +/- 70.

Demonstração das unidades geomorfológicas da área de estudo.

Localização dos sítios arqueológicos das três fases arqueológicas.

Variação dos tamanhos e tipos de cerÂmica da fase Tucuruí.
Considerações Finais
Apesar de não ser o objeto principal de análise do presente artigo, é de suma 
importância que não só geógrafos, geólogos ou outros pesquisadores da área 
conheçam a geodiversidade e o geopatrimônio que se tem em abundância no território 
brasileiro e amazônico; apresentar o tema para quem é de fora da área, mesmo que 
apenas introdutoriamente se faz importante e benéfico. As análises nas áreas 
estudadas demonstram a presença de importantes vestígios das civilizações que 
ocuparam a região em uma época bastante remota, e que podem ser úteis para traçar 
um perfil de quem eram as pessoas pertencentes a essas civilizações. A presença de 
grandes projetos, no entanto, ameaça  esses preciosos registros arqueológicos e as 
pesquisas de salvamento, então, se mostram essenciais para a preservação desses 
vestígios de nossos ancestrais, bem como para tornar possível um melhor estudo 
deles pela comunidade acadêmica, o incentivo à preservação pelo Estado direcionado 
ao povos que residem no entorno e a melhor aplicação das leis ambientais para 
defesa desses geossítios a fim de minimizar a erosão e o desgaste de um solo que 
já sofreu no passado tanto com a ação antrópica quanto com desgastes naturais, 
esse último menos acentuado, claro. Um melhor cuidado com essas áreas, resulta 
numa possibilidade de maior estudo, e sucessivamente a isso, uma melhor noção do 
passado amazônico.
Agradecimentos
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